Notícia
"Não estamos preparados, porque ninguém está preparado" para a IA, diz Hélder Rosalino
O administrador do Banco de Portugal defende que a falta de preparação se deve também à falta de regulação, que foi preenchida com a aprovação na semana passada pelo Parlamento Europeu. Da banca para os seguros, a ASF está a estudar os cuidados a ter com a aplicação da IA no setor dos seguros.
A inteligência artificial (IA) invadiu o setor financeiro "há décadas", mas ainda assim a supervisão não está preparada, até porque ninguém o está, sobretudo porque até há bem pouco tempo, esta tema não era regulado no âmbito da União Europeia (UE), considerou o administrador do Banco de Portugal Hélder Rosalino, durante uma conferência promovida pela Abreu Advogados sobre esta nova tecnologia.
"Não estamos preparados, porque ninguém está preparado para esta realidade", afirmou Hélder Rosalino.
"Não temos pessoas muito preparadas", acrecentou o administrador do BdP, que salientou, no entanto, que esta lacuna ocorreu durante um tempo em que "também não havia legislação", uma ausência que foi preenchida pela aprovação do primeiro regulamento sobre IA pelo Parlamento Europeu na semana passada.
Em termos dos "players" do setor, Hélder Rosalino frisou que para o universo bancário, "a capacidade de usar estas ferramentas é assumida numa lógica de quase sobrevivência", sobretudo porque "os bancos estão a competir fortemente com outros bancos e com outras entidades, como as fintech", acrescentou Hélder Rosalino.
Ainda assim, o administrador do Banco de Portugal recordou que "a IA no setor financeiro não é uma novidade, sobretudo no setor bancário". "Já tem décadas, tem havido uma progressiva implementação tecnológicas", acrescentou.
Desde então, "há uma melhoria clara nos processos internos e as instituições de crédito estão também a investir em melhorias de processos de decisão", considerou Hélder Rosalino.
Além da banca, a inteligência artificial coloca desafios à supervisão das seguradoras, em concreto devido aos viés que podem ser gerados pelos algoritmos, o que pode, por exemplo, gerar situações de discriminação entre segurados. Assim, a ASF - Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões está a trabalhar de forma a entender como superar estes desafios.
"Estamos a trabalhar com a Nova IMS [Information Management School] para tentar encontrar mecanismos para pensar em caminhos a seguir", revelou o administrador da ASF, Diogo Alarcão.
"É um caminho que começamos agora, que vamos ver com o mercado e com as empresas de seguros para ver quais os desafios e quais as dificuldades", acrescentou Diogo Alarcão, tendo acrescentado que o supervisor quer entender como lidar com a aplicação em várias vertentes do negócio do seguros, como a "capacidade" e a "modelização", um método computacional essencial para determinar quanto se paga e quem paga pelas suas coberturas.
Entre os potenciais riscos que podem afetar o setor com a utilização da IA, Diogo Alarcão destacou "o enviesamento da informação", algo que "é importante na área dos seguros, porque pode criar problemas éticos" e outros de natureza jurídica, "em termos de direito ao esquecimento".
A decisão da ASF surge numa altura em que as novas tecnologias invadem o setor dos seguros. "Num inquérito realizado o ano passado, 50% dos operadores dizem estar a usar ‘big data tools’, ou em fase de implementação" deste tipo de ferramentas", frisou o administrador da ASF. Estas ferramentas de gestão de dados estão sobretudo ser utilizados nos segmentos de sinistros e vendas.
Ora este número "é interessante", sobretudo quando comparado com o passado, considera Diogo Alarcão.
Dos seguros para o mercado de capitais, também a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) também está a trabalhar neste tema, constando dos seus objetivos para este ano a utilização de IA na supervisão.
Para já, o regulador liderado por Luís Laginha de Sousa está a trabalhar "num projeto financiado pela Comissão Europeia, o Suptech". Além disso, a CMVM trouxe a Lisboa os supervisores europeus para a banca e para o mercado de capitais, a EBA e a ESMA, tendo conhecido vários casos de uso da IA no âmbito da regulação, conforme revelou a vice-presidente da CMVM, Inês Drumond.
Um dos casos apontados pela número dois do regulador, foi a utlização da IA "para lidar por exemplo com questões de publicidade" financeira.
(Notícia atualizada às 12:00 horas)