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Falta de confiança no setor financeiro está a minar investimento sustentável, alerta especialista da ESMA

A falta de confiança leva os investidores a evitarem aplicarem o seu dinheiro. A "clareza" é a resposta que pode garantir que os investidores passem a olhar com bons olhos para produtos financeiros ESG.

Fernando Ferreira / Cofina Media
04 de Outubro de 2022 às 19:00
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A falta de confiança dos investidores no setor financeiro na Europa está a penalizar o investimento sustentável. O alerta é dado por um membro do grupo consultivo para a sustentabilidade da Autoridade Europeia de Mercados de Valores Mobiliários (ESMA), Aleksandra Maczynska.

"A União Europeia tem levado a cabo avaliações e descobriu que a confiança nos serviços financeiros tem estado no fundo", sublinha Aleksandra Maczynska, na conferência anual da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

"Mesmo que os investidores gostassem de fazer parte do mercado sustentável estão fartos de tantas siglas. Os investidores sentem-se sobrecarregados e não confiam quando são aconselhados projetos financeiros sustentáveis", explica a consultora que apela assim "a mais clareza".

Segundo a especialista a falta de clareza está a minar o investimento. "As pessoas não estou a investir o seu dinheiro, mesmo tendo poupanças. Não percebem o processo do investimento, não compreendem a importância do aconselhamento independente", afirmou.

"Há uma regra muito boa na lei europeia que diz que a informação que o indivíduo recebe deve ser clara. Infelizmente, deve ser uma das regras da UE que são menos aplicadas", lamenta.

Já Pedro Siza Vieira, advogado da PLMJ e ex-ministro da economia recordou que o esforço para que o "ESG funcione é enorme", devendo ser um objetivo tanto dos Estados como dos privados.

"Além dos dinheiros públicos, deve ser realizado investimento privado cumprir os objetivos do Acordo Verde Europeu. Está a ser feito um esforço para garantir que o sistema de investimento, os mercados de capitais estão orientados para estes objetivos", referiu Siza Vieira.

Olhando em especial para o investimento público, o antigo líder do regulador financeiro francês, Robert Ophéle, lembrou que a "jornada" da UE em termos de sustentabilidade "tem sido ambiciosa e faseada e levará quase dez anos". "Teremos uma estrada acidentada até lá", acrescentou.

Ainda assim não é apenas o dinheiro alocado que poderá fazer crescer o segmento ESG (ambiental, social e de governo corporativo) é necessário que a academia tenha um "papel central" neste processo, conforme explicou Francisco Veloso, reitor da Imperial College Business School.

"Uma das vantagens da academia é ter uma visão mais independente daquilo que são as métricas. Quando pensamos nesta transição, há um elemento de risco e de retorno, mas há mudanças que precisam de ser implementadas, que têm a ver com a forma como medimos o risco", referiu Francisco Veloso.

Realidade vs números
Durante a conferência, o professor da Universidade de Dublin, Andreas Hoepner, apelou a uma leitura dos números que tenha em conta o impacto real do ESG no caso concreto de cada empresa.

O académico recorreu a uma publicação de Elon Musk no Twitter em que o homem mais rico do mundo acusa o ESG de ser uma "fraude" ("scam"). Se na realidade o é, o professor responde "ocasionalmente".

"Os resultados reais são mesmo sustentáveis? É preciso discutir isso", alerta Andreas Hoepner. "O problema do ESG é que basta ter um número e isso equilibra todo mal que a empresa faz noutro aspeto", acrescentou.

O especialista referiu um estudo publicado pelo Washington Post que dá conta que apesar de já haver muitas mulheres em conselhos de administração o rácio de gestoras nas empresas do S&P 500 face ao sexo masculino correspondem a um rácio de 99 para 1. "Os 'ratings' de ESG têm sido úteis, mas é preciso que nos concentremos no impacto real", defendeu o professor.

Para Andreas Hoepner o futuro do ESG está no financiamento sustentável. "As decisões que ditarão se chegaremos às metas do acordo de Paris estão nos mercados primários. Particularmente, é o financiamento, ou o refinanciamento que importa", afirmou.

Ainda assim, o académico salienta que apesar de "ser bom ver tantas 'green bonds'", estas "têm uma fraqueza fundamental": "é que não existem assim tantas atividades verdes, mesmo que consideramos algum gás e alguma energia nuclear verde", frisa o académico.
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