Notícia
GENErosidade, e a ciência da gratidão
Se é uma pessoa que gosta de dar e ajudar os outros, saiba que, pelo menos em 50%, esse é um comportamento que está nos seus genes.
03 de Dezembro de 2010 às 12:17
Se não o é, mas gostaria de experimentar os ganhos que tal implicam para a sua saúde física e emocional, pode aprender a fazê-lo.
Estudos recentes comprovam a existência de um gene do altruísmo e outros demonstram que saber dar graças pelo que se tem diminui a depressão e desenvolve mecanismos de resiliência nos momentos menos bons da vida.
Com o início do mês de Dezembro e com o Natal cada vez mais perto, são muitas as pessoas que se lembram de se lembrar das outras. Fazer caridade nesta época funciona como uma espécie de antídoto para o ano inteiro que passou e de vacina para mais um que irá chegar. E assim se cumpre a quota-parte de generosidade obrigatória.
Todavia, para quem está atento aos inúmeros estudos que se vêm fazendo na área das neurociências, esta realidade pode ser explicada. De acordo com um estudo recente realizado pela Universidade de Bona, e publicado na prestigiada revista científica “Social Cognitive & Affective Neuroscience”, os cientistas encontraram uma ligação, comprovada, entre uma mutação do gene COMT e o altruísmo.
O COMT é responsável por dar instruções a uma determinada enzima, que inactiva certos mensageiros no cérebro, sendo que o mais conhecido entre estes é a dopamina. Esta, por sua vez é, e de acordo com um investigador de Harvard, Hans Breiter, a responsável por estimular comportamentos aditivos, tendo até sido "culpada" de circular em excesso nos cérebros dos senhores de Wall Street.
Segundo o investigador, quanto mais elevados são os níveis de dopamina, mais prazer experimentamos. A cocaína, por exemplo, aumenta directamente os níveis de dopamina.
Ao utilizar estudos baseados em imagens captadas através de aparelhos de ressonância magnética, o cientista, em conjunto com a sua equipa, descobriu que "ter ganas" de dinheiro activa as mesmas regiões do cérebro que são estimuladas pela necessidade de cocaína, de sexo, ou de qualquer outra coisa que produza prazer imediato e intenso. E a dopamina é activada com maior facilidade a partir de estímulos novos – ou seja, por experiências nunca vividas anteriormente, sendo que se tenta, por todos os meios, recriar esse tipo de experiência. Mas eis que se coloca um problema: se ingerirmos a mesma quantidade de cocaína na vez seguinte, ou se ganharmos a mesma quantidade de dinheiro, os níveis de dopamina tendem a não aumentar. Daí a explicação "científica" do que levou os banqueiros de Wall Street a não conseguirem interromper o seu ciclo de ganância.
Assim, as pessoas que manifestam esta inibição de dopamina e a alteração genética do COMT são duas vezes mais propensas a dar aos outros (e não amealhar para si mesmos).
Há mais de 15 anos que os cientistas sabem que existem duas variantes neste gene: o COMT-Val e o COMT-Met. Ambas as versões, que ocorrem na população com uma frequência similar, diferem em apenas um bloco. E, no caso das pessoas com a variante COMT-Val, a enzima associada funciona com eficácia superior quadruplicada. Esta foi a primeira vez que os investigadores conseguiram estabelecer uma conexão entre um gene específico e feitos altruístas.
Mas os estudos sobre a generosidade ou a gratidão não se ficam por aqui. Na passada semana e a propósito do muito celebrado Dia de Acção de Graças nos Estados Unidos, foi igualmente apresentada evidência científica adicional que afirma que aqueles que mantêm uma atitude de gratidão perante a vida têm um bem-estar físico, emocional e psicológico muito mais desenvolvido. A primeira parte deste estudo comprovava que os adultos que frequentemente se sentem gratos por alguma coisa têm mais energia, mais optimismo, mais relações sociais e um maior sentimento de felicidade do que aqueles que não o fazem.
As novidades agora apresentadas por Jeffrey J. Froh, professor de psicologia na Hosfra University, em Hempstead, Nova Iorque, estão relacionadas com crianças e adolescentes que, de acordo com as suas investigações, provam que a gratidão produz benefícios similares nos mais novos. Miúdos que se sentem gratos e praticam actos generosos tendem a ser menos materialistas, a ter melhores resultados escolares, a estabelecer objectivos mais elevados, queixando-se menos de dores de estômago ou de cabeça e sentindo-se mais satisfeitos com os amigos, com a família e com os seus ambientes escolares.
Cultivar a gratidão é possível
Já os filósofos antigos afirmavam que a gratidão é uma virtude humana indispensável. Mas só agora é que os cientistas sociais estão a começar a perceber a forma como se desenvolve e que efeitos pode ter. A pesquisa, que faz parte do movimento conhecido como “psicologia positiva” e que se concentra no desenvolvimento dos pontos fortes de cada um, afirma também que cultivar a gratidão é uma forma de terapia cognitivo-comportamental e que permite às pessoas alterar os seus padrões de comportamento e, por consequência, melhorar o seu estado de espírito.
O estudo agora desenvolvido com adolescentes a ser publicado no próximo número do "Journal of Happiness Studies", teve como base uma amostra de 1035 alunos do ensino secundário. Froh e a sua equipa provaram que os jovens que mais habituados estavam a dar graças pelo que tinham, tiravam notas mais elevadas e tinham um número superior de amigos, ao passo que os mais materialistas tinham notas mais baixas, maiores níveis de inveja e demonstravam um nível de satisfação significativamente inferior relativamente à vida. Como afirmou Jeffrey Froh ao "Wall Street Journal" "uma das melhoras curas para o materialismo é fazer com que alguém fique grato pelo que tem".
A questão da ingratidão, geralmente no que respeita aos adolescentes, é um problema que preocupa sobremaneira os pais da actualidade. Em Novembro de 2009, uma mãe desesperada com o egoísmo do seu filho adolescente, resolveu criar um grupo no Facebook denominado UTIMH – Ungrateful Teenager In My House. "Este grupo é para todos os país/educadores que providenciam aos seus filhos as necessidades básicas, lhes oferecem o seu amor incondicional, estafam-se a trabalhar para estes terem casa, comida e roupa lavada, ouvem os seus problemas e tentam que as suas vidas sejam fáceis e, mesmo assim estes são INGRATOS", pode ler-se na rede social. O grupo tem apenas 643 membros que, em comum, se queixam de filhos que não ajudam em casa, filhas que exigem botas com assinatura de designers famosos e de filhos e filhas que torcem o nariz a refeições cozinhadas em casa.
Sem juízos de valor para os pais que permitem tais comportamentos, a boa notícia é que, segundo Michael Ungar, um terapeuta familiar canadiano e autor do livro "The We Generation", os adolescentes ingratos podem ser "reformados". Mas alerta que não vale a pena "convidá-los" para a família, mas dar-lhes um papel nessa mesma família. O terapeuta afirma que são muitos os pais que infantilizam os seus filhos, não lhes colocando qualquer tipo de fasquia e não exigindo que façam pelo menos o suficiente.
Ao se envolver os jovens numa relação de "contributo", é mais fácil ajudá-los a experimentar e a expressar a gratidão. E, tal como defende Froh, estimular este tipo de comportamentos não é difícil: num dos estudos que fez com adolescentes no que respeita à expressão da gratidão, Froh pediu a jovens entre os 13 e os 15 anos que listassem, num diário e ao longo de duas semanas, cinco coisas pelas quais se sentiam gratos no final de cada dia. E os resultados comprovaram os anteriores: os que o tinham feito, sentiam maiores níveis de satisfação e um maior número de sentimentos positivos. "Tem tudo a ver com o facto de se ter consciência que existe um mundo de abundância lá fora", afirma.
Para ler o artigo na íntegra:
http://www.ver.pt/conteudos/verArtigo.aspx?id=1071&a=Sermais
Estudos recentes comprovam a existência de um gene do altruísmo e outros demonstram que saber dar graças pelo que se tem diminui a depressão e desenvolve mecanismos de resiliência nos momentos menos bons da vida.
Todavia, para quem está atento aos inúmeros estudos que se vêm fazendo na área das neurociências, esta realidade pode ser explicada. De acordo com um estudo recente realizado pela Universidade de Bona, e publicado na prestigiada revista científica “Social Cognitive & Affective Neuroscience”, os cientistas encontraram uma ligação, comprovada, entre uma mutação do gene COMT e o altruísmo.
O COMT é responsável por dar instruções a uma determinada enzima, que inactiva certos mensageiros no cérebro, sendo que o mais conhecido entre estes é a dopamina. Esta, por sua vez é, e de acordo com um investigador de Harvard, Hans Breiter, a responsável por estimular comportamentos aditivos, tendo até sido "culpada" de circular em excesso nos cérebros dos senhores de Wall Street.
Segundo o investigador, quanto mais elevados são os níveis de dopamina, mais prazer experimentamos. A cocaína, por exemplo, aumenta directamente os níveis de dopamina.
Ao utilizar estudos baseados em imagens captadas através de aparelhos de ressonância magnética, o cientista, em conjunto com a sua equipa, descobriu que "ter ganas" de dinheiro activa as mesmas regiões do cérebro que são estimuladas pela necessidade de cocaína, de sexo, ou de qualquer outra coisa que produza prazer imediato e intenso. E a dopamina é activada com maior facilidade a partir de estímulos novos – ou seja, por experiências nunca vividas anteriormente, sendo que se tenta, por todos os meios, recriar esse tipo de experiência. Mas eis que se coloca um problema: se ingerirmos a mesma quantidade de cocaína na vez seguinte, ou se ganharmos a mesma quantidade de dinheiro, os níveis de dopamina tendem a não aumentar. Daí a explicação "científica" do que levou os banqueiros de Wall Street a não conseguirem interromper o seu ciclo de ganância.
Assim, as pessoas que manifestam esta inibição de dopamina e a alteração genética do COMT são duas vezes mais propensas a dar aos outros (e não amealhar para si mesmos).
Há mais de 15 anos que os cientistas sabem que existem duas variantes neste gene: o COMT-Val e o COMT-Met. Ambas as versões, que ocorrem na população com uma frequência similar, diferem em apenas um bloco. E, no caso das pessoas com a variante COMT-Val, a enzima associada funciona com eficácia superior quadruplicada. Esta foi a primeira vez que os investigadores conseguiram estabelecer uma conexão entre um gene específico e feitos altruístas.
Mas os estudos sobre a generosidade ou a gratidão não se ficam por aqui. Na passada semana e a propósito do muito celebrado Dia de Acção de Graças nos Estados Unidos, foi igualmente apresentada evidência científica adicional que afirma que aqueles que mantêm uma atitude de gratidão perante a vida têm um bem-estar físico, emocional e psicológico muito mais desenvolvido. A primeira parte deste estudo comprovava que os adultos que frequentemente se sentem gratos por alguma coisa têm mais energia, mais optimismo, mais relações sociais e um maior sentimento de felicidade do que aqueles que não o fazem.
As novidades agora apresentadas por Jeffrey J. Froh, professor de psicologia na Hosfra University, em Hempstead, Nova Iorque, estão relacionadas com crianças e adolescentes que, de acordo com as suas investigações, provam que a gratidão produz benefícios similares nos mais novos. Miúdos que se sentem gratos e praticam actos generosos tendem a ser menos materialistas, a ter melhores resultados escolares, a estabelecer objectivos mais elevados, queixando-se menos de dores de estômago ou de cabeça e sentindo-se mais satisfeitos com os amigos, com a família e com os seus ambientes escolares.
Cultivar a gratidão é possível
Já os filósofos antigos afirmavam que a gratidão é uma virtude humana indispensável. Mas só agora é que os cientistas sociais estão a começar a perceber a forma como se desenvolve e que efeitos pode ter. A pesquisa, que faz parte do movimento conhecido como “psicologia positiva” e que se concentra no desenvolvimento dos pontos fortes de cada um, afirma também que cultivar a gratidão é uma forma de terapia cognitivo-comportamental e que permite às pessoas alterar os seus padrões de comportamento e, por consequência, melhorar o seu estado de espírito.
O estudo agora desenvolvido com adolescentes a ser publicado no próximo número do "Journal of Happiness Studies", teve como base uma amostra de 1035 alunos do ensino secundário. Froh e a sua equipa provaram que os jovens que mais habituados estavam a dar graças pelo que tinham, tiravam notas mais elevadas e tinham um número superior de amigos, ao passo que os mais materialistas tinham notas mais baixas, maiores níveis de inveja e demonstravam um nível de satisfação significativamente inferior relativamente à vida. Como afirmou Jeffrey Froh ao "Wall Street Journal" "uma das melhoras curas para o materialismo é fazer com que alguém fique grato pelo que tem".
A questão da ingratidão, geralmente no que respeita aos adolescentes, é um problema que preocupa sobremaneira os pais da actualidade. Em Novembro de 2009, uma mãe desesperada com o egoísmo do seu filho adolescente, resolveu criar um grupo no Facebook denominado UTIMH – Ungrateful Teenager In My House. "Este grupo é para todos os país/educadores que providenciam aos seus filhos as necessidades básicas, lhes oferecem o seu amor incondicional, estafam-se a trabalhar para estes terem casa, comida e roupa lavada, ouvem os seus problemas e tentam que as suas vidas sejam fáceis e, mesmo assim estes são INGRATOS", pode ler-se na rede social. O grupo tem apenas 643 membros que, em comum, se queixam de filhos que não ajudam em casa, filhas que exigem botas com assinatura de designers famosos e de filhos e filhas que torcem o nariz a refeições cozinhadas em casa.
Sem juízos de valor para os pais que permitem tais comportamentos, a boa notícia é que, segundo Michael Ungar, um terapeuta familiar canadiano e autor do livro "The We Generation", os adolescentes ingratos podem ser "reformados". Mas alerta que não vale a pena "convidá-los" para a família, mas dar-lhes um papel nessa mesma família. O terapeuta afirma que são muitos os pais que infantilizam os seus filhos, não lhes colocando qualquer tipo de fasquia e não exigindo que façam pelo menos o suficiente.
Ao se envolver os jovens numa relação de "contributo", é mais fácil ajudá-los a experimentar e a expressar a gratidão. E, tal como defende Froh, estimular este tipo de comportamentos não é difícil: num dos estudos que fez com adolescentes no que respeita à expressão da gratidão, Froh pediu a jovens entre os 13 e os 15 anos que listassem, num diário e ao longo de duas semanas, cinco coisas pelas quais se sentiam gratos no final de cada dia. E os resultados comprovaram os anteriores: os que o tinham feito, sentiam maiores níveis de satisfação e um maior número de sentimentos positivos. "Tem tudo a ver com o facto de se ter consciência que existe um mundo de abundância lá fora", afirma.
Para ler o artigo na íntegra:
http://www.ver.pt/conteudos/verArtigo.aspx?id=1071&a=Sermais