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10 perguntas e respostas sobre a turbulência na China

Fortes quedas nos mercados. Esta continua a ser a tendência, liderada pelos abalos da China. O abrandamento da segunda maior economia mundial preocupa e as sucessivas desvalorizações da moeda não dão descanso. Veja 10 perguntas e respostas que o ajudam a compreender tudo o que se passa na China.

07 de Janeiro de 2016 às 20:00
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O que está a acontecer na economia da China?

"Abrandamento". Actualmente, esta é a palavra-chave, quando o assunto gira em torno da economia chinesa. As estimativas recolhidas pela Bloomberg apontam para que o país cresça 6,5% em 2016, o que tem preocupado os investidores em todo o mundo. Isto porque, apesar de ser substancialmente superior aos 1,7% previstos para a Zona Euro, revelam uma travagem face a desempenhos recentes. Em 2010, por exemplo, a China cresceu 10,6%.

 

Como é que isso afecta a economia mundial?

Se tivermos em conta que a China é a segunda maior economia do mundo, rapidamente percebemos a importância de uma travagem superior a quatro pontos percentuais em apenas seis anos. Até porque a potência asiática dá um forte contributo ao comércio internacional. Exemplo disso mesmo é a União Europeia, já que a China é o segundo maior parceiro comercial da região. Mas o maior impacto é nos países emergentes, nomeadamente os vizinhos asiáticos. É que estes são os principais produtores de matérias-primas, das quais a China é o maior consumidor mundial, graças ao forte desenvolvimento do país.

 

E qual é o impacto nos mercados?

Em primeiro lugar, há que destacar o impacto no preço das matérias-primas. Com o abrandamento da economia chinesa, a sua procura irá diminuir e, assim, o preço terá tendência a cair. Isso mesmo tem acontecido nos últimos anos e a perspectiva é que continue ao longo de 2016. O petróleo, por exemplo, está em mínimos de 2003.

Apesar de o potencial de crescimento da China continuar a abrandar, a probabilidade de uma aterragem abrupta continua a ser muito baixa.
Kallum Pickering
Economista do Berenberg

Estes desenvolvimentos terão também influência no mercado cambial. Uma vez que as moedas tendem a reflectir a robustez de uma economia, a tendência será de desvalorização nos países emergentes, já que estão muito dependentes da procura chinesa pelas suas matérias-primas. Mas como a importância da China vai muito além disso, as bolsas mundiais também sofrem com o dito abrandamento. Dado o peso chinês no comércio internacional, os investidores rapidamente concluem que os resultados das empresas irão recuar, reflectindo a perspectiva mais pessimista no preço das acções.

 

O yuan tem sido o foco das atenções. Porquê?

O yuan tem duas cotações face ao dólar: "onshore" e "offshore". A evolução da moeda em "onshore" é controlada pelo Banco Popular da China, ao passo que a cotação "offshore" reflecte a perspectiva dos investidores e, assim, o preço real de mercado. E é aí que está a importância do yuan. De cada vez que o banco central chinês permite a desvalorização do yuan – tal como tem acontecido –, está a indicar que os investidores estão correctos, no que toca à perspectiva para a evolução da economia. É preciso não esquecer que as moedas tendem a reflectir a robustez da economia. Ou seja, se a moeda desvaloriza, os investidores prevêem um crescimento mais fraco do país. E vice-versa.

 

Como é que o banco central da China controla a moeda?

O Banco Popular da China, tal como todos os bancos centrais, possui reservas financeiras. Um conjunto muito diversificado de activos, entre os quais estão várias moedas. E é com essas que acaba por influenciar a evolução do yuan. Se a instituição monetária quiser impulsionar a sua moeda face ao dólar, por exemplo, tem de vender dólares no mercado em troco de yuans. Desta forma, o Banco Popular da China está a aumentar a procura pela moeda e, assim, a impulsionar a sua cotação. Este é mesmo o caso da China. Se o objectivo for desvalorizar a moeda, o contrário também se aplica.

 

A diminuição das reservas poderá ser prejudicial?

A China tem um enorme problema de ajustamento.
George Soros

Há que relembrar que, para valorizar o yuan, o banco central chinês vende dólares. Ou seja, quanto maior for a pressão dos investidores, maior a quantidade de dólares que o Banco Popular da China precisa para impulsionar a moeda. Desta forma, num cenário em que os investidores queiram vender em força o yuan, a instituição monetária terá de inundar o mercado com dólares, aumentando substancialmente a liquidez. E quanto maior a liquidez, maior a volatilidade e, por isso, o risco. Adicionalmente, a venda de dólares no mercado irá pressionar os activos denominados nesta moeda, como é o caso da maior partes das matérias-primas.

 

O FMI passou a incluir o yuan no seu cabaz de moedas. Isso teve algum efeito na estabilidade?

Em princípio, não terá prejudicado. Aliás, a decisão do Fundo Monetário Internacional reflecte o reconhecimento da maior importância do yuan, levando a que este passe a ser uma referência mundial, a par do dólar, euro, iene e libra. Mas também não terá abonado a favor da estabilidade. É que o FMI exige que as moedas de referência sejam livremente negociadas, ou seja, sem a influência directa dos respectivos bancos centrais. Desta forma, o papel de protector do yuan, que o Banco Popular da China sempre assumiu, terá de desaparecer aos poucos. Isso mesmo tem feito, com as sucessivas revisões em baixa da cotação "onshore" para aproximá-la da "offshore".

 

Qual é a importância da moeda nas acções chinesas?

Tudo gira em torno da economia. Tal como explicado anteriormente, as moedas reflectem a robustez das respectivas economias. Por isso, se o Banco Popular da China permite que a moeda desvalorize, está indirectamente a admitir que o crescimento já não é o que era. Algo que terá também impacto nas empresas do país, uma vez que tenderão a vender menos, ou a prestar menos serviços. Os lucros caem e, por isso, o valor das cotadas é menor.

 

Com esta turbulência, quais são as perspectivas paras os restantes mercados emergentes?

Sendo a economia que mais matérias-primas consome em todo o mundo, a China afecta directamente os produtores. Tal como já foi referido, estes são normalmente países emergentes, com economias mais susceptíveis. Desta forma, acabam por exportar menos e, assim, o produto interno bruto sai penalizado. O Brasil e a África do Sul são exemplos disso mesmo, com as moedas a reflectirem a evolução negativa. Além destes países, há também os vizinhos asiáticos, que têm importantes laços comerciais com a China. Sendo certo o forte peso das matérias-primas na região, há também que considerar o impacto sistémico que tem o abrandamento da segunda maior economia mundial e maior economia asiática.

 

Até quando é que esta instabilidade poderá durar?

Uma vez que a turbulência na China está ligada à economia, o cenário não é o melhor. As estimativas recolhidas pela Bloomberg apontam que continuará a desacelerar depois de 2016. Contudo, "apesar de o potencial de crescimento da China continuar a abrandar, a probabilidade de uma aterragem abrupta continua a ser muito baixa", defende Kallum Pickering. Para o economista do Berenberg, "se o crescimento relativamente forte da China se aguentar, a incerteza deverá desaparecer".

George Soros, citado pela Bloomberg, atira que "a China tem um enorme problema de ajustamento". Mas o conhecido investidor e guru dos mercados vai mais longe, ao dizer que "ascende a uma crise". Traçando um paralelismo, conclui que o actual momento lembra "a crise que tivemos em 2008".

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