Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Do CEO solitário à tomada de decisão “partilhada”

Para celebrar os vinte anos passados sobre a publicação do primeiro Inquérito Global aos CEOs, a PricewaterhouseCoopers assinalou a data com um “especial aniversário” que integra uma reflexão sobre a função mais cobiçada no mundo dos negócios. Face a 1998, muito mudou não só no universo empresarial, como também no planeta e, por inerência, na própria sociedade. Na hierarquia das preocupações, os primeiros lugares vão para a gestão “homem e máquina”, para a recuperação da confiança e para a tarefa, continuamente árdua, de encontrar o ponto de equilíbrio ideal para as forças contrárias da globalização

  • ...

"Estes são, indubitavelmente, excelentes tempos para se ser um CEO global". A frase remonta a Janeiro de 1998, o ano em que a PricewaterhouseCoopers publicaria o seu primeiro Global CEO Survey. Vinte anos mais tarde – e numa altura em que não está a ser poupada pelo erro no anúncio do prémio para melhor filme nos Óscares recentemente atribuídos, gaffe esta que já fez rolar pelo menos duas cabeças – a consultora aproveita a passagem de duas décadas sob este seu "marco" e, em conjunto com a 20ª edição deste relatório anualmente publicado, apresenta também um "olhar especial" sobre as funções, alterações e desafios que foram sendo colocados aos executivos líderes das maiores empresas a nível mundial.

O VER resume, de seguida, as principais tendências que ilustram o universo empresarial da actualidade, estreitamente ligado, como não poderia deixar de ser, ao contexto global em que vivemos e também o que, no "interior" desta tão almejada mas igualmente complexa função de topo, se alterou mais profundamente.

Na era da suposta convergência, multiplicam-se as divergências

Alterações demográficas e climáticas, urbanização galopante, realinhamento da economia global e das actividades de negócio, escassez de recursos, crescimento célere da tecnologia. Entre outras, são estas as grandes tendências que, ao longo das últimas décadas, têm caracterizado o nosso mundo e, por inerência, a forma como as empresas e os seus líderes as têm "galopado".

Em 20 anos, e desde a altura em que a PwC iniciou o seu inquérito anual a mais de 1000 CEOs, oriundos dos quatro cantos do planeta e representando as mais diversificadas indústrias, a globalização e a tecnologia estimularam um crescimento massivo em termos de comércio, fluxos financeiros e tráfego global online. Como declara, na introdução do 20th CEO Survey, o presidente da PwC, Bob E. Moritz, este nível de interconectividade não só aumentou o envolvimento e compromisso das empresas relativamente a todos os seus stakeholders, como forçou a sociedade a questionar de que forma as inesgotáveis fontes de informação são acedidas e consumidas.

O aumento da transparência obrigou, por seu turno, a novas formas de comunicação, a maiores níveis de responsabilidade – e responsabilização – por parte das empresas e ao despertar de novos tipos de liderança, mais assentes – se bem que não tanto quanto seria desejável – em matérias de confiança e propósito, em conjunto e de forma inerente, como relações humanas mais estreitas. Todavia, esta "enorme convergência" deu origem, e cada vez mais, a divergências igualmente substanciais, as quais parecem estar em escalada contínua.

No relatório agora publicado (referente, mais precisamente, aos inquéritos realizados a 1400 CEOs de 80 países em 2016), era já significativa a percentagem daqueles que anteviam, para o presente ano, um mundo dividido por crenças e quadros de referências múltiplos. Para além dos resultados eleitorais já mais do que dissecados – apesar de ainda muito incompreendidos – das eleições nos Estados Unidos e do referendo sobre o Brexit, os eventos mais recentes têm vindo a revelar, cada vez mais, um enorme descontentamento popular face ao cada vez mais pronunciado gap existente em termos de competências, postos de trabalho e desigualdade.

Por outro lado, e apesar de um mundo cada vez mais ligado, ou por causa disso mesmo, fatias cada vez mais "dilatadas" da sociedade expressam o seu ressentimento, sentindo-se sem voz e excluídas da tomada de decisão. E, como alerta o relatório, a liderança organizacional não escapa imune a este fenómeno, também ela afectada por uma espécie de fenómeno de "exoneração", o qual conduz a níveis de confiança reduzidos, tanto no sector público como no privado.

Em termos de boas notícias, porque também as há, os CEOs entrevistados revelam sinais de optimismo no que respeita ao crescimento da economia, mesmo que ainda sem o dinamismo de outros tempos, sendo que a inovação parece continuar "em alta". A procura permanece forte em muitos dos mercados emergentes, em particular na Ásia, e começa também a reerguer-se, ainda que e forma não muito expressiva, em outras regiões do planeta.

O relatório publicado em 2017 explora, em detalhe, três grandes imperativos que caracterizam o ambiente de negócios da actualidade: a gestão, complexa, não só dos trabalhadores de carne e osso mas, e de forma crescente, da emergência das máquinas enquanto potenciais e reais substitutos das forças humanas, em conjunto com todas as implicações inerentes à criação de uma força laboral "à altura" da era digital; a preservação – ou recuperação essencial – da confiança organizacional, num mundo composto por relações cada vez mais virtuais e, por último, mas sem surpresas dada a sua "continuidade", a guerra, até aqui perdida, das forças da globalização enquanto geradoras de benefícios para todos ou, no mínimo, que os mesmos sejam, no mínimo, distribuídos de forma mais equitativa.

Vejamos os três imperativos mais em detalhe.

Homens e máquinas, o valor da intersecção inteligente

Há vinte anos, e de acordo com o CEO Report da PwC, existiam menos de 700 mil robots industriais espalhados por todo o mundo. Hoje o número ascende aos 1,8 milhões, com as estimativas a apontarem para que, em 2019, possa atingir os 2,6 milhões. Mas, e talvez ainda mais preocupante, seja o facto de os robots estarem também a invadir a arena dos serviços. Seja a impressão em 3D que já permite "fazer" carros e aviões, seja a forma como a biotecnologia está a alterar, entre variadíssimas áreas, a forma como se produz alimentos ou medicamentos, ou ainda a explosão mais recente da nanotecnologia e da inteligência artificial, que está muito mais avançada do que nos atrevemos sequer a imaginar. E, entre os benefícios e os receios, é mais do que natural que as pessoas comecem – e finalmente – a temer não só pelo futuro do seu próprio trabalho, como e principalmente, pelos eventos que esperam os seus descendentes. O relatório da PwC refere um estudo realizado já este ano, a um universo de cinco mil pessoas em 22 países, o qual revela que 79% acreditam que a tecnologia irá causar a perda de postos de trabalho nos próximos cinco anos. Todavia, e valha-nos isso, os CEOs ainda precisam de pessoas, sendo que apenas 16% do universo inquirido admite cortar o seu efectivo de funcionários nos próximos 12 meses. Adicionalmente, importa sublinhar também que apenas um quarto destes admite fazê-lo por "razões tecnológicas". Inversamente aos receios manifestados, 52% dos CEOs respondentes planeiam admitir mais trabalhadores.

De uma forma clara, e tal como o VER tem vindo a reportar, os CEOs são inteligentes o suficiente para estimar o valor de um casamento bem-sucedido entre as maravilhas da tecnologia e as (ainda) inimitáveis competências humanas. Na medida em que estas últimas são as que não conseguem ser replicadas ou mimetizadas nas (ou pelas) máquinas, as qualidades que lhes são inerentes são precisamente as que mais estimulam a inovação – a área ilustrada no CEO Survey que mais valorizada é no que respeita ao capitalizar de novas oportunidades.


Clique aqui para continuar a ler a notícia



Ver comentários
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio