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Fundos alertam que carteira 60/40 já não funciona para retornos atrativos
Com a queda dos retornos dos títulos de dívida, o modelo de portfólio 60/40 pode gerar retornos reais - após a inflação - de apenas 1% a 2% ao ano na próxima década, disse Lim Chow Kiat, diretor do GIC.
Dois dos maiores fundos soberanos do mundo dizem que os investidores devem esperar retornos muito menores no futuro, em parte porque a típica carteira com 60% em ações e 40% em títulos de dívida já não funciona tão bem no cenário atual de juros.
O GIC, de Singapura, e o Future Fund, da Austrália, disseram que os investidores globais têm contado há décadas com o mercado de títulos para elevar os retornos enquanto protegem o portfólio contra os riscos do mercado acionista. Esses dias acabaram com os rendimentos das obrigações em alta.
"Em retrospectiva, os títulos foram esse presente", com um rally de 40 anos que impulsionou todas as carteiras, disse Sue Brake, diretora de investimentos do Future Fund, com 218,3 mil milhões de dólares australianos (168,4 mil milhões de dólares). "Mas acabou", acrescentou, "substituir isso é impossível, não acho que haja uma classe de ativos que possa servir de substituto".
Com a queda dos retornos dos títulos, o modelo de portfólio 60/40 pode gerar retornos reais - após a inflação - de apenas 1% a 2% ao ano na próxima década, disse Lim Chow Kiat, diretor do GIC. O que compara com ganhos de 6% a 8% nos últimos 30 a 40 anos, afirmou.
"Não é particularmente emocionante", disse Lim durante conferência da Associação de Gestão de Investimentos de Singapura organizada pela Bloomberg na terça-feira.
Brake, do Future Fund, disse que fundos como o que gere terão de trabalhar mais para diversificar os seus portfólios em busca de retornos. Citou seis maneiras pelas quais os mercados mudaram com a pandemia, incluindo maior intervenção regulatória, maiores riscos de inflação, fatores adicionais de desempenho e mercados mais "frágeis".
Os fundos têm alertado por mais de uma década sobre os retornos decrescentes, disse Brake, mas os ganhos continuaram. No entanto, os investidores devem esperar retornos mais baixos daqui para a frente, disse a gestora. Títulos de dívida globais acumulam uma valorização de 382% desde 1991, ou cerca de 5,4% ao ano, com base no índice Bloomberg Barclays Global Aggregate.
"Estamos a repetir a mesma mensagem de que, daqui em diante, os retornos serão muito mais difíceis", disse Brake, cujo fundo registou um retorno de 9,2% ao ano na última década.
O fundo soberano da Noruega, com 1,3 biliões de dólares em ativos, já fez a mudança, obtendo aprovação para ajustar o seu mix de ações e títulos de dívida para 70/30 em 2017. No final do ano passado, detinha cerca de 73% em ações e 25% em títulos.
Lim, do GIC, também alertou sobre o excesso de estímulos dos governos e o efeito sobre a inflação.
"Como investidor de longo prazo, temos algumas preocupações sobre o recurso a estímulos", disse. Lim acrescentou que o fundo prefere "capital e dinheiro destinados ao crescimento de longo prazo, fatores estruturais de longo prazo, em vez de usar dinheiro para gastar".