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O ano da volatilidade nas bolsas chega ao fim com perspectivas positivas
Balanço de 2016: Foi um ano de grande volatilidade nos mercados mundiais. Depois de um início de fortes perdas, 2016 chega ao fim com as bolsas internacionais a apresentarem tendência de ganhos. A praça brasileira foi a melhor do ano.
A história dos mercados em 2016 foi um pouco como os filmes românticos com finais felizes. O ano que agora termina teve um início (primeiros seis meses) problemático e pouco auspicioso, passando depois por um período de acalmia e estabilização para terminar (segundo semestre) debaixo de optimismo generalizado.
É por esta razão que "volatilidade" é a expressão que melhor caracteriza os mercados em 2016. Logo no primeiro dia deste, os principais índices bolsistas chineses registaram quedas superiores a 7%, o que levou a que, pela primeira vez, a China fosse obrigada a activar o mecanismo automático de suspensão das negociações, criado precisamente para travar volatilidades acentuadas, e a que também procedesse a uma pronunciada desvalorização da moeda.
Aquele que foi o pior arranque de sempre para as bolsas chinesas acabou por arrastar as principais praças mundiais. A justificar este pessimismo estavam os sinais de arrefecimento da economia chinesa, a segunda maior do mundo, que nos primeiros nove meses cresceu 6,7% face ao período homólogo, o menor ritmo desde a crise financeira de 2008.
Também a penalizar o sentimento dos investidores no início de 2016 estava a tendência de desvalorização das matérias-primas, a começar pelo petróleo. No entanto, desde Fevereiro as bolsas chinesas recuperaram cerca de 15%, beneficiando dos sinais de retoma da produção industrial do país. E o petróleo acaba o ano com ganhos superiores a 40%, registados essencialmente já em Dezembro depois de os países exportadores de petróleo (OPEP) terem chegado a acordo para cortar em 1,2 milhões de barris a produção petrolífera. A partir de 2016 haverá um corte total da produção de 1,8 milhões de barris por dia, contando já com mais 11 países que também se juntaram a este compromisso.
Numa altura em que as bolsas seguiam uma toada de recuperação, em Junho surgiu novo abalo nos mercados. No dia 23 de Junho o Reino Unido votou a favor da saída britânica da União Europeia (Brexit), provocando uma reacção negativa e imediata nas bolsas. As quedas foram generalizadas, com a libra a perder perto de 12% face ao dólar, para um mínimo de 32 anos relativamente à divisa norte-americana.
Contudo, mesmo as perdas dos principais índices britânicos (Footsie e FTSE 100) foram rapidamente revertidas, com os investidores a privilegiarem a expectativa positiva relacionada com as possibilidades de investimento decorrentes de uma libra desvalorizada.
O choque provocado pelo Brexit estendeu-se, naturalmente, à UE e à Zona Euro. Contudo, também nestes blocos económicos os efeitos negativos acabaram por ser rapidamente suplantados. Concretamente em relação ao bloco do euro, os países da moeda única reflectiam ainda os efeitos positivos do anúncio feito em Março pelo Banco Central Europeu (BCE), que então anunciou o prolongamento e o aumento do montante do programa de compra de activos.
A Europa voltaria a deparar-se com uma tendência de perdas, já em Setembro, na sequência da crise do Deutsche Bank, com a sucessão de notícias acerca da alegada dificuldade do banco alemão em pagar os cupões de emissões de CoCos, o que acabou por atirar, nessa altura, o índice europeu que agrupa os maiores bancos para o pior desempenho desde 2011. Este índice para a banca europeia desvalorizou 6,77% em 2016, o pior registo dos últimos anos.
Já nos Estados Unidos, a Reserva Federal (que elevara os juros em Dezembro de 2015) foi obrigada a adiar uma nova subida dos custos do dinheiro devido ao crescimento da maior economia mundial aquém do esperado no primeiro semestre. A turbulência na China e o Brexit contribuíram também para a cautela adoptada pela Fed, que só em Dezembro decidiu decretar um novo aumento da taxa de juro de referência.
Wall Street acabou por beneficiar da vitória de Donald Trump nas presidenciais de 8 de Novembro, com Nasdaq, Dow Jones e Standard & Poor’s 500 a renovarem máximos históricos em diversas ocasiões. O industrial Dow Jones foi mesmo o índice bolsista mais beneficiado pela expectativa positiva quanto aos benefícios do plano económico prometido por Trump, que assenta num grande aumento do investimento público na construção e actualização de infra-estruturas.
Bolsas do Japão e europeias com primeira queda anual em cinco anos
De uma forma global, 2016 acaba como um ano positivo para as bolsas mundiais. O índice que agrega todas as bolsas mundiais (MCSI All-Country World Index) termina o ano com um saldo acumulado positivo em torno dos 5,5%, valor que representa a maior valorização desde 2013.
Ainda assim, e apesar de se chegar à passagem de ano com tendência positiva, o índice de referência europeu (Stoxx 600) terminou 2016 com o primeiro saldo global negativo em cinco anos, marcando a maior queda anual desde o auge da crise da dívida soberana em 2011. O Stoxx 600, à imagem do que aconteceu com o PSI-20, fechou os dois últimos trimestres com valorizações, isto depois de entre Janeiro e Junho ter somado dois trimestres a perder valor.
Assim, o Stoxx 600 encerra o ano com perdas acumuladas de 1,20% e o PSI-20 de 11,93%, o que coloca o principal índice nacional entre as piores 10 bolsas de 2016. Os sectores que mais apoiaram o desempenho do índice que agrega as 600 maiores cotadas europeias foram o minério (+62,01%) e o petróleo e gás (+22,94%). A impedir uma maior valorização do Stoxx 600 esteve o sector europeu das telecomunicações (-15,89%).
Ainda na Europa, destaque para o britânico Footsie que somou perto de 14,5% apesar dos efeitos iniciais do Brexit - esta sexta-feira, o FTSE 100 marcou um máximo histórico - e ainda para a bolsa italiana que perdeu mais de 10% no ano. A praça transalpina foi muito penalizada pelo sector financeiro, num ano marcado pelo processo de recapitalização do Monte dei Paschi que, falhada a capitalização com recurso a privados, verá o Estado avançar com um resgate.
Na mesma linha, também as bolsas japonesas acabaram 2016 com saldo negativo, pese embora a tendência positiva registada nos últimos dois trimestres. O Topix desvalorizou 1,85%, enquanto o Nikkei ganhou 0,42%, num ano que começou com a decisão do banco central japonês de adoptar taxas de juro negativas, uma medida que acompanhou a política do BCE. No entanto, nem as políticas monetárias, nem as políticas de estímulo económico do Governo nipónico (Abenomics) surtiram os efeitos desejados.
Já entre as principais praças norte-americanas, Wall Street fecha 2016 como o melhor ano desde 2013, naquele que é o quarto dos últimos cinco em que as bolsas americanas registam saldos positivos (2015 foi a excepção). Apenas o tecnológico Nasdaq Composite acumulou saldos negativos nos dois primeiros trimestres, embora tenha acabado 2016 com dois trimestres a valorizar. Já o Dow Jones e o S&P 500 valorizaram nos quatro trimestres do ano. No que diz respeito ao saldo anual, o Dow Jones somou 13,41%, o Nasdaq Composite ganhou 7,50% e o S&P 500 avançou 9,43%.
Bolsa brasileira a melhor do ano e a da Nigéria a pior
O índice brasileiro Ibovespa conseguiu o melhor registo mundial em 2016, tendo valorizado 38,93%. A bolsa brasileira tirou proveito da subida dos preços das matérias-primas que se foi verificando ao longo dos últimos 12 meses (o que, de uma forma geral, foi positivo para todos os mercados emergentes), e também beneficiou da expectativa criada pela chegada ao poder de Michel Temer.
Concretizado o "impeachment" de Dilma Roussef, o mercado reagiu positivamente à expectativa de que Temer adopte políticas económicas mais liberais comparativamente com a sua antecessora. A subida do real também contribuiu para o desempenho do índice Ibovespa.
No pólo oposto, a bolsa da Nigéria (Nigerian Stock Exchange, NSE) foi a que teve pior performance em 2016, período em que acumulou um recuo de 38,61%. A contribuir para as perdas acumuladas pelo NSE esteve, de forma mais determinante, a pressão vendedora que se abateu sobre os investidores estrangeiros e locais. Em causa está a deterioração da situação política e económica da Nigéria, cuja economia fechou o terceiro trimestre deste ano com uma contracção de 2,24% face ao período homólogo.