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Contas à ordem: Ter conta é mais caro

Quanto paga todos os anos ao banco para utilizar a "sua" conta, o "seu" cartão, os "seus" cheques e transferir o "seu" dinheiro?

22 de Março de 2016 às 10:05
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Uma centena de euros. Em números redondos, é quanto custa, todos os anos, ter uma conta no banco. Aqui e ali, o banco vai cobrando comissões sob os mais variados pretextos. Pelo processamento da prestação do crédito à habitação. Pela emissão de cheques. Pela emissão de um cartão Multibanco, que até tem validade superior a um ano, mas pelo qual se paga anualmente. Pelo cartão de crédito, que facilita os pagamentos no estrangeiro. Ou simplesmente porque o cliente fez uma transferência interbancária, mesmo que tenha recorrido à internet para a concretizar sozinho, sem dar trabalho ao funcionário do banco.

Por quase tudo aquilo que já pagava ao banco em 2007, antes de a última crise ter invadido o país, agora paga ainda mais. E, por muito daquilo que não pagava ao banco há uma década, agora paga. E, em termos percentuais, os aumentos quase sempre têm mais de um dígito. Para ter uma ideia mais clara do agravamento do custo de vida de quem tem uma conta bancária, tomemos como exemplo um cliente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), o banco com a maior quota de clientes em Portugal. Ter um cartão Multibanco, realizar uma transferência interbancária mensal e emitir todos os meses um cheque custa, ao fim de um ano, 35,52 euros. Mas a este valor somam-se as comissões de manutenção, que, nos dias que correm, chegam já aos 61,78 euros para quem tem saldos médios abaixo dos 5 mil euros. Logo, o custo anual de manter uma conta na CGD passa os 97 euros. Para quem tem um saldo médio de 2 mil euros, trata-se de um aumento de 714% em nove anos.

Comissões de manutenção não prestam serviço

O fenómeno repete-se, em maior ou menor escala, nos outros bancos. Tal como advertimos por diversas vezes, um dos principais agravamentos ocorre mesmo nas comissões de manutenção aplicadas aos clientes com contas à ordem. De entre os bancos que os praticam, e para um saldo médio até 1.000 euros, estes encargos variam entre os 49,92 euros anuais do Banco BIC e os 104 euros do Barclays, cujo negócio em Portugal passará, a partir de abril, a ser detido pelo Bankinter. Em alguns casos, as despesas de manutenção são agravadas em contas com saldos médios inferiores a 1.000 euros, penalizando claramente quem tem menos recursos.

Já o Atlântico Europa e os designados bancos online - ActivoBank, Banco BiG e BestBank - continuam a prescindir de tais comissões. São, aliás, os únicos que estão em conformidade com a lei que entrou em vigor em outubro e que proíbe a cobrança de comissões quando o banco não associa a prestação de um serviço à despesa. Ora, aplicar comissões pela simples existência de uma conta, sem a qual o cliente não pode contratar outros produtos comercializados pela instituição, viola a lei. Aparentemente, essa não tem sido a interpretação de vários bancos, o que nos faz exigir uma clarificação. Ou o Banco de Portugal define o que entende por "serviços efetivamente prestados" ou o legislador proíbe de forma expressa a cobrança de comissões de manutenção.

Poupe dezenas de euros por ano

Nas fichas que apresentamos, encontra recomendações que o podem ajudar a evitar boa parte das despesas inerentes à manutenção de uma conta e à utilização de alguns produtos.

Domiciliar o ordenado é uma decisão reconhecida pela generalidade dos bancos como compromisso de fidelização dos clientes e garantia de entrada regular de capital na conta. Tal é quase sempre recompensado com a isenção de encargos de manutenção e, em determinados casos, por meio da gratuitidade dos cartões de débito ou de crédito. Se puder domiciliar o ordenado, trata-se de uma boa estratégia para poupar umas boas dezenas de euros anualmente.

Quem prefere um banco tradicional, mas recorre ao "homebanking" para gerir a conta através da internet, pode contornar algumas comissões ou, pelo menos, reduzir o seu valor. No Crédito Agrícola, no BPI, no Novo Banco, no ActivoBank e no Best Bank, as transferências realizadas através do "homebanking" permanecem sem custos.

Mais difícil é conseguir um cartão Multibanco sem ter de pagar anuidade. Esta benesse só está ao alcance dos clientes do ActivoBank. Poderá até ser possível a quem prefere os demais bancos, mas só se cumprir certos requisitos, como a adesão a determinados produtos ou serviços. Entretanto, os bancos, que até ganharam com a proliferação dos cartões de débito e o afastamento de muitas pessoas dos balcões, continuam a aumentar as anuidades.

O setor bancário tem justificado as recentes subidas de preços com a necessidade de compensar a quebra de receitas a que está sujeito desde que a União Europeia limitou a cobrança de taxas aos comerciantes pela utilização de terminais de pagamento com cartões. No entanto, estas alterações comunitárias tinham como objetivo gerar ganhos para o consumidor.

A banca entende agora que tem de ser compensada, embora os aumentos já estivessem a acontecer em anos anteriores. Longe vão os tempos em que ter uma conta à ordem era sinónimo de juros a multiplicar o saldo depositado.
 


• Multibanco

2007 - 6,56€
2016 - 14,63€
aumento - 123%

Os bancos agravaram, na última década, as anuidades dos cartões de débito. Só a Caixa Geral de Depósitos, que tem a maior quota de clientes, cobra atualmente 18,72 euros por esta anuidade, a segunda mais cara. Apenas o ActivoBank não cobra a comissão. Nos bancos que o fazem, custa, em média, 14,63 euros por ano. Tendo em conta que o cartão de débito já se tornou num produto essencial no dia a dia dos consumidores e que a sua utilização gera enormes ganhos para os bancos, as anuidades devem ser sujeitas a um limite.


• Comissões sobre cheques

Como evitar?

Privilegiar outras formas de pagamento é a melhor estratégia. Se possível, opte por pagamentos eletrónicos ou por transferências no Multibanco, ambas sem custos.
Algumas contas-ordenado e contas-pacote ("pack") oferecem exemplares de cheques gratuitos. Requisite os cheques através da internet, em vez de o fazer ao balcão, onde são mais caros. Opte por cheques cruzados e não à ordem.
Antecipe o número de cheques de que poderá vir a precisar nos próximos 12 meses. Pode ser vantajoso requisitar um número elevado de unidades, já que isso, no geral, reduz o preço de cada cheque.
Tenha em atenção a validade dos cheques, mencionada na frente do documento. Se não tiver data de validade, pode ser usado em qualquer altura. Mas, se a apresentar, só pode usar esse cheque unicamente até à data-limite, sob pena de não ser aceite pelo banco.



• Cheques

2007 - 0,40€
2016 - 0,93€
aumento - 130%

Os cheques estão a cair em desuso, mas ainda há situações em que os meios de pagamento eletrónicos não estão disponíveis ou em que o uso dinheiro não é recomendável, tendo em conta os avultados valores envolvidos. O cheque continua, assim, a ser o instrumento mais adequado para alguns pagamentos. Mas, por exemplo, na Caixa Geral de Depósitos, o preço mais do que duplicou em cerca de uma década. Também aqui se impõe uma limitação nos aumentos anuais, evitando que o custo os torne inacessíveis.


Comissões sobre transferências

Como evitar?

Utilizar o Multibanco para efetuar transferências bancárias constitui a forma mais prática de evitar as comissões sobre as transferências interbancárias.
Não lhe sendo possível recorrer ao Multibanco, prefira as transferências realizadas pela internet, com recurso ao "homebanking".
As transferências online são mais baratas do que as realizadas ao balcão e, em algumas instituições, até se revelam gratuitas.
Algumas contas-ordenado e contas-pacote ("pack") incluem um determinado número de transferências interbancárias gratuitas.
Se for titular de uma destas contas e não ultrapassar o número de transferências previsto, consegue realizar todas as operações ao longo do ano sem ficar sujeito a encargos.


Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.


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