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Banca europeia com pior ano desde a crise de dívida
O índice europeu que agrupa os maiores bancos tem este ano o pior desempenho desde 2011. Perde um quarto do valor.
Primeiro foi a crise financeira. Depois a pressão vivida durante a crise de dívida soberana. E este ano, as preocupações com a fraca rentabilidade da banca, com o peso do crédito malparado nas entidades financeiras do sul da Europa e com a capacidade de alguns dos maiores bancos de investimento em pagarem as multas pela sua actuação nos anos que precederam a grande crise financeira resultam em mais um ano difícil para o sector.
O índice Stoxx para a banca europeia leva já uma desvalorização de 24,85% desde o início do ano. No mesmo período de 2011 tinha cedido 30,40% e no ano da crise de 2008 levava uma descida de 33,49%. A pressão intensificou-se este mês de Setembro com a notícia de que o Departamento de Justiça dos EUA pretendia aplicar uma multa de 14 mil milhões de dólares (12,5 mil milhões de euros) para encerrar as investigações ao Deutsche Bank sobre a actuação na venda de instrumentos garantidos por crédito hipotecário.
Desde o início do mês, as acções do gigante alemão perdem 22,67%. Cedem 54,56% em 2016. O receio é que o banco tenha de recorrer a um aumento de capital ou mesmo a apoio estatal para fazer face às penalizações que enfrenta nos EUA. Mas a pressão não se circunscreve ao Deutsche Bank. Outras entidades que também estão a ser alvo de investigações no outro lado do Atlântico também têm sofrido em bolsa. É o caso do Royal Bank of Scotland, Credit Suisse, Barclays e UBS. Estas quatro entidades levam descidas desde o início do ano de entre 24% a 43%.
Banca italiana com os piores desempenhos
Mas não são apenas os grandes bancos de investimento a estarem sob pressão. Entre as maiores desvalorizações dos 44 bancos cotados mais representativos da Europa, a maioria são entidades italianas. O sector tem sido abalado pela indefinição sobre a solução para recapitalizar o sector e até que ponto isso poderá, com as novas regras europeias para resgates no sector financeiro, levar a perdas para os investidores privados.
Os problemas de capital originados pelo elevado peso do malparado levam a descidas de quase 80% do Banco Popolare. E os receios de que os maiores bancos tenham de ser chamados a contribuir para uma solução para o sector fazem com que o Unicredit ceda mais de 60%. Outras das grandes descidas pertencem ao UBI Banca e ao Banco Popolare di Milano, com quedas de 67,65% e 64,28%.
Mas as preocupações sobre a qualidade dos balanços não se ficam pela banca italiana. Um dos bancos que mais descem em 2016 é o Banco Popular, com uma desvalorização de 59%. Isto depois de ter recorrido a um aumento de capital que apanhou os mercados de surpresa. Outro dos bancos com quedas expressivas é o BCP. As preocupações sobre o capital do banco e o efeito da saída de índices de referência, como o índice Stoxx para a banca, levaram a uma descida de 68,49% em 2016.
A fraca rentabilidade
Outro factor a preocupar os investidores sobre a saúde do sector é a dificuldade que as entidades bancárias têm para ser rentáveis no cenário actual de fraco crescimento e de taxas de juro de zero ou negativas. Isso faz com que a margem financeira (a diferença do valor a que os bancos emprestam dinheiro e o juro que oferecem pelos depósitos) fique pressionada, comprometendo a rentabilidade.
Esse factor tem levado a agressivos planos de reestruturação, com cortes nos custos com pessoal e, em alguns casos com a suspensão de dividendos. O último exemplo foi o Commerzbank. Segundo o Handelsblatt, o segundo maior banco alemão vai pôr em prática um novo corte de custos e suspender a remuneração aos accionistas, o que levou a uma queda das acções de 2,61% este ano.