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"O ano do cão" vinga nas bolsas em 2016
Apostar nas acções que estão a ter o pior desempenho é uma estratégia que está a revelar-se, este ano, a melhor aposta dos investidores.
O cão é um animal que personifica a confiança e o compromisso, correndo as bocas do mundo através de muitos provérbios e expressões [dia de cão, abaixo de cão, vida de cão, ‘it’s raining cats and dogs’]. Mas também tem as suas referências nos mercados e nas empresas.
No universo empresarial, o Boston Consulting Group (BCG) chama de "cão" a uma unidade de negócio que ainda só tem uma pequena quota de mercado num sector já maduro – é uma das quatro categorias (ou quadrantes) da matriz de crescimento de quota desenvolvida na década de 1970 pelo BCG.
Em bolsa, o termo cão refere-se a uma acção que está a ter um mau desempenho crónico, podendo assim penalizar toda a performance de uma carteira de títulos. E são estes cães que estão a bater tudo e todos este ano, a ponto de a Bloomberg considerar que, para os investidores nos mercados accionistas, 2016 está a ganhar forma como "o ano do cão".
"Desde Janeiro, comprar as acções que estão a ter a pior performance em bolsa nos três meses anteriores tem sido uma estratégia que tem batido a opção de apostar nos títulos que se revelaram líderes", refere a Bloomberg.
E há números: este investimento regista actualmente uma série de ganhos de nove meses – que é o maior ciclo de valorizações desde pelo menos 1996, segundo os dados compilados pela agência noticiosa e pela FBN Securities.
O retorno adicional da aposta nestes cães ascende a 33 pontos percentuais, "uma clara reviravolta face a 2015, quando comprar os títulos com melhor desempenho era o negócio do ano".
Esta transição para a caça às acções a preços de saldo é um sinal de que os investidores estão cada vez menos dispostos a pagarem demasiado pelos títulos bolsistas, numa altura em que se vive em mercado-touro [altista] há oito anos, acrescenta a Bloomberg.
Diz a agência que a "agonia" decorrente desta mudança drástica no estilo de negociação está a ser sobretudo sentida pelos gestores mais activos nos mercados. "Apesar de haver muitas razões para os investidores profissionais estarem a ficar aquém do desempenho do mercado, a súbita transição de acções vencedoras para acções perdedoras torna-se ainda mais difícil de encaixar num ano em que os episódios de volatilidade são cada vez mais frequentes", sublinha.
Segundo as contas do Bank of America, apenas 16 fundos que apostam nas "large caps" – empresas de maior capitalização bolsista – superaram os seus índices de referência desde Janeiro – colocando-os a caminho do seu pior ano desde pelo menos 2003.
Os títulos da energia, que foram os que tiveram o pior comportamento em 2015, substituíram as empresas de telecomunicações e "utilities" (luz, água e gás) como as grandes vencedoras do segundo trimestre de 2016, a dispararem 11%. A liderança foi tomada, no terceiro trimestre, pelas acções ligadas ao software e à informática (a subirem agregadamente 12%).
Que sector poderá ser o próximo alvo na caça às pechinchas? Na opinião de J.C. O’Hara, estratega da gestora de activos FBN, um possível candidato é o sector da banca – cujo grupo de acções está avaliado em 1,1 vezes o seu valor contabilístico, perto de mínimos de três anos.