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Maioria dos fundos portugueses protegida contra crises de liquidez, revela CMVM

O teste de esforço da CMVM revela que 89% dos fundos de investimento não necessita de alienar títulos menos líquidos face à pressão de cenários anormais de resgates.

Pedro Ferreira
15 de Dezembro de 2022 às 17:30
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A maioria dos fundos de investimento são resistentes a cenários adversos com anormais números de resgates, revelam os resultados de um teste de esforço à liquidez presente no Risk Outlook 2023, divulgado esta quinta-feira pela CMVM.

Num cenário extremamente adverso de resgates, apenas 11% dos fundos de investimento em Portugal poderão ter a necessidade do recurso de alienação de títulos menos líquidos.

"Os resultados obtidos sugerem que, mesmo no cenário mais adverso, apenas 11% dos fundos poderão necessitar do recurso à alienação de títulos menos líquidos, com potenciais perdas associadas a operações de venda com desconto", indica o comunicado que acompanha o relatório do supervisor financeiro.

Assim este teste, a generalidade dos fundos de investimento analisados (89%) "não necessitaria de realizar operações dessa natureza", dispondo de ativos líquidos suficientes para fazer face a volumes anormais de resgates nos cenários adversos que foram considerados neste teste.

O exercício da CMVM contemplou três cenários distintos. Um primeiro cenário base, depois outro que simula o mês após o colapso do Lehman Brothers durante a crise financeira de 2008 e um terceiro cenário que remete à pandemia, "um período marcado por um volume anormalmente elevado de resgates na sequência da propagação da covid-19", explica o regulador liderado por Luís Laginha de Sousa.

De fora do universo de fundos que participaram neste exercício ficaram os fundos de investimento "cuja soma dos montantes afetos a rubricas de liquidez, obrigações com notação 'investment grade' e ações exceda 50% do valor líquido do fundo", assim como os fundos do mercado monetário.

O exercício da CMVM responde assim ao alerta dado pelo FMI em outubro, que manifestou preocupação sobre o potencial impacto negativo no mercado, no caso de uma fuga de investidores de fundos de investimento com pouca liquidez que obrigue a vendas de ativos à pressão.

No relatório de estabilidade financeira, o FMI recomendou assim aos supervisores que acompanhem de perto as ferramentas de liquidez do setor.

Desde a crise financeira, os fundos abertos têm tido um crescimento "notável", tendo fechado o primeiro trimestre de 2022 com 41 biliões de dólares em ativos sob gestão, o que significa que quadruplicaram de montante face a 2008, segundo os dados do FMI. Cerca de um quinto destes ativos estão fora do setor financeiro tradicional.

Segundo os dados da CMVM expressos no "outlook", este ano verificou-se um aumento nos resgates, o que para o regulador "pode estar associado à procura de alternativas de investimento com menor risco, uma tendência que poderá prolongar-se por 2023".

Das cripto aos ataques informáticos: os cinco riscos que a CMVM identifica
No relatório, o supervisor enumera os riscos que podem afetar o mercado no próximo ano, distinguido entre o risco de mercado, o de liquidez, de crédito, de conduta e os riscos operacionais.

Quanto ao risco de mercado, classificado como muito elevado, e apesar das quedas significativas de cotações registadas após o início da guerra na Ucrânia, "persistem sinais de sobrevalorização nos mercados acionistas, incluindo em Portugal, dada a atual conjuntura e as perspetivas de deterioração do crescimento económico", alerta a CMVM.

Já o risco de liquidez promete "ser contido no mercado acionista para 2023", considera o regulador.

No mercado de dívida, a CMVM alerta para a graduação crescente do risco de crédito, "dado o agravamento generalizado das condições de financiamento num contexto de aumento das taxas de juro, designadamente por parte dos bancos centrais para conter a subida da inflação".

Ainda assim, em Portugal, o supervisor considera que "a atual estrutura de financiamento dos emitentes privados, bem como as recentes revisões em alta das notações de crédito da República, contribuem para que o risco de crédito no mercado nacional não seja classificado como muito elevado".

Nos riscos de conduta para o próximo ano presentes no "outlook" destacam-se os criptoativos. A CMVM reitera que "a oferta de serviços e produtos fora do perímetro da regulação e da supervisão expõe esses mercados e os seus participantes a riscos significativos".

Além disso, o regulador volta a debruçar-se sobre "a falta de transparência quanto às estratégias delineadas, aos modelos de negócio e ao grau de risco e liquidez dos ativos" assim como o "marketing agressivo", presente neste mercado.

Por fim, no que toca aos potenciais riscos operacionais do próximo ano, os ataques informáticos são a cabeça de cartaz. Para a CMVM "é expectável que ao longo do próximo ano permaneça o risco elevado e com tendência ascendente".
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