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A poderosa máquina de propaganda digital do Estado Islâmico

Com base numa estratégia cuidadosa e criteriosamente estudada, o autoproclamado Estado Islâmico tem, na propaganda brutal que dissemina através dos media sociais, um chocante, mas eficaz, aliado. Para Charles Winter, autor de um paper recentemente publicado sobre as seis narrativas por excelência da organização terrorista – brutalidade, misericórdia, vitimização, guerra, sentimento de pertença e utopia – estamos perante um “exercício de branding de proporções épicas”. E que serve múltiplos propósitos e audiências variadas

27 de Novembro de 2015 às 15:34
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"A propaganda dá ao homem, em abundância, aquilo de que ele precisa: uma raison d’être, o envolvimento pessoal e a participação em eventos importantes, um escape e uma desculpa para os seus impulsos mais duvidosos, em conjunto com uma justificação. E se todas as ilusões são, na verdade, falsas, ele bebe-as a todas e pede sempre mais"
Konrad Kellen, no Prefácio de Propaganda: The Formation of Men’s Attitudes, de Jacques Ellul (1973)

Uma das muitas questões que se afiguram mais incompreensíveis no que respeita ao autoproclamado Estado Islâmico (EI) é a sua capacidade para persuadir e, consequentemente, recrutar indivíduos – em particular os nascidos e/ou criados no Ocidente – para as suas fileiras, a partir de uma narrativa de brutalidade sem precedentes. Mas, e tal como acontece com as muitas histórias de fanatismo e extremismo presentes na nossa História, a manipulação e a denominada "lavagem cerebral", quando eficazmente cometidas, constituem as melhores formas para levar pessoas supostamente sãs a cometer actos profundamente irracionais.

E a propaganda, quase tão velha também quanto a história da Humanidade, continua a ser o veículo mais "fácil" para atrair, recrutar e reter "simpatizantes" para determinada causa e/ou ideologia. O Estado Islâmico teve noção desta realidade desde o seu início e, aproveitando o acesso fácil e imediato aos diferentes media sociais, não só apostou forte na "digitalização" das suas mensagens, como "revolucionou a narrativa jihadista, menosprezando a segurança operacional em prol do dinamismo, de forma a produzir uma propaganda que conta uma história, excitante ou chocante, dependendo de quem é o seu público-alvo".

Quem o afirma é Charlie Winter, um reconhecido especialista britânico em Estudos Árabes – em particular no que respeita a movimentos jihadistas – e actualmente investigador principal da organização sem fins lucrativosQuilliam, um think tank de contraterrorismo sedeado no Reino Unido.

Na actualidade, os estrategas digitais fiéis ao EI não só conseguem fazer produções próximas das realizadas por Hollywood, como não precisam de duplos para as protagonizar. E longe vão os tempos em que eram divulgados vídeos, de péssima qualidade e com mais grão do que definição, de Osama bin Laden.

Assim, e entre Junho de 2014 e Junho de 2015, Winter levou a cabo a talvez mais extensa e intensa pesquisa de monitorização, diária, das actividade do EI, nos media sociais, em árabe e em inglês. O que não é coisa pouca, dado que, em média, a organização publica, por dia, cerca de 3 vídeos e pelo menos 15 reportagens fotográficas, que visam chegar a audiências distintas e que fazem parte daquela que é considerada por muitos como a mais bem planeada estratégia de propaganda – extremista – digital de sempre.

Desta monitorização diária resultou o paper "The Virtual ‘Caliphate’: Understanding Islamic State’s Propaganda Strategy", publicado em Julho de 2015 e que ajuda a compreender de que forma é que o EI consegue, com tanto sucesso, indignar e chocar as audiências que lhe são hostis e, em simultâneo, gratificar os seus apoiantes, permitindo um reabastecimento constante das suas fileiras e disseminando as suas mensagens, "multi-propósitos", continuamente.

Para o autor do paper, sem se compreender as motivações e os objectivos da organização terrorista mais sangrenta da actualidade, não será possível desenvolver uma contra-narrativa capaz de a atingir, travar e, idealmente, extirpar. Assim, é imperativo que académicos, investigadores, decisores políticos e sociedade civil percebam de que forma é que as mensagens de doutrinação são semeadas e divulgadas e o que contribui para que tantos indivíduos estejam dispostos a morrer em nome de uma fantasia ultraviolenta com base na criação de uma "autoridade islâmica", autoproclamada como um "califado" e que, desde exactamente Junho de 2014, passou a intitular-se somente como "Estado Islâmico".

Todavia, o autor chama a atenção para o facto de e obviamente, a propaganda da organização não ser a única responsável pela radicalização de indivíduos. Mas e depois de ter analisado mais de um milhar de campanhas de propaganda individuais, Charlie Winter assegura que a mesma catalisa a passagem de extremistas islâmicos de apoiantes tácitos a membros activos da organização. O material propagandista "personalizado" que utilizam para uma ampla gama de audiências consiste numa das suas mais bem-sucedidas estratégias, na medida em que, para além de procurar atrair novos apoiantes e intimidar os seus "inimigos", contribui também para polarizar a comunidade internacional, sustentar a relevância global da organização (tanto nas esferas jihadistascomo nas que não o são) e apresentar aos seus simpatizantes as "evidências" necessárias para os transformar em membros activos.

O VER resume as principais peças constituintes da poderosa máquina virtual de propaganda do EI, através das seis narrativas eleitas por Michael Winter como as que mais força e poder têm na construção da "marca" do Estado Islâmico.


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