Notícia
Crise petrolífera?
O mercado petrolífero viveu um dia inédito a 16 de setembro. Após os ataques contra instalações sauditas, o seu preço ganhou 20 % num dia. A subida já foi anulada mas o risco petrolífero parece estar de volta. Saiba como minimizar o impacto na sua carteira de investimentos.
A situação política no Oriente Médio é muito tensa há vários anos. Por um lado, há a antiga disputa entre os Estados Unidos e o Irão. Desejando munir-se de armas nucleares e acusado por Washington de apoiar o terrorismo, Teerão tem sofrido sanções comerciais e é frequentemente alvo da retórica de guerra de Trump. Em junho passado, o ataque a vários petroleiros causou uma tensão renovada na região. Os Estados Unidos até ameaçaram o Irão com represálias militares, acusando-o de estar na origem dos ataques. Hoje, porém, mais do que as velhas tensões iraniano-americanas, são as relações entre o Irão e a Arábia Saudita que mais preocupam. Os dois países estão em conflito indireto no Iémen. O exército saudita interveio neste país vizinho para ajudar o governo local a derrotar uma rebelião apoiada pelo Irão. E, no dia 14 de setembro, foi essa rebelião que assumiu a responsabilidade do ataque às instalações petrolíferas da Arábia Saudita.
Com poucos meios, mas visando pontos sensíveis, os atacantes reduziram em quase 50 % a produção de petróleo da Arábia Saudita, o que correspondeu a mais de 5% da produção mundial. De um momento para o outro, o mercado perdeu um abastecimento diário de 5,7 milhões de barris. A oferta nunca tinha sofrido uma queda desta magnitude, mesmo com os muitos conflitos que devastaram a região e que, às vezes, fecharam as torneiras dos principais produtores. Isto explica o aumento súbito de 20% do preço do barril. Felizmente, vários fatores moderaram a subida. Uma após outra, as várias autoridades anunciaram a intenção de recorrer aos stocks para substituir a produção em falta. Foi o caso dos Estados Unidos, onde o presidente autorizou o uso de mais de 600 milhões de barris de reservas estratégicas. Com o passar das horas, também se constatou que a produção saudita seria restaurada, pelo menos em parte, mais depressa do que o previsto. Estes fatores justificam o facto dos mercados financeiros se terem mantido calmos, com o Stoxx Europe 50 a fechar essa semana com uma valorização de 0,9%.
Uma pedra no sapato dos bancos centrais
Os ataques de 14 de setembro não deixaram de ter consequências. A instabilidade deverá permanecer elevada nesta região, que é crucial para o aprovisionamento de petróleo. Se as tensões se intensificarem no Médio Oriente, a subida do preço do petróleo poderia estimular o aumento da inflação, o que colocaria as autoridades monetárias numa situação difícil. Somente com uma taxa de inflação baixa é que é possível manter as taxas de juro a níveis reduzidos.
De facto, uma escalada dos preços forçaria os bancos centrais a restringir a sua política monetária, o que seria o pior cenário possível. Um aumento das taxas de juro seria insustentável para os agentes económicos altamente endividados. Os mercados financeiros sofreriam correções muito significativas e a bolha imobiliária, em formação em vários países, poderia explodir. Como em 2008, essa nova crise financeira devastaria a economia mundial. Ainda assim, para chegarmos a essa situação teria de haver uma guerra aberta entre o Irão e a Arábia Saudita, que interrompesse a produção de petróleo na região por um longo período.
Teoricamente não é impossível mas é muito improvável. Mesmo não considerando este cenário catastrófico, as tensões no mercado petrolífero não são boas notícias para a economia mundial. O aumento do preço do petróleo favorável às petrolíferas a curto prazo, mas penalizaria o consumo privado a médio prazo, que é o motor das economias dos países desenvolvidos e, por consequência, do crescimento global.
Qual o caminho do preço do ouro negro?
O retorno das tensões geopolíticas no Médio Oriente levou o preço do barril de brent (petróleo do Mar do Norte) para valores acima dos 65 dólares. A subida foi significativa mas deve ser relativizada, pois o barril permanece distante do seu valor mais alto deste ano (75 dólares em abril) e do máximo relativo de outubro do ano passado (86 dólares). De fato, o preço do petróleo caiu bastante nos últimos meses. Em causa está o abrandamento das grandes economias mundiais consumidoras de ouro negro, como a China, os Estados Unidos e a Europa.
Este menor dinamismo da procura, visível há vários meses, combinado com um aumento da produção dos países fora da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), levou-nos, nas últimas semanas, a reduzir as previsões do preço do petróleo para cerca de 60 dólares no final de 2019 e para 65 dólares para o conjunto do ano 2020 (contra uma estimativa anterior de 75 dólares, no início do ano). Se as tensões no Médio Oriente persistirem ou piorarem, o prémio de risco geopolítico mais elevado aumentaria ainda mais o preço do petróleo, com alguns especialistas a considerarem um valor à volta dos 75/80 dólares.
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Consequências nos seus investimentos
Embora o aumento do petróleo tenha tido pouco impacto nas carteiras de investimento até ao momento, mais do que nunca, o investimento deve ser feito numa perspetiva de longo prazo, no mínimo 5 anos. Ter um horizonte temporal de investimento mais alargado permite que sejam superadas mais facilmente eventuais quedas dos mercados financeiros. Deve também diversificar corretamente os seus ativos, entre ações, obrigações e investimentos sem risco.
Os nossos conselhos de compra
Aproveitando as expectativas de um petróleo mais caro nos próximos meses, o setor recuperou um pouco nos dias seguintes ao ataque. Porém, o rendimento desde o início do ano é de "apenas" 12,4% (em euros e com reinvestimento dos dividendos) contra 23,1 % do índice global mundial (cotações a 27 de setembro). Porquê esta diferença? Em primeiro lugar, porque os resultados do primeiro semestre saíram abaixo do esperado devido ao declínio do preço do ouro preto. Em segundo lugar, porque os investidores estão cautelosos com as petrolíferas, que têm assumido grandes riscos com planos de expansão agressivos.
É preciso cuidado também com empresas mais pequenas que baseiam o seu crescimento no petróleo de xisto nos EUA, como a EOG Resources e a Marathon Oil, porque a sua rentabilidade é algo incerta. Por fim, o endurecimento das exigências ambientais, sociais e de "governance" está a alimentar alguma desconfiança relativamente às empresas petrolíferas.
Contudo, o setor também possui trunfos importantes. É financeiramente sólido e capaz de aumentar com regularidade a remuneração dos acionistas, através do crescimento dos dividendos (rendimento bruto de 5,5 %, em média). As principais empresas petrolíferas também cortaram custos nos últimos anos e reviram os seus planos de crescimento para permanecer lucrativas, mesmo em situações em que o petróleo convencional desça para valores entre os 35 e os 50 dólares por barril. Aos níveis atuais, o setor está a negociar a cerca de 12 vezes o lucro previsto para 2019, o que é um nível baixo comparativamente com as 16 vezes dos últimos anos. Logo, deve aproveitar este desconto para se posicionar, diversificando a sua carteira através de uma ou duas das ações abaixo recomendadas.