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Lisboa ainda “tem muito por onde receber turistas”, mas “faltam-lhe políticas de habitação”

Sem respostas, mas com críticas e com posições muito diferentes. Na conferência sobre o futuro da cidade, que decorre em Lisboa esta terça-feira, 18 de Abril, o turismo, o alojamento local, a lei das rendas e a especulação imobiliária estiveram no centro do debate.

43º – Lisboa, Portugal
18 de Abril de 2017 às 14:53
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Vítor Costa, presidente do Turismo de Lisboa, não tem dúvidas: a cidade está longe de uma "sobrecarga" e "globalmente, em termos de destino turístico, ainda pode crescer muito", nomeadamente para zonas mais afastadas do centro, que ainda recebem poucos visitantes. Em média, diz, a cidade tem "40 mil a 50 mil [turistas] por dia" e fica ainda muito longe dos níveis "de Veneza ou Barcelona", afirma o responsável.

Nada contra, responde, por seu turno, Leonor Duarte, do movimento "Quem vai Poder Morar em Lisboa". Na sua opinião, o turismo "em si mesmo não é um problema, o problema é a forma como se lida com ele". Por isso, sublinha, "vemo-lo com bons olhos e consideramos que o que é importante é fazer uma regulação adequada e justa para que, evoluindo de forma descontrolada, não venha a causar danos irreparáveis". Na prática, considera, "falta uma política de habitação".

Vítor Costa e Leonor Duarte foram dois dos participantes nos painéis da conferência "Lisboa, que futuro?" que decorre esta terça-feira, 18 de Abril, no ISCTE, em Lisboa. Uma questão que cada vez mais tem vindo a ser colocada, num contexto em que a cidade atrai cada vez mais turistas e há cada vez mais imóveis destinados a hotéis ou ao alojamento local. Tudo isso, conjugado com a reforma das rendas – que permitiu libertar habitações com rendas congeladas – e com a escalada dos preços das rendas e dos próprios imóveis, coloca a cidade no epicentro de uma "tempestade perfeita", como afirmou ao Negócios a socióloga e especialista em urbanismo Sandra Marques Pereira, coordenadora da conferência.

A resposta à pergunta colocada está, contudo, longe de ser óbvia e muito menos unânime.  Para já, uma coisa é certa, lembrou Vítor Costa: o turismo na cidade "é um fenómeno que cresceu e vai continuar a crescer, cada vez há menos destinos para onde se pode ir, e portanto Lisboa é uma excelente alternativa". E, logo a seguir, vem o argumento financeiro: "estamos a falar de uma coisa séria, que não pode ser tratada com ligeireza. São 140 mil empregos na região de Lisboa, 80 mil na cidade" e em 2015 a produção turística "foi igual a 4,7 vezes a produção na Autoeuropa".

Mas então que se aposte em alternativas sérias para quem cá vive e que está cada vez mais a ser empurrado para fora do centro pelos altos valores das rendas praticadas e dos preços dos imóveis, contrapõe Leonor Duarte. "Os lisboetas são pobres e depois também há os pobrezinhos de Alfama", ironizou. "Há um problema grave ao nível da cidade democrática. As pessoas não compreendem o que se está a passar. A classe média também está a ser expulsa da cidade, está a criar-se uma grande desigualdade social. Uma renda acessível aqui, uma renda condicionada ali, um bairro social acolá… isto não é uma política pública", rematou.

A conferência prossegue durante a tarde com o testemunho de especialistas de cidades como Milão ou Barcelona, que já passaram por situações semelhantes à que se assiste agora em Lisboa.


Comércio: Descaracterização ou modernidade?

A loja que vende conservas em pleno Rossio e a cuja porta se fazem longas filas de turistas foi um dos exemplos mais vezes referidos pelos oradores e pela assistência da conferência "Lisboa, que futuro?" organizada pelo ISCTE. Muito colorida, com uma decoração que nada tem a ver com as lojas antigas que existem naquela zona da cidade, foi apontada como um bom exemplo de empreendedorismo por Carla Salsinha, presidente da União de Associações do Comércio e Serviços. Do outro lado, lembrou as muitas "lojas de recuerdos" que abrem um pouco por todo o lado no centro histórico. "É importante pensar o tipo de lojas, e ver a forma como se pode possibilitar a manutenção de comércio diferenciador", considerou Carla Salsinha. Na sua opinião, o "comércio diferenciador está a ser substituído por um nível de comércio muito baixo" e "falta uma estratégia para o comércio da cidade. O que é que queremos oferecer ao turista quando chega? E a quem vive na cidade? Se só temos a Avenida da Liberdade, para classes altas, ou lojas ‘low cost’, de recuerdos, deixa de ser apetecível vir à cidade", alertou.

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