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Banca empurra famílias para crédito a taxa fixa

O montante de crédito à habitação a taxa fixa concedido desde o início do ano supera em mais de seis vezes o do período homólogo. Com esta modalidade, as instituições financeiras conseguem cobrar juros mais altos aos clientes.

Bruno Simão
13 de Setembro de 2016 às 21:50
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Os valores negativos atingidos pelas taxas Euribor no ano passado vieram transformar o mercado nacional do crédito à habitação. Reflexo dessas mudanças é o peso cada vez maior das operações a taxa fixa. Representam um terço do novo crédito concedido, desde o início do ano, graças à maior aposta da banca nestas operações. Isto porque, neste tipo de empréstimos, as instituições financeiras conseguem cobrar juros mais altos.

966 milhões de euros. Este foi o valor concedido em novo crédito à habitação a taxas fixas, entre Janeiro e Julho, de acordo com os dados do Banco de Portugal, publicados esta terça-feira. Este valor multiplica por mais de seis vezes os 147 milhões de euros concedidos no mesmo período do ano passado. Se nos primeiros sete meses deste ano, as taxas sem variação representaram 29% do dinheiro emprestado para a compra de casa, esse peso era inferior a 7% em 2015.

"O forte crescimento relativo decorre do facto de anteriormente o crédito a taxa fixa ser praticamente inexistente", adianta Filipe Garcia. Mas "reconheço que há cada vez mais operações a taxa fixa, o que se justifica essencialmente pela vontade dos bancos em contratarem dessa forma, porque lhes permite cobrar uma taxa de juro mais alta", explica o economista da IMF.

Ao contrário do que acontece com os créditos a taxa variável, onde a legislação determina que a taxa de juro final resulta da soma da média da Euribor no mês anterior à revisão ao "spread", nos financiamentos a taxa fixa não existe nenhuma regra que determine como é que a taxa de juro deve ser definida. Nesse sentido, cada instituição financeira determina a taxa de juro de forma diferente, sendo que entre os grandes bancos nacionais apenas o Santander Totta recorre às taxas de mercado, as taxas "swap".


Para responder à realidade actual, com as Euribor em valores negativos em todos os prazos, tem surgido "uma oferta mais diversificada" em termos de soluções de taxa fixa, adianta Paula Carvalho. A economista-chefe do BPI acredita que "é possível" que os bancos continuem a reforçar a aposta neste segmento de financiamento "atendendo ao actual contexto global em que a probabilidade de arrastamento da situação de taxas muito baixas durante mais tempo tem vindo a aumentar".

A economista defende que "as taxas de juro estão em mínimos históricos" e, "apesar desta situação não dever alterar-se tão cedo, existe a clara noção que não poderá prolongar-se para sempre, pelo que pode ser uma boa opção a fixação da taxa", dependendo dos "spreads" e das contrapartidas exigidas. Já Filipe Garcia sublinha que "grande parte das operações deste tipo apenas fixam a taxa por um período relativamente pequeno", pelo que "o mais interessante seria poder fixar a taxa de toda a vida do crédito porque é no futuro mais longínquo que a incerteza é maior".
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