Notícia
Ventos russos abalam Wall Street
As bolsas norte-americanas fecharam quase na sua generalidade em baixa. O Dow Jones seguiu incólume e marcou um novo máximo histórico, mas perdeu gás no final da sessão devido a sinais de que a investigação às ligações entre o Kremlin e a campanha de Donald Trump está a intensificar-se.
O Dow Jones voltou a fixar valores nunca antes vistos, ao tocar, a meio da jornada, nos 22.044,85 pontos. No entanto, perto do final da sessão perdeu ritmo, tendo encerrado a subir muito ligeiramente, ao somar 0,04% para 22.026,10 pontos.
Os três grandes índices de Wall Street têm vindo a marcar sucessivos máximos este ano, mas nas últimas sessões tem sido o Dow Jones a estrela da negociação no outro lado do Atlântico. Só que hoje os ventos russos abalaram este índice e os seus principais congéneres do outro lado do Atlântico.
O S&P 500 e o Nasdaq Composite fecharam mesmo no vermelho, numa altura em que os investidores estão também a avaliar os mais recentes resultados trimestrais das grandes empresas norte-americanas e em que estão na expectativa de conhecer os dados relativos ao emprego.
O Standard & Poor’s 500 terminou a sessão a ceder 0,22% para 2.472,16 pontos, ao passo que o índice tecnológico Nasdaq Composite recuou 0,35% para 6.340,34 pontos.
Entre as categorias que hoje tiveram melhor comportamento contam-se as "small caps" [empresas com baixas capitalizações bolsistas]. Já entre os títulos com pior performance estiveram as tecnologias, a corrigirem das subidas recentes.
Numa altura em que a Reserva Federal dos EUA se prepara para reduzir o balanço e pretende continuar o ciclo gradual da subida das taxas de juro, os dados do mercado de trabalho, como a taxa de desemprego e a evolução dos salários, estarão amanhã no centro da atenção dos investidores.
Espera-se, segundo as projecções dos economistas inquiridos pela Bloomberg, que as entidades patronais tenham contratado mais 180.000 trabalhadores em Julho.
Os números poderão deixar pistas sobre as próximas decisões da entidade liderada por Janet Yellen. Ainda nos EUA, teremos também amanhã os dados da balança comercial de Junho.
Mas o facto determinante para a inversão de tendência hoje em Wall Street prendeu-se com uma notícia avançada pelo The Wall Street Journal de que o procurador especial Robert Mueller convocou a constituição de um grande júri em Washington, no caso da investigação à potencial interferência do Kremlin nas eleições presidenciais do passado dia 8 de Novembro.
Recorde-se que Robert Mueller, o procurador especial dos EUA que está a investigar as possíveis ligações entre a campanha de Donald Trump e a Rússia nas presidenciais do ano passado, alargou a sua investigação ao próprio presidente para analisar os seus negócios financeiros.
O WSJ sublinha que o facto de Mueller ter convocado a constituição de um grande júri em Washington significa que a investigação está a intensificar-se e a entrar numa nova fase - que pode desembocar numa acção judicial.
Mueller, recorde-se, começou por investigar o ex-assessor de segurança nacional de Trump, Michael Flynn, que se demitiu no passado dia 13 de Fevereiro.
A polémica em torno de Flynn surgiu quando o The Washington Post noticiou que o conselheiro de Trump tinha falado – durante contactos telefónicos com representantes russos, nomeadamente o embaixador russo junto das Nações Unidas, Sergey Kislyak – sobre as sanções impostas pelos EUA à Rússia na sequência da anexação unilateral da Crimeia pela Rússia em 2014.
Flynn começou por negar esses factos, sendo depois acusado de mentir quando admitiu que o tema das sanções poderia ter surgido durante os telefonemas – alguns dos quais feitos ainda durante a campanha de Trump para as eleições.
Por esse facto, Flynn pediu desculpas a Mike Pence [que o tinha defendido em várias ocasiões a respeito desta polémica], reconhecendo que tinha fornecido "informação incompleta" sobre essas conversas ao vice-presidente dos EUA. O tenente-general achou então, por bem, apresentar a sua demissão.
Entretanto, dois senadores norte-americanos apresentaram esta quinta-feira um projeto de lei bipartidário, destinado a proteger Robert Mueller, sob pressão desde que dirige este inquérito sobre eventuais conluios entre a campanha eleitoral de Trump e dirigentes russos, sublinhou a agência Lusa.
O texto, apresentado pelo democrata Chris Coons e pelo republicano Thom Tillis, "visa impedir um presidente de demitir um procurador especial, sem controlo jurisdicional. Se fosse demitido, Mueller poderia assim contestar essa decisão em tribunal", refere a mesma fonte.