Notícia
Do "gourmet" em Paris para as prateleiras do mundo virtual
Começaram por bater à porta dos grandes distribuidores nacionais, mas Foi preciso rumar ao estrangeiro para ganharem reconhecimento cá dentro

Bater às portas do "País" nem sempre é sinónimo de que sejam abertas. Antes pelo contrário, sobretudo se aquilo que se tem para oferecer é um produto simples, tradicional, nosso. Mas, e se esse mesmo produto começar por ter sucesso em Paris, num mercado selecto, sofisticado, "gourmet"? Nessa altura, todas as portas se abrem, nem que o produto seja simples, tradicional, nosso. Foi assim que "quase tudo" começou para a Necton, lembra João Navalho, administrador da empresa e biólogo de formação. Não foi fácil fazer chegar a flor de sal recolhida nas salinas de Olhão às prateleiras das lojas portuguesas, mas hoje estão lá. E não só.
O espaço para o projecto foi encontrado no Algarve, pese embora tenha começado por ser acolhido numa incubadora de empresas na Universidade Católica do Porto, esclarece João Navalho. Foi na Invicta que instalaram o laboratório para a produção experimental de microalgas e foi em Olhão que se preparavam para produzir o betacaroteno para uma multinacional norte-americana. Conjugou-se porém este contexto favorável com um estudo adverso da organização governamental dos Estados Unidos da América que faz o controlo dos alimentos, a FDA.
O referido estudo concluía que a substância extraída das algas não passava de um componente inócuo - um placebo que não fazia nem bem, nem mal. A verdade é que, segundo João Navalho, a análise foi feita tendo por base o betacaroteno sintético, que não é assimilado pelo organismo, ao contrário da molécula natural, que é reservada no corpo e é hoje usada na alimentação humana, pelas suas características antioxidantes. É aliás um componente presente em vários frutos e vegetais.
Desistir? Nunca!
Na altura, "o sonho ruiu" e João Navalho confessa mesmo que aquele foi um dos piores momentos da sua vida. Deveriam desistir? Como já se adivinha, não o fizeram. Que fazer então com uma equipa jovem, entusiasta, que tinha à sua disposição as salinas de Olhão? Produzir e comercializar sal. É verdade que inicialmente se depararam com dificuldades na colocação do produto no mercado nacional, mas uma daquelas jogadas de mestre fez com que optassem por levar a flor de sal produzida no Algarve até às melhores lojas "gourmet" de Paris.
Foi um sucesso. Hoje, até nas prateleiras virtuais das principais lojas globais, como a Amazon, a Necton consegue colocar parte da sua produção.
A empresa, que actualmente possui duas áreas de negócio, não se ficou pelo sal marinho tradicional. Abalançou-se na área de conhecimento dos seus promotores e dedica-se hoje também à criação de microalgas. Neste segundo capítulo, cerca de 95% do que produz é destinado a exportação. Não se fala aqui de betacaroteno, mas de alimento para peixes de aquacultura ou de matéria-prima para a indústria de cosméticos. É lá fora uma vez mais que a Necton tem clientes. Não só nos países comunitários, mas também nos Estados Unidos e nos mercados asiáticos.
Dióxido de carbono da Secil aproveitado para cultivar algas Captar dióxido de carbono libertado por unidades fabris e, nesse ambiente cultivar microalgas e produzir biomassa é um projecto que a empresa A4F desenvolveu e que vai agora passar à prática em parceria com a Secil, na fábrica de Patais. Segundo disse ao Negócios João Navalho, "chief technology officer" da A4F, uma empresa spin-out da Necton, a tecnologia já está em fase de instalação e, depois de um investimento da empresa cimenteira estará apto a funcionar no primeiro semestre do próximo ano. João Navalho, que é licenciado em biologia marinha e pescas pela Universidade do Algarve e mestre em aquacultura pela mesma escola, é administrador também administrador da Necton, onde é responsável pela unidade de negócios do sal marinho tradicional, projecto que lhe valeu o prémio internacional do movimento SlowFood para a defesa da biodiversidade. Não é um único galardão, já que também a tecnologia que foi desenvolvida pela A4F e que será agora aplicada em Pataias mereceu distinções na Feira Internacional Pollutec 2009, em Paris, e recebeu o Prémio Nacional de Inovação Ambiental de 2009, no nosso país. |

Ideias-chave
Número de uma pequeno grupo da economia do mar
1. Empresas do grupo dão trabalho a 51 pessoas
No conjunto, as unidades de negócios da Necton e a empresa do grupo A4F dão trabalho directo a 51 pessoas. São 28 na empresa inicial e 23 na segunda.
2. Facturação ascendeaos 3,5 milhões de euros
Este grupo composto por duas pequenas empresas tem uma facturação anual na ordem dos 3, 5 milhões de euros, segundo João Navalho.
3. Produção de Microalgasem 95% para exportação
A unidade de negócios de microalgas da Necton exporta 95% do que produz, tendo como destino os países comunitários, Estados Unidos e mercados asiáticos.
4. Projecto coma Secil vai custar sete milhões
A unidade de produção de microalgas a partir de dióxido de carbono, que a A4F desenvolve em parceria com a cimenteira Secil, envolvem um montante de investimento de sete milhões de euros.
5. Ideias que já valeram quatro prémios
O sal marinho tradicional da Necton foi já atribuído o prémio internacional do movimento SlowFood, pela defesa da biodiversidade. Mas foi o já referido projecto da A4F aquele que mais atenção mereceu. Ganhou o prémio Inovação BES 2006, conquistou Prémio Nacional Inovação Ambiental de 2009 e obteve o segundo lugar no European Environmental Press Award 2009, em Paris.