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Como uma peça de hardware derrubou a Bolsa de Tóquio

Foi a primeira vez em quase 15 anos que a bolsa sofreu uma interrupção completa da negociação. A Bolsa de Tóquio tem como política não fechar nem mesmo com desastres naturais, pelo que, para muitos, esta foi uma experiência inédita.

Bloomberg
10 de Outubro de 2020 às 17:00
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Às 7h04 do dia 1 de outubro, em Tóquio, os administradores do terceiro maior mercado de ações do mundo perceberam que havia um problema.

 

Um aparelho de dados essencial para o sistema de negociação da Bolsa de Valores de Tóquio não estava a funcionar e o backup automático falhou. Isto menos de uma hora antes de o sistema, chamado Arrowhead, começar a processar as ordens do mercado acionista, avaliado em seis biliões de dólares. Os funcionários da bolsa não encontravam uma solução.

 

A paralisação de um dia inteiro que se seguiu foi a mais longa desde que a bolsa mudou para um sistema de negociação totalmente eletrónico em 1999.

 

O acontecimento gerou críticas dos participantes do mercado e das autoridades e fez sobressair uma vulnerabilidade menos discutida na engrenagem financeira mundial: não o software ou os riscos de segurança, mas sim o perigo quando uma das centenas de peças de hardware que compõem um sistema de negociação decide parar de funcionar.

 

"As bolsas são uma parte crucial da infraestrutura do mercado e é inaceitável que as oportunidades de negociação sejam negadas", sublinhou o ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, a jornalistas em Tóquio. "Estamos a lidar com máquinas, por isso é sempre possível que elas falhem. É preciso criar infraestruturas com essa possibilidade de falha em mente".

 

O sistema Arrowhead da Bolsa de Tóquio foi lançado com grande alarde em 2010, anunciado como uma solução moderna depois de uma série de interrupções num sistema mais antigo ter criado constrangimentos na bolsa nos anos 2000. A "seta" (arrow) simboliza a velocidade de processamento da ordem, enquanto a "cabeça" (head) sugere robustez e fiabilidade, segundo a bolsa.

 

O sistema de aproximadamente 350 servidores que processam pedidos de compra e venda teve alguns soluços, mas nenhuma grande interrupção na sua primeira década de funcionamento.

 

Tudo mudou na quinta-feira, 1 de outubro, quando uma peça de hardware chamada de dispositivo de disco partilhado nº 1, uma das duas caixas quadradas de armazenamento de dados, detetou um erro de memória. Esses dispositivos armazenam dados de gestão usados nos servidores e distribuem informações como comandos e combinações de identificação e senha para terminais que monitoram negociações.

 

Foi a primeira vez em quase 15 anos que a bolsa sofreu uma interrupção completa da negociação. A Bolsa de Tóquio tem como política não fechar nem mesmo com desastres naturais, pelo que, para muitos, esta foi uma experiência inédita.

 

À noite foi anunciado que a bolsa retomaria as negociações na sexta-feira. Embora o incidente tenha passado sem problemas de maior, muitas perguntas permanecem sem resposta. Uma das principais é se o mesmo tipo de falha causada por hardware poderia ocorrer noutros mercados acionistas. Na opinião do estratega Nicholas Smith, quase certamente que sim, mas isso não é algo com que tenhamos com que nos preocupar.

 

"Não há nada exclusivamente japonês no que aconteceu", comentou Nicholas Smith, da CLSA, em Tóquio. "Acho que só temos que colocar isso na caixa ‘as coisas acontecem’. Não deveriam, mas acontecem".

 

(artigo original: How One Piece of Hardware Took Down a $6 Trillion Stock Market)

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