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Francisco, o construtor de pontes

O Papa que celebrou, esta quarta-feira, o seu 78º aniversário, mantém a sua energia arrebatadora e inspiradora. Sem temas tabus, aposta na simplicidade e na proximidade, “praticando”, com fervor, a máxima da inclusão e do não julgamento. O ano de 2014 foi particularmente trabalhoso para o chefe do Vaticano: continuamente atento aos mais vulneráveis, não deixou, por isso, de emitir a sua opinião, sempre assertiva, sobre os variados desafios que a humanidade enfrenta

19 de Dezembro de 2014 às 13:28
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Em 1988, e pouco antes da queda do Muro de Berlim, o Papa João Paulo II visitaria o Parlamento Europeu e apelidaria a Europa de "o farol da civilização". Mais de um quarto de século mais tarde, cerca de 700 eurodeputados assistiram, no mesmo local, a um discurso completamente diferente, com uma tónica implacável e nada animadora. Numa oratória devotada à centralidade da dignidade humana, o actual Sumo Pontífice não foi brando nos epítetos que dedicou à Europa e aos seus decisores políticos: à primeira, chamou-a de "avó extenuada" e aos segundos atacou a sua "mente funcionalista e privatizada".A visita de Francisco ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, no passado dia 25 de Novembro, em conjunto com as palavras duras que proferiu, em pouco diferem de outras visitas e outros discursos nos quais o Papa – apesar de não esquecer o papel de responsabilidade e de esperança que deve representar no mundo – não se coíbe de dizer o que pensa e de acusar todos aqueles que colocam os seus próprios interesses à frente dos de outrem. Sem pruridos, o primeiro Papa não-europeu em 1200 anos não foi brando em relação à União Europeia, acusando-a de "estar refém de um modelo económico uniformizado que enfraqueceu a democracia", enquanto a centralidade dos direitos humanos se tornou difusa "e foi largamente suplantada pelo narcisismo individualista". Francisco alertou ainda os representantes da Europa relativamente à forma como o Velho Continente é encarado pelo resto do mundo, com "indiferença, desconfiança e suspeição". E, mais uma vez, recordando a sua primeira visita enquanto chefe do Vaticano, a Lampedusa, a pequena ilha no sul de Itália que se tornou, ao longo da última década, num dos principais pontos de entrada de dezenas de milhar de migrantes e na qual criticou veementemente o mundo "rico", acusando-o de uma "globalização da indiferença", o Papa voltou a alertar para o facto de não ser possível continuar-se a permitir que o Mediterrâneo se transforme num "imenso cemitério".

 

Ainda sobre uma Europa que deixou de ser "fértil e vibrante", o Papa teve também uma palavra a dizer não só sobre as suas actuais políticas de imigração, mas também sobre as hordas de jovens desempregados, os maus tratos infligidos aos idosos e a incapacidade que os seus líderes parecem ter em reconhecer o fracasso que tem sido, em particular nos últimos anos, o denominado "projecto europeu". "Unidade não significa uniformidade", declarou, ao mesmo tempo que denunciava os "sistemas uniformes de poder económico ao serviço de impérios invisíveis" e de ter afirmado que "as grandes ideias que outrora inspiraram a Europa parecerem ter perdido a sua atracção, para serem substituídas pelas tecnalidades burocráticas das suas instituições".

 

Um 2014 "sem papas na língua"

O ano prestes a terminar foi, para Francisco, laborioso e "palavroso". Sempre atento não só às necessidades dos mais vulneráveis, mas também aos grandes desafios globais a que o mundo está sujeito, poucos foram os "temas do ano" que não mereceram comentários do actual Sumo Pontífice, ao mesmo tempo que poucos foram aqueles que não se renderam ao seu carisma, entre crentes e não crentes.

 

A 29 de Janeiro, por exemplo, muitos habitantes de Roma acordaram com um novo grafitti numa das suas ruas que mostra o Papa Francisco desenhado como um super-herói, ao verdadeiro estilo do super-homem, com a sua capa e um crucifixo "ao vento" e com uma mala preta com a palavra VALORES "bordada". Assinada pelo famoso artista de rua Maupal (Mauro Pallotta) – o qual a justificou com a forma como Francisco utiliza a sua autoridade papal para "disseminar o bem" -, a imagem foi tema de um tweetenviado pelo próprio gabinete de comunicação do Vaticano, tornando-se rapidamente viral e chegando aos quatro cantos do mundo. [O próprio Papa tem uma conta no Twitter, onde é seguido por 17 milhões de pessoas]

 

Todavia, seguir todos os temas sobre os quais Francisco emitiu cruas opiniões ao longo de 2014 é uma longa viagem, com vários cenários e múltiplas personagens envolvidas. A "revolução interna" que provocou no interior do Vaticano, constituindo, por exemplo, o Conselho de Cardeais (o denominado "C9"), que reúne periodicamente para o ajudar na reforma da Cúria Romana, tendo-se já pronunciado sobre as questões financeiras do Vaticano – uma das suas grandes lutas – e que levou à criação de uma Secretaria da Economia, foi já reconhecida por inúmeros organismos e personalidades. A título de exemplo, o Moneyval, o órgão de controlo do Conselho da Europa contra a lavagem de dinheiro e financiamento de actos terroristas (apesar de não ser este o caso), aplaudiu publicamente os "significativos esforços do Vaticano para incorporar os padrões internacionais e o seu compromisso com a transparência financeira". Também o Sínodo dos Bispos sobre a Família – o qual obteve um enorme mediatismo – consistiu (e ainda consiste) numa importante e gigantesca "tarefa" à qual o Papa se dedicou, sempre baseado na premissa de que a Igreja deve ser de "acolhimento" e não "de exclusão".

 

 

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