Notícia
As últimas horas antes da queda da FTX envolveram uma relação falhada e guerra entre duas fações
Uma série de relatos e mensagens sobre os derradeiros momentos antes de o grupo ter pedido proteção contra credores e Sam Bankman-Fried ter abandonado o cargo de CEO foram agora revelados pelo Financial Times.
"Foram as 24 horas mais loucas e agitadas da minha vida. Senti que minha visão de mundo estava desmoronar-se. A FTX não era apenas um trabalho para mim e para outras pessoas, a FTX era a minha vida".
Este relato sobre os derradeiros momentos do colapso da plataforma cripto foi contado ao Financial Times (FT), que recolheu uma série de relatos e mensagens sobre as últimas horas antes da queda de Sam Bankman-Fried.
As últimas horas do colapso da FTX foram marcadas sobretudo pelo silêncio e o gelo de Sam Bankman-Fried, mesmo em relação à sua alegada ex-namorada, Caroline Ellison, CEO do Alameda Research, o braço de investimento do guropo que esteve no epicentro do "crash".
O comportamento de Bankman-Fried só mudou radicalmente, quando sentiu a necessidade de falar com o novo CEO da companhia, John Ray III após ter sido entregue o pedido de proteção contra credores no tribunal de Delaware, nos EUA.
"Sr. Ray, eu sei que as coisas não começaram de melhor forma, mas quero ser útil. Como já deve saber vou estar em Nova Iorque. Adoraria encontrar-me consigo, mesmo que fosse apenas para dizer 'olá'", pode ler-se num dos muitos emails enviados por Sam Bankman-Fried e citados pelo diário britânico. Ray III nunca respondeu.
Bankman-Fried era um general sem exército. Os poderes conferidos a Ray III, permitiam ao novo CEO administrar todo o grupo e inclusivamente eliminar o acesso de Bankman-Fried e seus pares às plataformas e documentos do grupo, o que acabou por acontecer, tendo "irritado" o ex-CEO, segundo contou uma fonte ao FT.
"É para vender": Como tudo começou
A investigação do Financial Times descobriu a troca de mensagens entre Bankman-Fried e os operadores da Alameda Research. Na eminência do colapso da FTX, a ordem era clara "vender, vender".
"É para fechar todas as posições e gerar capital", perguntou um "trader" a Sam Bankman-Fried. A resposta foi um inequívoco sim. "Definitivamente, com urgência", sublinhou o ex-CEO, tendo mesmo perguntado se era possível, com a venda de ativos, "obter pelo menos dois mil milhões de dólares".
Nesta altura, a Coindesk já tinha avançado que as contas do grupo eram sobretudo assentes no token nativo da FTX, o FTT. Dias mais tarde, a Binance preparava-se para vender milhões de dólares deste token agravando o buraco financeiro do império cripto.
No leme desta equipa de "traders" da Alameda estava a ex-CEO, Caroline Ellison, uma jovem de 28 anos que chegou a envolver-se com Sam Bankman-Fried, descrita por fontes da empresa como "uma pessoa pouco séria" e cuja comunicação com o ex-criptomilionário era "estranha" após o fim da relação.
Mais tarde, em tribunal, Ellison considerou-se "culpada" das acusações de fraude.
Do lado de Bankman-Fried havia uma necessidade, mesmo perante os funcionários, de descrever a crise da FTX, como um problema de "liquidez", rejeitando a necessidade de um pedido de proteção contra credores, uma ideia que recebeu a confiança de alguns quadros, até que as folhas de excel começaram a aparecer.
Quando executivos seniores fora do círculo de Bankman-Fried se debruçaram sobre as folhas de excel foi um "choque inacreditável", segundo descreve um destes colaboradores ao FT. "Era afinal um problema de solvência", acrescentou uma fonte.
À medida que a notícia se espalhou, a empresa dividiu-se em dois. A "equipa das Bahamas", o círculo de Bankman-Fried, reunia-se em torno do ex-CEO, no último andar da sua casa na ilha, enquanto este procurava novos investidores. Do outro lado, em Nova Iorque, um grupo de executivos preparava-se para o pior. Este grupo acabou por ser conhecido como "os adultos", por ter tomado a decisão mais sensata.
A "equipa das Bahamas" confiava que a FTX iria ser adquirida pela Binance e tudo se resolveria, enquanto em Nova Iorque, começavam as reuniões com o advogado especialista em reestruturações, Andy Dietderich da S&C.
Após a Binance ter dado o "não", só restou a Bankman-Fried reunir-se com o advogado e concordar em avançar com um pedido de proteção contra credores. O difícil foi fazer com que o ex-CEO passasse a pasta à nova chefia, John Ray III.
Para surpresa de Dietderich, Sam Bankman-Fried apareceu na primeira videochamada - para discutir o futuro do grupo - ao lado do pai, professor de direito da Universidade de Standford, e outro professor da mesma instituição, David Mills, com mais dois advogados.
O documento em que Bankman-Fried abdicava de todos os seus poderes, passando a pasta para Ray III, foi enviado ao ex-CEO às 8h da manhã do dia 10 de novembro, tendo sido - após muitas mensagens e telefonemas sem resposta - assinado pelo ex-criptomultimilionário um dia depois.
Este relato sobre os derradeiros momentos do colapso da plataforma cripto foi contado ao Financial Times (FT), que recolheu uma série de relatos e mensagens sobre as últimas horas antes da queda de Sam Bankman-Fried.
O comportamento de Bankman-Fried só mudou radicalmente, quando sentiu a necessidade de falar com o novo CEO da companhia, John Ray III após ter sido entregue o pedido de proteção contra credores no tribunal de Delaware, nos EUA.
"Sr. Ray, eu sei que as coisas não começaram de melhor forma, mas quero ser útil. Como já deve saber vou estar em Nova Iorque. Adoraria encontrar-me consigo, mesmo que fosse apenas para dizer 'olá'", pode ler-se num dos muitos emails enviados por Sam Bankman-Fried e citados pelo diário britânico. Ray III nunca respondeu.
Bankman-Fried era um general sem exército. Os poderes conferidos a Ray III, permitiam ao novo CEO administrar todo o grupo e inclusivamente eliminar o acesso de Bankman-Fried e seus pares às plataformas e documentos do grupo, o que acabou por acontecer, tendo "irritado" o ex-CEO, segundo contou uma fonte ao FT.
"É para vender": Como tudo começou
A investigação do Financial Times descobriu a troca de mensagens entre Bankman-Fried e os operadores da Alameda Research. Na eminência do colapso da FTX, a ordem era clara "vender, vender".
"É para fechar todas as posições e gerar capital", perguntou um "trader" a Sam Bankman-Fried. A resposta foi um inequívoco sim. "Definitivamente, com urgência", sublinhou o ex-CEO, tendo mesmo perguntado se era possível, com a venda de ativos, "obter pelo menos dois mil milhões de dólares".
Nesta altura, a Coindesk já tinha avançado que as contas do grupo eram sobretudo assentes no token nativo da FTX, o FTT. Dias mais tarde, a Binance preparava-se para vender milhões de dólares deste token agravando o buraco financeiro do império cripto.
No leme desta equipa de "traders" da Alameda estava a ex-CEO, Caroline Ellison, uma jovem de 28 anos que chegou a envolver-se com Sam Bankman-Fried, descrita por fontes da empresa como "uma pessoa pouco séria" e cuja comunicação com o ex-criptomilionário era "estranha" após o fim da relação.
Mais tarde, em tribunal, Ellison considerou-se "culpada" das acusações de fraude.
Do lado de Bankman-Fried havia uma necessidade, mesmo perante os funcionários, de descrever a crise da FTX, como um problema de "liquidez", rejeitando a necessidade de um pedido de proteção contra credores, uma ideia que recebeu a confiança de alguns quadros, até que as folhas de excel começaram a aparecer.
Quando executivos seniores fora do círculo de Bankman-Fried se debruçaram sobre as folhas de excel foi um "choque inacreditável", segundo descreve um destes colaboradores ao FT. "Era afinal um problema de solvência", acrescentou uma fonte.
À medida que a notícia se espalhou, a empresa dividiu-se em dois. A "equipa das Bahamas", o círculo de Bankman-Fried, reunia-se em torno do ex-CEO, no último andar da sua casa na ilha, enquanto este procurava novos investidores. Do outro lado, em Nova Iorque, um grupo de executivos preparava-se para o pior. Este grupo acabou por ser conhecido como "os adultos", por ter tomado a decisão mais sensata.
A "equipa das Bahamas" confiava que a FTX iria ser adquirida pela Binance e tudo se resolveria, enquanto em Nova Iorque, começavam as reuniões com o advogado especialista em reestruturações, Andy Dietderich da S&C.
Após a Binance ter dado o "não", só restou a Bankman-Fried reunir-se com o advogado e concordar em avançar com um pedido de proteção contra credores. O difícil foi fazer com que o ex-CEO passasse a pasta à nova chefia, John Ray III.
Para surpresa de Dietderich, Sam Bankman-Fried apareceu na primeira videochamada - para discutir o futuro do grupo - ao lado do pai, professor de direito da Universidade de Standford, e outro professor da mesma instituição, David Mills, com mais dois advogados.
O documento em que Bankman-Fried abdicava de todos os seus poderes, passando a pasta para Ray III, foi enviado ao ex-CEO às 8h da manhã do dia 10 de novembro, tendo sido - após muitas mensagens e telefonemas sem resposta - assinado pelo ex-criptomultimilionário um dia depois.