Notícia
Turquia abre as portas aos investidores
A economia da nação, estrategicamente localizada entre a Europa, a Ásia e o Médio Oriente, está a florir. Mas a bolsa de Istambul ainda não alcançou o optimismo.
20 de Julho de 2011 às 07:00
Apenas lhe faltava estabilidade política e conforto macroeconómico para a Turquia ser uma das melhores candidatas ao dinheiro dos investidores bolsistas de todo o mundo, dizia, em 2005, Jim O'Neill, que, na altura, era director dos estudos económicos do banco Goldman Sachs. Quatro anos depois de lançar o conceito dos BRIC - sigla para "Brasil, Rússia, Índia e China", as economias com maior potencial -, o economista inglês defendia um novo grupo: o Next-11. Essas 11 nações eram as melhores candidatas, juntamente com os BRIC, para serem as maiores economias no século XXI. A Turquia estava na lista.
A confirmação da estabilidade política foi confirmada no dia 12 de Junho: o partido de centro-direita, liderado por Recep Tayyip Erdoðan, voltou a vencer as eleições, alargando o seu reinado de oito anos como primeiro-ministro. Durante esse período, o produto interno bruto mais do que duplicou. As exportações, que quase triplicaram, foram o principal catalisador. O Fundo Monetário Internacional estima que o produto aumentou 8,9% em 2010 e que, nos próximos cinco anos, o rendimento per capita crescerá 25% nesta nação de 80 milhões de pessoas, a esmagadora maioria muçulmana.
Como se recupera de uma crise
O receios de Jim O'Neill, actual presidente da Goldman Sachs Asset Management, não era despropositados em 2005. Em 2001, a Turquia recorreu a um empréstimo do FMI para contrariar uma crise financeira: excesso de dívida, inflação nos 50% e múltiplos bancos à beira da falência. "O governo do partido AKP multiplicou as reformas estruturais e institucionais - processo de liberalização dos mercados, realização de privatizações (especialmente a partir de 2005), modernização da Administração Pública -, o que contribuiu para uma forte retoma da economia, tendo como consequência a abertura da mesma em termos internacionais", indica o último relatório sobre o país da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, publicado em Fevereiro.
Mesmo depois da recuperação da crise, nem tudo são rosas: a taxa de desemprego ainda é superior a 10%, especialmente na Anatólia, a região asiática da Turquia, e há o risco de sobreaquecimento, tal como sucede na China. A principal ameaça é a de se esgotar o fluxo de investimento estrangeiro no país, em resultado da crise que a maioria do resto do mundo vive agora.
Embora tenha um desempenho invejável de longo prazo (acima dos 10% por ano), a bolsa turca não está em alta. O Lyxor ETF DJ Turkey Titans 20, um fundo cotado em Amesterdão que investe nas 20 maiores firmas turcas, perdeu 17% na primeira metade de 2011. Mais do que a evolução económica, muitos investidores receiam que a estabilidade política vá longe de mais na direcção do totalitarismo, aproveitando uma potencial revisão constitucional. "É, definitivamente, um processo duro, porque uma das áreas de maior discussão será os direitos humanos, incluindo os cidadãos curdos e as minorias, bem como a mudança do sistema político de parlamentar para presidencial", explica o analista Ozlem Derici do Erst Bank no seu relatório de Junho.
Aterrar em Istambul com a ajuda das multinacionais
Embora a bolsa de Istambul valha seis vezes a de Lisboa, investir na Turquia não é fácil através dos intermediários financeiros lusos.
Os pequenos investidores não têm como aceder ao mercado de Istambul a não ser pela via das companhias turcas que estão cotadas noutras praças.
A Turkcell, a maior operadora de telecomunicações móveis da Turquia, é das poucas em que o número de títulos negociados diariamente fora do seu país ultrapassa as centenas de milhar.
A firma está listada em Nova Iorque. Face à fraca oferta de acções de sociedades turcas, os investidores portugueses que pretendam alcançar uma exposição à economia da Turquia devem estudar as empresas multinacionais com uma forte presença nessa república. Apesar de muitas sociedades estarem presentes no país, incluindo a Sonae que estreou uma loja Zippy em Istambul em Junho, as apostas devem concentrar-se nas companhias que conseguem extrair uma importante fatia das receitas no local. Analise estas seis ideias de empresas que já vingaram na Turquia. A informação financeira, fornecida pela Bloomberg, era válida no final de Junho.
BNP Paribas
Bolsa: Paris
Preço/lucros: 8,12x
Taxa de dividendos: 4,00%
Desde 1920 que o grupo BNP Paribas está na actual Turquia. O negócio, que se iniciou com o Banco Otomano, está hoje centrado no Türk Ekonomi Bankasý. Após a absorção do Fortis Bank Belgium, o BNP decidiu fundir todas as operações turcas no TEB, o que se concretizou em Fevereiro. Agora, este grupo turco é o nono no sector financeiro turco graças aos seus 1,8 milhões de clientes.
Citigroup
Bolsa: Nova Iorque
Preço/lucros: 13,39x
Taxa de dividendos: 0,02%
Desde 1946 que o Citigroup financia a economia turca. Embora tenha iniciado a actividade no país através de empréstimos para a construção de estradas, barragens e fábricas, hoje o grupo norte-americano está enraizado na Turquia. Além do negócio de retalho que abriu as portas em 1996, o Citigroup adquiriu uma participação de 20% no capital do Akbank, o maior grupo financeiro turco e a companhia cotada em Istambul com maior valor bolsista.
Ford Motor
Bolsa: Nova Iorque
Preço/lucros: 6,68x
Taxa de dividendos: não aplicável
Para vingar no mercado turco, a Ford Motor juntou-se ao Koç Holding, um conglomerado industrial controlado por uma das famílias mais ricas da Turquia. Nas suas duas fábricas, em Kocaeli e Inonu, a Ford Otomotiv produz furgões Ford Transit e Transit Connect, bem como o pesado Ford Cargo. Este grupo, que factura cerca de quatro mil milhões de euros por ano, é o terceiro maior exportador e o líder na distribuição automóvel na república turca.
General Electric
Bolsa: Nova Iorque
Preço/lucros: 14,85x
Taxa de dividendos: 2,96%
O Koç Holding, o mesmo conglomerado familiar turco que se juntou à Ford, é também o parceiro no primeiro investimento industrial de uma companhia estrangeira no país. Foi a General Electric que fez essa aposta em 1948, quando montou uma fábrica de lâmpadas. Desde então o grupo americano continua a investir, embora o seu parceiro preferencial seja agora o Doðuþ Group: um canal de televisão, um banco e uma imobiliária. Além disso, os vários tentáculos da GE espalham-se pela nação, com especial relevo nos investimentos feitos no ramo da aeronáutica.
Siemens
Bolsa: Frankfurt
Preço/lucros: 14,07x
Taxa de dividendos: 2,87%
A alemã Siemens é uma das empresas mais responsáveis pelo desenvolvimento actual da Turquia. Foi a sua antecessora que implementou a primeira rede de telégrafo no antigo Império Otomano em meados do século XIX. No final desse século, o grupo avançou para as primeiras linhas telefónicas. Em 1914 criou a rede eléctrica de Istambul. Desde então a presença da Siemens no país tornou-se permanente, usando os seus recursos nacionais para exportar para o Médio e o Extremo Oriente.
Vodafone
Bolsa: Frankfurt
Preço/lucros: 10,81x
Taxa de dividendos: 6,04%
A Vodafone, a maior companhia mundial de telecomunicações móveis, conta com a Turquia para continuar a crescer. São 16,8 milhões de clientes que o grupo britânico tem no país, segundo as estatísticas do final do primeiro trimestre do ano. "A Turquia registou um significativo aumento das receitas neste ano" que terminou em Março, lê-se no relatório da multinacional. Os administradores explicam que a facturação no país aumentou 28,9%, apesar do corte de 52% nas taxas de terminação efectuado no ano passado. A Vodafone entrou na Turquia em 2006 com a aquisição da Telsim.
A confirmação da estabilidade política foi confirmada no dia 12 de Junho: o partido de centro-direita, liderado por Recep Tayyip Erdoðan, voltou a vencer as eleições, alargando o seu reinado de oito anos como primeiro-ministro. Durante esse período, o produto interno bruto mais do que duplicou. As exportações, que quase triplicaram, foram o principal catalisador. O Fundo Monetário Internacional estima que o produto aumentou 8,9% em 2010 e que, nos próximos cinco anos, o rendimento per capita crescerá 25% nesta nação de 80 milhões de pessoas, a esmagadora maioria muçulmana.
Europa emergente chega à Turquia
Os gestores de acções do leste europeu estão a esticar os seus conhecimentos à nação de Atatürk. Claude Guillaume, gestor de activos do BNP Paribas há cerca de três décadas, já estava há dois anos ao leve do fundo Parvest Equity Europe Converging, que investe em acções da Europa emergente, quando foi nomeado líder do Parvest Equity Turkey, especializado na bolsa de Istambul. Pouco depois, o BNP Paribas L1 Equity Turkey também entrou na sua carteira de fundos sob gestão. A aproximação da Turquia à Europa - desde a vontade de aderir à União Europeia até às estatísticas de comércio bilateral - está a conduzir os especialistas a gerir os seus activos aí como europeus, apesar de 97% do território da nação fundada por Mustafa Kemal Atatürk estar na Ásia. Em alguns casos (como no Parvest Equity Europe Converging), as acções da Turquia são elegíveis para povoar cabazes exclusivamente europeus.
Há apenas três fundos de acções turcas disponíveis aos pequenos investidores portugueses. O mais antigo, o BNP Paribas L1 Equity Turkey, agora gerido por Claude Guillaume, rendeu 7,46% por cada um dos últimos cinco anos. Todavia, os ganhos não foram lineares: depois de uma desvalorização de 63,77% em 2008, os activos capitalizaram 100,84% em 2009, por exemplo. Quem quiser investir na Turquia através do mercado accionista tem de saber que os altos e baixos são um realidade constante.
Há apenas três fundos de acções turcas disponíveis aos pequenos investidores portugueses. O mais antigo, o BNP Paribas L1 Equity Turkey, agora gerido por Claude Guillaume, rendeu 7,46% por cada um dos últimos cinco anos. Todavia, os ganhos não foram lineares: depois de uma desvalorização de 63,77% em 2008, os activos capitalizaram 100,84% em 2009, por exemplo. Quem quiser investir na Turquia através do mercado accionista tem de saber que os altos e baixos são um realidade constante.
O receios de Jim O'Neill, actual presidente da Goldman Sachs Asset Management, não era despropositados em 2005. Em 2001, a Turquia recorreu a um empréstimo do FMI para contrariar uma crise financeira: excesso de dívida, inflação nos 50% e múltiplos bancos à beira da falência. "O governo do partido AKP multiplicou as reformas estruturais e institucionais - processo de liberalização dos mercados, realização de privatizações (especialmente a partir de 2005), modernização da Administração Pública -, o que contribuiu para uma forte retoma da economia, tendo como consequência a abertura da mesma em termos internacionais", indica o último relatório sobre o país da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, publicado em Fevereiro.
Mesmo depois da recuperação da crise, nem tudo são rosas: a taxa de desemprego ainda é superior a 10%, especialmente na Anatólia, a região asiática da Turquia, e há o risco de sobreaquecimento, tal como sucede na China. A principal ameaça é a de se esgotar o fluxo de investimento estrangeiro no país, em resultado da crise que a maioria do resto do mundo vive agora.
Embora tenha um desempenho invejável de longo prazo (acima dos 10% por ano), a bolsa turca não está em alta. O Lyxor ETF DJ Turkey Titans 20, um fundo cotado em Amesterdão que investe nas 20 maiores firmas turcas, perdeu 17% na primeira metade de 2011. Mais do que a evolução económica, muitos investidores receiam que a estabilidade política vá longe de mais na direcção do totalitarismo, aproveitando uma potencial revisão constitucional. "É, definitivamente, um processo duro, porque uma das áreas de maior discussão será os direitos humanos, incluindo os cidadãos curdos e as minorias, bem como a mudança do sistema político de parlamentar para presidencial", explica o analista Ozlem Derici do Erst Bank no seu relatório de Junho.
Aterrar em Istambul com a ajuda das multinacionais
Embora a bolsa de Istambul valha seis vezes a de Lisboa, investir na Turquia não é fácil através dos intermediários financeiros lusos.
Os pequenos investidores não têm como aceder ao mercado de Istambul a não ser pela via das companhias turcas que estão cotadas noutras praças.
A Turkcell, a maior operadora de telecomunicações móveis da Turquia, é das poucas em que o número de títulos negociados diariamente fora do seu país ultrapassa as centenas de milhar.
A firma está listada em Nova Iorque. Face à fraca oferta de acções de sociedades turcas, os investidores portugueses que pretendam alcançar uma exposição à economia da Turquia devem estudar as empresas multinacionais com uma forte presença nessa república. Apesar de muitas sociedades estarem presentes no país, incluindo a Sonae que estreou uma loja Zippy em Istambul em Junho, as apostas devem concentrar-se nas companhias que conseguem extrair uma importante fatia das receitas no local. Analise estas seis ideias de empresas que já vingaram na Turquia. A informação financeira, fornecida pela Bloomberg, era válida no final de Junho.
BNP Paribas
Bolsa: Paris
Preço/lucros: 8,12x
Taxa de dividendos: 4,00%
Desde 1920 que o grupo BNP Paribas está na actual Turquia. O negócio, que se iniciou com o Banco Otomano, está hoje centrado no Türk Ekonomi Bankasý. Após a absorção do Fortis Bank Belgium, o BNP decidiu fundir todas as operações turcas no TEB, o que se concretizou em Fevereiro. Agora, este grupo turco é o nono no sector financeiro turco graças aos seus 1,8 milhões de clientes.
Citigroup
Bolsa: Nova Iorque
Preço/lucros: 13,39x
Taxa de dividendos: 0,02%
Desde 1946 que o Citigroup financia a economia turca. Embora tenha iniciado a actividade no país através de empréstimos para a construção de estradas, barragens e fábricas, hoje o grupo norte-americano está enraizado na Turquia. Além do negócio de retalho que abriu as portas em 1996, o Citigroup adquiriu uma participação de 20% no capital do Akbank, o maior grupo financeiro turco e a companhia cotada em Istambul com maior valor bolsista.
Ford Motor
Bolsa: Nova Iorque
Preço/lucros: 6,68x
Taxa de dividendos: não aplicável
Para vingar no mercado turco, a Ford Motor juntou-se ao Koç Holding, um conglomerado industrial controlado por uma das famílias mais ricas da Turquia. Nas suas duas fábricas, em Kocaeli e Inonu, a Ford Otomotiv produz furgões Ford Transit e Transit Connect, bem como o pesado Ford Cargo. Este grupo, que factura cerca de quatro mil milhões de euros por ano, é o terceiro maior exportador e o líder na distribuição automóvel na república turca.
General Electric
Bolsa: Nova Iorque
Preço/lucros: 14,85x
Taxa de dividendos: 2,96%
O Koç Holding, o mesmo conglomerado familiar turco que se juntou à Ford, é também o parceiro no primeiro investimento industrial de uma companhia estrangeira no país. Foi a General Electric que fez essa aposta em 1948, quando montou uma fábrica de lâmpadas. Desde então o grupo americano continua a investir, embora o seu parceiro preferencial seja agora o Doðuþ Group: um canal de televisão, um banco e uma imobiliária. Além disso, os vários tentáculos da GE espalham-se pela nação, com especial relevo nos investimentos feitos no ramo da aeronáutica.
Siemens
Bolsa: Frankfurt
Preço/lucros: 14,07x
Taxa de dividendos: 2,87%
A alemã Siemens é uma das empresas mais responsáveis pelo desenvolvimento actual da Turquia. Foi a sua antecessora que implementou a primeira rede de telégrafo no antigo Império Otomano em meados do século XIX. No final desse século, o grupo avançou para as primeiras linhas telefónicas. Em 1914 criou a rede eléctrica de Istambul. Desde então a presença da Siemens no país tornou-se permanente, usando os seus recursos nacionais para exportar para o Médio e o Extremo Oriente.
Vodafone
Bolsa: Frankfurt
Preço/lucros: 10,81x
Taxa de dividendos: 6,04%
A Vodafone, a maior companhia mundial de telecomunicações móveis, conta com a Turquia para continuar a crescer. São 16,8 milhões de clientes que o grupo britânico tem no país, segundo as estatísticas do final do primeiro trimestre do ano. "A Turquia registou um significativo aumento das receitas neste ano" que terminou em Março, lê-se no relatório da multinacional. Os administradores explicam que a facturação no país aumentou 28,9%, apesar do corte de 52% nas taxas de terminação efectuado no ano passado. A Vodafone entrou na Turquia em 2006 com a aquisição da Telsim.