Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Pressão dos bancos centrais empurra obrigações para "bear market". É a primeira vez em 20 anos

O mercado obrigacionista mundial tombou 20% desde o pico verificado em 2021. A política mais restritiva das autoridades monetárias significou o fim de quatro décadas em "bull market".

02 de Setembro de 2022 às 12:22
  • ...

O mercado obrigacionista mundial entrou esta sexta-feira em "bear market", depois de ter registado um tombo de 20% desde o pico verificado em 2021 - o maior desde a sua origem em 1990. A queda foi registada no índice Global Aggregate Total Return da Bloomberg.

A acelerar esta queda têm estado constantes discursos de membros das autoridades monetárias por todo o mundo, que reforçam a cada dia a necessidade de continuar a subir as taxas de juro como forma de controlar a inflação galopante em todo o mundo, na sequência da guerra na Ucrânia.

Um dos momentos que mais pressionou as dívidas soberanas negociadas no mercado primário foi o discurso de Jerome Powell, há precisamente uma semana, na passada sexta-feira. O presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed) reiterou a intenção de manter uma política monetária restritiva "por algum tempo" mesmo que esta represente "alguma dor" para famílias e empresas.

Do lado de cá do Oceano Atlântico, dias depois de Powell, Isabel Schnabel, membro do conselho executivo do Banco Central Europeu (BCE), referia a necessidade de manter o aumento das taxas diretoras, porque "o abrandamento do crescimento da economia", no caso de uma recessão - que Schnabel diz não estar fora da mesa -, "
provavelmente não é suficiente para abrandar a inflação".

Perante estes discursos mais duros, os analistas têm cada vez menos dúvidas de uma maior subida das taxas de juro nas reuniões de setembro. Os novos sinais dados pelos bancos centrais seguem-se a uma onda de subidas de juros por todo o mundo que vem desde o ano passado e que levou o mercado obrigacionista a encerrar assim quatro décadas de "bull market", num ambiente de investimento altamente volátil e incerto.

A elevada inflação por todo o mundo, bem longe do mandato, tanto da Fed, como do BCE, de colocar a taxa nos 2% significa também o fim dos estímulos que durante muitos anos empurraram os juros das dívidas soberanas abaixo de 1%.

A Europa tem sido uma das regiões mais afetadas pela crise energética, resultante da invasão russa da Ucrânia e consequentes sanções aplicadas pela União Europeia. Já a China tem optado pela estratégia oposta, de diminuir as taxas de juro, como forma de estimular a segunda maior economia mundial.

Esta realidade, tal como referia Powell no seu discurso em Jackson Hole, tem algumas semelhanças com o que aconteceu em 1960, época em que a baixa inflação e desemprego chegaram ao fim. Durante o mandato do então presidente da Fed, Paul Volcker, as taxas de juro aumentaram 20%, e as "yields" das obrigações do Tesouro subiram 16%.

O presidente da Fed afirmou, numa referência a este período, que "a história adverte fortemente contra o alívio prematuro da política monetária acomodatícia" e que por isso ela deverá continuar.

Ver comentários
Saber mais Bloomberg Global Aggregate Total Return Index Ucrânia Fed Jerome Powell Isabel Schnabel BCE economia negócios e finanças macroeconomia economia (geral) mercado de dívida instituições económicas internacionais banco central mercado financeiro
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio