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Juros da Fed, apuros do First Republic e "debt ceiling" abanam Wall Street
As bolsas norte-americanas encerraram com uma tendência mista. Enquanto o Dow Jones e o S&P 500 desceram, o Nasdaq negociou em alta. As contas das tecnológicas deram gás e apuros da banca pesaram no sentimento.
Os principais índices do outro lado do Atlântico registaram uma tendência mista, com o tecnológico Nasdaq a ser o único que conseguiu manter o fôlego.
O índice industrial Dow Jones recuou 0,68% para 33.301,87 pontos, ao passo que o Standard & Poor’s 500 desceu 0,38% para 4.055.99 pontos.
Já o tecnológico Nasdaq Composite fechou a somar 0,47% para 11.854,35 pontos, sustentado sobretudo pelas contas trimestrais apresentadas ontem depois do fecho pela Microsoft – e que superaram as previsões. Os investidores aguardam hoje pelo reporte dos resultados da Meta, dona do Facebook.
Os índices estavam todos a negociar em alta, mas o Dow inverteu para o vermelho, muito à conta do peso negativo do seu subíndice dos transportes – que caiu mais de 3%, pressionado sobretudo pela revisão em baixa, por parte da UPS, das receitas para este ano, o que exacerbou os receios dos intervenientes de mercado de que a economia dos EUA esteja a abrandar. A empresa de envios globais e logística reportou ontem as suas contas, mas hoje continuou a influenciar negativamente a negociação.
Também o S&P 500 entrou em terreno negativo, penalizado essencialmente pela banca, com os investidores a recearem pela saúde dos bancos regionais – o que arrastou as cotadas do setor.
Os apuros do First Republic Bank continuaram a penalizar na sessão de hoje. Ontem fecharam a cair em torno de 35%, com a fuga dos depósitos (equivalente a 100 mil milhões de dólares) no primeiro trimestre a fazer mossa, já que foi muito superior ao esperado.
O First Republic - que se viu em dificuldades na mesma altura em que o Silicon Valley Bank e o Signature Bank viram as suas portas serem encerradas, no mês passado – prosseguiu hoje com o mau desempenho e as ações chegaram a estar a afundar 32%, tendo a negociação sido suspensa em bolsa.
A acrescer aos reveses do First Republic esteve o facto de as autoridades norte-americanas estarem a ponderar rever em baixa a avaliação do banco.
O tecto ao endividamento e a reunião da Fed
A refletir a crescente ansiedade dos investidores, o custo de garantir a exposição à dívida soberana dos EUA disparou para o nível mais alto desde 2011, catapultado pelo desconforto de que o governo federal possa atingir o seu tecto de endividamento mais cedo do que o esperado – e, sem dinheiro para pagar aos serviços públicos, o governo federal é forçado a encerrar as suas agências (o chamado "shutdown").
A Câmara dos Representantes poderá votar ainda esta quarta-feira uma proposta de lei que visa cortar fortemente a despesa pública durante uma década, em troca de um aumento de curto prazo no limite ao endividamento (conhecido como "debt ceiling") – mas não é ainda certo que tenha apoio suficiente junto da maioria republicana na câmara baixa do Congresso para ser aprovada.
Outro fator de stress - e que contribuiu para a elevada volatilidade que regressou às bolsas do outro lado do Atlântico - prende-se com os receios de recessão nos EUA, já que a Fed, se prosseguir com o endurecimento da sua política monetária, num contexto de elevada inflação, poderá não evitar uma maior desaceleração da economia.
A grande maioria dos analistas aponta para um aumento de 25 pontos base da taxa dos fundos federais na próxima semana, na reunião de 2 e 3 de maio, mas há receio de que o banco central ainda volte a subir os juros diretores no encontro de política monetária de junho - havendo depois a expectativa de que a Reserva Federal inicie um ciclo contrário, de descida das taxas de referência, ainda este ano.