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"Temos de dobrar o montante das exportações"

Internacionalizar é a solução que muitos querem para a economia portuguesa. Mas será a solução para todas as empresas? E internacionalizar para onde? Os mercados emergentes parecem estar à espera do investimento nacional. Não existirão mercados maduros disponíveis para relações com Portugal?

"Temos de dobrar o montante das exportações"
06 de Dezembro de 2011 às 15:58
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Internacionalização | Os desafios que as empresas enfrentam para se internacionalizar foram tema de discussão na conferência. As oportunidades não foram esquecidas: há economias a emergir mas também há mercados já maduros em que se pode apostar.


A actual equação económica de Portugal é de difícil resolução. Os números provam-no, as projecções prevêem-no. O investimento público cai, o consumo privado afunda. Resta a captação de investimento estrangeiro e as exportações.

"Se não exportarmos mais, as coisas vão tornar-se mais complicadas". A certeza é de Nuno Fernandes Thomaz, administrador da Caixa Geral de Depósitos. Para o vogal da comissão executiva do banco, as exportações têm de passar de um contributo de 35% ou 40% do Produto Interno Bruto (PIB) para alcançarem os 70%.

"Temos de ser bastantes mais ambiciosos. Temos de dobrar o montante das exportações", afirmou Fernandes Thomaz, na conferência "Mercados Maduros", realizada pela CGD e pelo Negócios.

Portugal tem tido, portanto, um bom comportamento na avaliação das exportações, mas a nota ainda não é a máxima. O administrador da Caixa Geral salienta que "nem todas as empresas estão preparadas para a internacionalização", algo que também o professor Nuno Fernandes Crespo, do ISEG, defende (texto ao lado).

Além das exportações, há espaço para apostar no Investimento Directo Estrangeiro (IDE). Não se pode esquecer, porém, que a "imagem da credibilidade" de Portugal não está em terreno positivo no estrangeiro, o que dificulta a captação de investimento para território nacional.

Para Nuno Fernandes Thomaz, o que Portugal tem de fazer para melhorar a sua relação internacional é começar por cumprir o plano acordado com a troika. Depois, a implementação das reformas estruturais é a prioridade. "Não há IDE se não houver justiça económica" ou se não houver uma "lei do arrendamento adequada".

Seja para as exportações ou para captação de IDE, há ainda um trabalho de profissionalização a empreender. Angola, Moçambique e outros emergentes são países para os quais Portugal tem razões para olhar, segundo o administrador da CGD. Contudo, Portugal não se pode esquecer dos seus principais parceiros: a União Europeia. Estes mercados maduros têm de continuar a ser explorados. Não tanto na base do preço, mas sim na produção de serviços e bens de valor acrescentado.

De qualquer forma, na opinião de Fernandes Thomaz, é certo que os portugueses não têm sido "profissionais" no trabalho que fazem, por exemplo, com a diáspora. "O povo português emigrou e temos de o trabalhar", assinalou na conferência. Estes cidadãos nacionais que estão no estrangeiro "têm grande importância nos mercados onde estão", razão que poderá fazer com que eles possam ser os "condutores" da exportação empresarial.

Tem de se ganhar uma maior eficiência na diplomacia, na forma de abordagem aos países que podem vir a investir, seja o Brasil, a China ou nações do Golfo Pérsico, como refere o responsável do banco português. Apesar da crise portuguesa e internacional, uma das oportunidades que Fernandes Thomaz vê na actualidade é a privatização das posições estatais em empresas portuguesas. "Vão chamar a atenção dos investidores desses países", resume.






"A internacionalização não é a solução para todos os problemas"

Quando uma empresa olha para o mundo vê um mundo de oportunidades. Quando uma empresa olha para o mundo vê um mundo de desafios. Olhar para o mundo "não é fácil". Olhar para o mundo "não é para todos". Nuno Fernandes Crespo, professor no ISEG, referia-se a essa aventura que nem todas as pequenas e médias empresas podem fazer. "Querer [internacionalizar] não é poder", assegurou.

Não se pode pensar que internacionalizar é apenas exportar. Fernandes Crespo salienta que a internacionalização "não é só vender no estrangeiro". Pelo contrário, "pode-se começar por comprar do estrangeiro", de acordo com as declarações do professor. Uma relação de fornecimento poderá, depois, dar frutos e transformar-se numa troca comercial mútua.

Contudo, antes de uma empresa começar a internacionalizar-se, precisa de analisar rigorosamente o que pretende, precisa de interpretar o mercado. Como salientou Fernandes Crespo, com base na apresentação realizada também pelo académico Vítor Corado Simões, ao olhar para a opção "exportar", as empresas têm primeiro de saber que produto vão comercializar para fora e porquê. Não podem achar que, por ter corrido bem em Portugal, o sucesso está garantido noutro mercado. "Não é só traduzir a etiqueta", defende Fernandes Crespo.

Entre os conselhos dados pelo académico, está também a indicação de que "não se pode ir sozinho à aventura". As alianças podem ser uma solução num mundo globalizado. Para Fernandes Crespo, são muitos os desafios de uma internacionalização. Antes de mais, porque se vai para um mercado com um paradigma diferente. E com uma concorrência intensa, o factor diferenciação é crucial para o sucesso.

O professor universitário aponta para formas de aumentar a probabilidade de uma internacionalização feliz: competências internas da empresa; capacidade de gestão; e contratação de recursos humanos com abertura internacional. Desafios que se têm de ultrapassar para aproveitar as oportunidades: novos mercados em expansão, novas tendências sociológicas e demográficas (mesmo nos mercados maduros) e nichos mundiais com possibilidades de serem explorados.
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