Notícia
Do "gourmet" em Paris para as prateleiras do mundo virtual
Começaram por bater à porta dos grandes distribuidores nacionais, mas Foi preciso rumar ao estrangeiro para ganharem reconhecimento cá dentro
João Navalho | Para o biólogo e empresário, num negócio desistir está fora de questão. Foi assim que a Necton singrou.
Bater às portas do "País" nem sempre é sinónimo de que sejam abertas. Antes pelo contrário, sobretudo se aquilo que se tem para oferecer é um produto simples, tradicional, nosso. Mas, e se esse mesmo produto começar por ter sucesso em Paris, num mercado selecto, sofisticado, "gourmet"? Nessa altura, todas as portas se abrem, nem que o produto seja simples, tradicional, nosso. Foi assim que "quase tudo" começou para a Necton, lembra João Navalho, administrador da empresa e biólogo de formação. Não foi fácil fazer chegar a flor de sal recolhida nas salinas de Olhão às prateleiras das lojas portuguesas, mas hoje estão lá. E não só.
É preciso começar por dizer que quase tudo teve início no sal. Melhor será dizer, nas salinas de Olhão, de onde de onde hoje saem os produtos da marca Marnoto. Mas em 1991 o projecto era outroe visava a aplicação prática dos conhecimentos científicos de um conjunto de jovens biólogos e químicos acabados de sair da universidade do Algarve. Pretendiam criar microalgas para produção de betacaroteno, um antioxidante rico em proteína A, que é possível extrair de uma alga que se desenvolve nas tradicionais salinas.
O espaço para o projecto foi encontrado no Algarve, pese embora tenha começado por ser acolhido numa incubadora de empresas na Universidade Católica do Porto, esclarece João Navalho. Foi na Invicta que instalaram o laboratório para a produção experimental de microalgas e foi em Olhão que se preparavam para produzir o betacaroteno para uma multinacional norte-americana. Conjugou-se porém este contexto favorável com um estudo adverso da organização governamental dos Estados Unidos da América que faz o controlo dos alimentos, a FDA.
O referido estudo concluía que a substância extraída das algas não passava de um componente inócuo - um placebo que não fazia nem bem, nem mal. A verdade é que, segundo João Navalho, a análise foi feita tendo por base o betacaroteno sintético, que não é assimilado pelo organismo, ao contrário da molécula natural, que é reservada no corpo e é hoje usada na alimentação humana, pelas suas características antioxidantes. É aliás um componente presente em vários frutos e vegetais.
Desistir? Nunca!
Na altura, "o sonho ruiu" e João Navalho confessa mesmo que aquele foi um dos piores momentos da sua vida. Deveriam desistir? Como já se adivinha, não o fizeram. Que fazer então com uma equipa jovem, entusiasta, que tinha à sua disposição as salinas de Olhão? Produzir e comercializar sal. É verdade que inicialmente se depararam com dificuldades na colocação do produto no mercado nacional, mas uma daquelas jogadas de mestre fez com que optassem por levar a flor de sal produzida no Algarve até às melhores lojas "gourmet" de Paris.
Foi um sucesso. Hoje, até nas prateleiras virtuais das principais lojas globais, como a Amazon, a Necton consegue colocar parte da sua produção.
A empresa, que actualmente possui duas áreas de negócio, não se ficou pelo sal marinho tradicional. Abalançou-se na área de conhecimento dos seus promotores e dedica-se hoje também à criação de microalgas. Neste segundo capítulo, cerca de 95% do que produz é destinado a exportação. Não se fala aqui de betacaroteno, mas de alimento para peixes de aquacultura ou de matéria-prima para a indústria de cosméticos. É lá fora uma vez mais que a Necton tem clientes. Não só nos países comunitários, mas também nos Estados Unidos e nos mercados asiáticos.
Ideias-chave
Número de uma pequeno grupo da economia do mar
1. Empresas do grupo dão trabalho a 51 pessoas
No conjunto, as unidades de negócios da Necton e a empresa do grupo A4F dão trabalho directo a 51 pessoas. São 28 na empresa inicial e 23 na segunda.
2. Facturação ascendeaos 3,5 milhões de euros
Este grupo composto por duas pequenas empresas tem uma facturação anual na ordem dos 3, 5 milhões de euros, segundo João Navalho.
3. Produção de Microalgasem 95% para exportação
A unidade de negócios de microalgas da Necton exporta 95% do que produz, tendo como destino os países comunitários, Estados Unidos e mercados asiáticos.
4. Projecto coma Secil vai custar sete milhões
A unidade de produção de microalgas a partir de dióxido de carbono, que a A4F desenvolve em parceria com a cimenteira Secil, envolvem um montante de investimento de sete milhões de euros.
5. Ideias que já valeram quatro prémios
O sal marinho tradicional da Necton foi já atribuído o prémio internacional do movimento SlowFood, pela defesa da biodiversidade. Mas foi o já referido projecto da A4F aquele que mais atenção mereceu. Ganhou o prémio Inovação BES 2006, conquistou Prémio Nacional Inovação Ambiental de 2009 e obteve o segundo lugar no European Environmental Press Award 2009, em Paris.
Bater às portas do "País" nem sempre é sinónimo de que sejam abertas. Antes pelo contrário, sobretudo se aquilo que se tem para oferecer é um produto simples, tradicional, nosso. Mas, e se esse mesmo produto começar por ter sucesso em Paris, num mercado selecto, sofisticado, "gourmet"? Nessa altura, todas as portas se abrem, nem que o produto seja simples, tradicional, nosso. Foi assim que "quase tudo" começou para a Necton, lembra João Navalho, administrador da empresa e biólogo de formação. Não foi fácil fazer chegar a flor de sal recolhida nas salinas de Olhão às prateleiras das lojas portuguesas, mas hoje estão lá. E não só.
O espaço para o projecto foi encontrado no Algarve, pese embora tenha começado por ser acolhido numa incubadora de empresas na Universidade Católica do Porto, esclarece João Navalho. Foi na Invicta que instalaram o laboratório para a produção experimental de microalgas e foi em Olhão que se preparavam para produzir o betacaroteno para uma multinacional norte-americana. Conjugou-se porém este contexto favorável com um estudo adverso da organização governamental dos Estados Unidos da América que faz o controlo dos alimentos, a FDA.
O referido estudo concluía que a substância extraída das algas não passava de um componente inócuo - um placebo que não fazia nem bem, nem mal. A verdade é que, segundo João Navalho, a análise foi feita tendo por base o betacaroteno sintético, que não é assimilado pelo organismo, ao contrário da molécula natural, que é reservada no corpo e é hoje usada na alimentação humana, pelas suas características antioxidantes. É aliás um componente presente em vários frutos e vegetais.
Desistir? Nunca!
Na altura, "o sonho ruiu" e João Navalho confessa mesmo que aquele foi um dos piores momentos da sua vida. Deveriam desistir? Como já se adivinha, não o fizeram. Que fazer então com uma equipa jovem, entusiasta, que tinha à sua disposição as salinas de Olhão? Produzir e comercializar sal. É verdade que inicialmente se depararam com dificuldades na colocação do produto no mercado nacional, mas uma daquelas jogadas de mestre fez com que optassem por levar a flor de sal produzida no Algarve até às melhores lojas "gourmet" de Paris.
Foi um sucesso. Hoje, até nas prateleiras virtuais das principais lojas globais, como a Amazon, a Necton consegue colocar parte da sua produção.
A empresa, que actualmente possui duas áreas de negócio, não se ficou pelo sal marinho tradicional. Abalançou-se na área de conhecimento dos seus promotores e dedica-se hoje também à criação de microalgas. Neste segundo capítulo, cerca de 95% do que produz é destinado a exportação. Não se fala aqui de betacaroteno, mas de alimento para peixes de aquacultura ou de matéria-prima para a indústria de cosméticos. É lá fora uma vez mais que a Necton tem clientes. Não só nos países comunitários, mas também nos Estados Unidos e nos mercados asiáticos.
Dióxido de carbono da Secil aproveitado para cultivar algas Captar dióxido de carbono libertado por unidades fabris e, nesse ambiente cultivar microalgas e produzir biomassa é um projecto que a empresa A4F desenvolveu e que vai agora passar à prática em parceria com a Secil, na fábrica de Patais. Segundo disse ao Negócios João Navalho, "chief technology officer" da A4F, uma empresa spin-out da Necton, a tecnologia já está em fase de instalação e, depois de um investimento da empresa cimenteira estará apto a funcionar no primeiro semestre do próximo ano. João Navalho, que é licenciado em biologia marinha e pescas pela Universidade do Algarve e mestre em aquacultura pela mesma escola, é administrador também administrador da Necton, onde é responsável pela unidade de negócios do sal marinho tradicional, projecto que lhe valeu o prémio internacional do movimento SlowFood para a defesa da biodiversidade. Não é um único galardão, já que também a tecnologia que foi desenvolvida pela A4F e que será agora aplicada em Pataias mereceu distinções na Feira Internacional Pollutec 2009, em Paris, e recebeu o Prémio Nacional de Inovação Ambiental de 2009, no nosso país. |
Ideias-chave
Número de uma pequeno grupo da economia do mar
1. Empresas do grupo dão trabalho a 51 pessoas
No conjunto, as unidades de negócios da Necton e a empresa do grupo A4F dão trabalho directo a 51 pessoas. São 28 na empresa inicial e 23 na segunda.
2. Facturação ascendeaos 3,5 milhões de euros
Este grupo composto por duas pequenas empresas tem uma facturação anual na ordem dos 3, 5 milhões de euros, segundo João Navalho.
3. Produção de Microalgasem 95% para exportação
A unidade de negócios de microalgas da Necton exporta 95% do que produz, tendo como destino os países comunitários, Estados Unidos e mercados asiáticos.
4. Projecto coma Secil vai custar sete milhões
A unidade de produção de microalgas a partir de dióxido de carbono, que a A4F desenvolve em parceria com a cimenteira Secil, envolvem um montante de investimento de sete milhões de euros.
5. Ideias que já valeram quatro prémios
O sal marinho tradicional da Necton foi já atribuído o prémio internacional do movimento SlowFood, pela defesa da biodiversidade. Mas foi o já referido projecto da A4F aquele que mais atenção mereceu. Ganhou o prémio Inovação BES 2006, conquistou Prémio Nacional Inovação Ambiental de 2009 e obteve o segundo lugar no European Environmental Press Award 2009, em Paris.