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Depois da Argentina, a Turquia. Alta do dólar e petróleo dispara os alarmes nos emergentes
A lira turca atingiu um novo mínimo, forçando uma reunião entre os responsáveis pela política económica e monetária. A descida do peso já levou a Argentina a pedir ajuda ao FMI. Mas não são as únicas vítimas: a subida do dólar está a fazer soar os alarmes nos mercados emergentes.
Um dia depois de a Argentina ter sido forçada a pedir ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional, a Turquia surge como mais uma vítima da forte desvalorização da moeda, num contexto de alta do dólar, forte subida dos preços do petróleo e tensões diplomáticas devido à retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irão.
No dia em que foi conhecida a decisão de Washington de rasgar o acordo com Teerão, a lira completou a sétima sessão consecutiva de quedas face ao dólar, tendo tocado, já esta quarta-feira, no valor mais baixo de sempre face à divisa dos Estados Unidos, elevando para quase 8% a descida acumulada em pouco mais de uma semana.
Este movimento da moeda levou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan a convocar uma reunião de emergência com os principais responsáveis pela política económica e monetária do país, depois de o próprio banco central já ter anunciado medidas para aumentar a liquidez cambial e travar a descida da lira.
"As flutuações do mercado são temporárias e não vão criar danos permanentes", assegurou o vice-primeiro-ministro da Turquia, Mehmet Simsek, acrescentando que o banco central continuará a fazer o que for necessário para estancar a descida da lira.
Na Argentina, nem a subida da taxa de referência para os 40%, na semana passada, conseguiu parar a descida do peso. Perante uma desvalorização de 17% este ano, que ameaça a recuperação económica do país, o presidente Mauricio Macri deu início a conversações formais com o FMI para garantir uma linha de crédito flexível de 30 mil milhões de dólares.
Moedas dos emergentes descem para mínimos de quase um ano e meio
O peso argentino e a lira turca não são, contudo, as únicas vítimas da valorização do dólar e das pressões inflacionistas decorrentes da alta do petróleo.
O índice MSCI Emerging Market Currencies, que mede a evolução de 25 moedas de países emergentes face ao dólar, atingiu esta quarta-feira o nível mais baixo desde Janeiro de 2017.
"Factores de risco como o acordo do Irão surgiram num ambiente já fraco para os países emergentes devido à subida do dólar e das yields" dos títulos de dívida, afirma Motoko Miyano, responsável do Sumitomo Mitsai Banking. "Os investidores estrangeiros têm estado a vender mercados emergentes, e isso está a começar a acentuar o sell-off nas moedas".
Estas divisas já estavam sob pressão depois de o dólar ter começado a sua trajectória ascendente em meados de Abril e de as yields do Tesouro norte-americano a dez anos terem superado a barreira psicológica dos 3%. No entanto, a saída dos EUA do acordo com o Irão acrescentou ainda mais pressão, devido aos receios de um aumento da tensão no Médio Oriente e de uma aceleração da subida dos preços do petróleo.
"A retirada dos EUA do acordo aumenta a incerteza a nível global, e especialmente na região", afirmou Tilmann Kolb, analista de mercados emergentes do UBS Global Wealth.
A lira e o peso são apenas duas das cinco moedas que já perderam mais de 5% este ano. Na Ásia, os olhos estão postos sobre a Indonésia, onde a rupia atingiu, na segunda-feira, o valor mais baixo desde Outubro de 2015, o que poderá forçar o banco central a aumentar os juros já na próxima semana.
A par da moeda, também a dívida dos emergentes está sob pressão, com o EMBI Diversified Index – que mostra o spread médio que os investidores estão dispostos a pagar pela dívida destes países em detrimento da norte-americana – em mínimos de Janeiro de 2017.
O dólar prossegue, esta quarta-feira, a sua rota ascendente estando a valorizar pela quarta sessão consecutiva, e a negociar num novo máximo de 22 de Dezembro de 2017. Também o petróleo está a cotar num novo recorde de Novembro de 2014, nos 71 dólares em Nova Iorque, e próximo dos 77 em Londres.