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Como é que os bancos conspiraram para manipular o mercado cambial?

O mercado cambial é um dos maiores e mais líquidos do mundo gerando em média 5,3 biliões de dólares por dia. Este mercado não é regulamentado, pois a compra e venda de moeda para entrega imediata não é considerada um produto de investimento.

12 de Novembro de 2014 às 11:33
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Cinco bancos foram condenados a pagar 3,3 mil milhões de dólares por manipularem o mercado cambial. Os reguladores de três países - Reino Unido, Suíça e Estados Unidos - chegaram à conclusão que o UBS, Citigroup, JP Morgan, Royal Bank of Scotland e HSBC conspiraram para alterar artificialmente a taxa de câmbio das principais moedas mundiais, de forma a gerar lucros, mas prejudicando investidores, ao mesmo tempo.

 

Já o Barclays anunciou que vai esperar e prefere continuar a negociar com reguladores de vários países para chegar a acordo sobre o valor da multa a pagar devido ao seu envolvimento na manipulação no mercado de divisas.

 

O mercado cambial é um dos maiores e mais líquidos mercados do mundo gerando em média 5,3 biliões de dólares por dia, com 40% dos negócios a terem lugar em Londres, seguido de Nova Iorque e de Tóquio.

 

Empresas e consumidores participam diariamente neste mercado, se bem que indirectamente, através do seu banco ou agência de câmbio. Como um turista canadiano que visita Portugal e troca os seus dólares canadianos por euros à chegada. Ou uma empresa que é paga em libras quando vende bens para o Reino Unido e troca esta moeda por euros no seu banco.

 

É aqui - através de transacções electrónicas e telefónicas - que se transaccionam divisas mundiais através dos pares de moedas (euro/dólar ou dólar/iene, por exemplo). Os lucros são obtidos através da flutuação de uma moeda no mercado face a outra moeda.

 

O mercado nunca pára e funciona 24 horas por dia, seis dias por semana e nele participam bancos de investimento e comerciais, gestores de activos, bancos centrais, brokers, entre outros.

 

Sublinhe-se que este mercado não é regulamentado, pois a compra e venda de moeda para entrega imediata não é considerada um produto de investimento, não estando por isso sujeita a regras e regulamentos como outros produtos financeiros.


Todos os dias, às 16 horas, é fixada uma taxa de câmbio para 21 moedas, a taxa de referência WM/Reuters. Apesar de existirem outras taxas de referência esta é a mais usada. Contudo, a manipulação de taxas tinha lugar em 10 moedas: euro, dólar, iene japonês, libra britânica, franco suíço, dólar australiano, dólar neo-zelandês, dólar canadiano, coroa norueguesa e coroa sueca.

 

Estas taxas são determinadas com base na média nas transacções de compra e venda de divisas no mercado interbancário durante uma janela de 60 segundos - 30 segundos antes e depois das 16 horas.

 

Era aqui que os corretores conspiravam. Ao manipular as taxas de câmbio para níveis artíficiais, os bancos conseguiam gerar lucros à conta do dinheiro dos investidores.


Mas como é que os corretores de alguns dos maiores bancos mundiais conspiraram para manipular o mercado cambial? Corretores em diferentes bancos formavam grupos e partilhavam informação sobre a actividade de clientes.

 

A comunicação entre os gestores de topo dos departamentos de forex (taxas de câmbio) nestes bancos era feita através de salas de chat na internet. Estes grupos de gestores tinham nomes como os "três mosqueteiros", "uma equipa, um sonho", "a cooperativa" e o "Esquadrão Classe A". Desta forma, concertavam estratégias para manipular as taxas de câmbio.

 

Outra forma de manipular o mercado, era acumular ordens de clientes ao longo do dia, para durante esta janela de 60 segundos proceder à compra ou venda agressiva de moeda.

 

Assim, estes corretores tentavam manipular a taxa de câmbio no mercado de forma a assegurar que a taxa a que o banco tinha acordado vender euros, por exemplo, aos seus clientes era mais elevada do que a taxa pela qual tinha comprado os mesmos euros. Se resultasse, o banco gerava lucros.

 

É de destacar que a gestão de risco feita pelos bancos não é ilegal, mas como sublinha o regulador britânico FCA (Financial Conduct Authority) era, sim, "completamente inaceitável para empresas tentarem manipular para o seu próprio benefício e em potencial detrimento para certos clientes e outros participantes do mercado".

 

A FCA concluiu que a manipulação deste mercado teve lugar entre 1 de Janeiro de 2008 e 15 de Outubro de 2013. Durante este período, os bancos "não exerceram controlo efectivo e adequado" sobre os seus negócios de divisas.

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