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Wall Street cai com receio de política mais dura da Fed
As principais bolsas norte-americanas fecharam em terreno negativo, com os dados do mercado laboral a deixarem recear um maior endurecimento por parte da Fed,
O índice industrial Dow Jones fechou a cair 0,30% para 32.899,37 pontos e o Standard & Poor’s 500 perdeu 0,57% para 4.123,34 pontos.
Já o tecnológico Nasdaq Composite recuou 1,40% para se fixar nos 12.144,66 pontos.
Esta sexta-feira foram divulgados os números do emprego nos EUA. Durante o mês de abril foram criados mais 428 mil empregos, enquanto a taxa de desemprego se manteve em 3,6%. Já a taxa de população ativa – empregada ou à procura de trabalho – caiu para 62,2%. Por sua vez, os salários à hora aumentaram 5,5% em termos homólogos, mas ficaram abaixo das estimativas dos analistas.
Estes números são preocupantes para o mercado, tendo em conta que podem sinalizar uma política monetária ainda mais apertada por parte da Reserva Federal norte-americana, não só para conter a inflação mas também para garantir o pleno emprego.
"A taxa de população ativa caiu, o que é o contrário do que a Fed deseja. Além disso, a inflação salarial continua elevada", sublinhou Steve Chiavarone, responsável pelo departamento de multiativos da Federated Hermes, citado pela Bloomberg.
"A Fed irá certamente acelerar o ritmo de aperto [monetário] se a taxa de população ativa continuar a cair, num cenário de contração [económica]", referiu por seu lado Peter Essele, responsável pelo departamento de gestão de ativos do Commonwealth Financial Network, em declarações à agência norte-americana.
E, por falar na Fed, a "ressaca" de ontem nos mercados, depois da euforia de quarta-feira, prosseguiu também hoje – sendo um fator de pressão ao qual os dados do mercado laboral se veio juntar.
O efeito Fed
Na quarta-feira, o presidente da Fed, Jerome Powell, disse que está em cima da mesa um aumento de 50 pontos base dos juros diretores nas duas próximas reuniões de política monetária da Reserva Federal (em junho e julho), mas sublinhou que não está a ser ponderada a possibilidade de um aumento na ordem dos 75 pontos base. Isso animou o mercado, mas foi sol de pouca dura, pois na quinta-feira Wall Street regressou ao vermelho, de onde não saiu hoje.
"O dia seguinte às reuniões da Fed costuma ser bastante mais fidedigno quanto à sensação de Wall Street nos dias e semanas que a sucedem, mais do que propriamente a reação inicial de duas horas entre a saída das decisões e o final da negociação na quarta-feira. E ainda que não saibamos qual será o registo dos próximos dias, o certo é que, mais uma vez, o sentimento na quinta-feira foi o oposto do registado na reta final da sessão da véspera, onde os índices norte-americanos encetaram uma recuperação espetacular, que aliviou substancialmente o peso do vermelho que tem sido normal nas últimas semanas", comentou Marco Silva, consultor da ActivTrades, na sua análise diária.
"A razão para o desinchar do balão de oxigénio proporcionado pelas palavras de Jerome Powell foi simples, mas devastadora: os juros das obrigações soberanas norte-americanas, que tinham recuado na quarta-feira, tendo os juros da maturidade a 10 anos cedido dos 3,001% para os 2,909%, voltaram já a subir", acrescenta.
No seu entender, "esta reviravolta demonstra dois tópicos relevantes. O primeiro é o nível extremo da volatilidade e do impacto que os juros estão a ter nesta fase. Depois, mais importante e de uma mentalidade pragmática, é preciso ter em conta que o facto de não ter ocorrido uma subida de 75 pontos base na taxa diretora, e este movimento não estar nas contas dos membros da Fed, não invalida que os juros diretores não estejam, já no verão, nos 1,75%. Além disso, o facto de o banco central não ter sido mais agressivo numa reunião apenas ‘compra’ algumas semanas de juros não tão elevados, sendo no entanto quase certo que, no final do ano, o patamar estará pelo menos nos 2,5%".
"Resumindo, a diferença de retórica e de subida nos juros, entre o mais hawkish e o realmente decidido, é pouca, e os investidores rapidamente irão incorporar isso nas suas análises, reduzindo a tolerância a rácios de avaliação maiores. Daí que as tecnológicas tenham sido as que mais caíram", remata.