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Hóteis de luxo tornam-se casas devido à pandemia
A ideia ressurgiu no início da pandemia, quando os clientes quiseram passar a quarentena nos sítios onde habitualmente vão de férias.
Depois de uma Primavera calma, Julie Danziger, managing partner da consultora de viagens Embark Beyond, passou a maior parte de junho e julho a fazer marcações em alternativas interessantes a nível doméstico para os seus clientes. Estes, normalmente preferem vivendas italianas e resorts na Grécia no fim do verão. Mas algo estranho aconteceu em agosto: ninguém estava pronto para ir para casa.
"De repente, todos os meus clientes estavam a perguntaram onde poderiam passar o resto do ano", explica Danziger, ao mesmo tempo que aponta exemplos como Cape cod, em Massachussets, Cabo de São Lucas, na Califórnia e Saint Barthélemy.
A maioria dos clientes de Danziger que estão sediados em Nova Iorque têm segundas residências nos Hamptons de Nova Iorque ou ao longo da costa de New Jersey, e, muitas vezes, ainda uma terceira na Florida ou em Aspen, no Colorado. Contudo, nenhum mostrou interesse em ocupar uma das suas moradias. Em vez disso, queriam uma pseudo quarta casa: um hotel.
Viver em hotéis não é, de forma alguma, uma nova ideia; uma mão cheia de propriedades em Nova Iorque e Los Angeles receberam atores, artistas e outros bon vivants para estadias de longa-duração nas últimas décadas. A ideia ressurgiu no início da pandemia, quando os clientes quiseram passar a quarentena nos sítios onde habitualmente vão de férias.
Contudo, com o prolongar do tempo em que o trabalho – e estudos – passaram a ser feitos a partir de casa, muitos americanos estão a ficar menos presos às suas casas. Estão a apostar em reservar hotéis por mais de um mês que poderá evitar, com estilo, o confinamento durante a época mais fria do ano.
Para lidar com a "enxurrada" de pedidos, Danziger fez, numa folha de cálculo, tudo o que os hóspedes podem precisar para uma estadia de longa duração: serviço de lavandaria, lugares de estacionamento, opções de pequeno almoço rápidas. Depois, começou a fazer propostas aos resorts de preços ajustados – não foi preciso muito tempo a convencê-los. Memso hotéis e resorts que normalmente não fazem descontos mostraram-se ávidos por recuperar as perdas com esta nova fonte de receita; as propostas de Danzinger trazem não só clientes às suas instalações como também reanimam o negócio de comes e bebes.
"Tenho obtido descontos de 30%, 40% e até 50% nas melhores opções para estadias entre um e três meses em sítios como Amanyara, o Four Seasons Anguilla e Montage Laguna Beach", afirma Danziger. Como resultado, esta consultora criou a Embark Longer, uma marca de spinoff na agência para onde são dirigidos os pedidos de estadias longas que continuam a chegar.
Danzinger não é a única a olhar atentamente para o segmento das reservas multi-mensais. Um quarto dos hóspedes no Timber Kaua, no Havai, estão de momento a usufruir de estadias acima de 30 dias; Gurney’s Montauk, um típico refúgio de fim-de-semana em Long Island, Nova Iorque, também reporta múltiplos visitantes que se instalam por um mês. A Ocean House, também em Long Island, antecipa também três famílias em estadias longas no outono.
A procura tem sido tão forte que algumas empresas já estão a formalizar esta oferta. O Auberge Resorts, que detém 19 hotéis em todo o mundo, incluindo o recentemente renovado Mayflower Inn & Spa em Connecticut e o hotel-aventura Madeline Hotel em Telluride, no Colorado, é um exemplo disso mesmo. Uma estadia de dois meses nestes alojamentos pode ter 30% a 40% de desconto na dormida, e oferece serviços de tutoria para as crianças. Algumas ofertas incluem kitchenettes a pedido, cuidados com os animais de estimação e lavandaria. Nestes hotéis, o aumento da duração da estadia já é de 300%.
O turismo a nível internacional ainda está altamente limitado para americanos, mas nem tudo está perdido para aqueles que queiram viver uma vida de expatriados numa ilha. Uma parte do plano dos Barbados para reavivar o turismo, anunciado pelas Caraíbas, inclui um selo de Boas-vindas de doze meses, lançado no final de junho; por uma taxa de 2.000 dólares, os portadores de visto podem trabalhar remotamente, sem pagar impostos, durante um ano inteiro. Para ajudar os detentores destes selos a instalarem-se, o Hilton Barbados Resort está a oferecer tarifas que começam nos 2.500 dólares por mês, com a oportunidade de requisitar um escritório com vista para o mar mas também de usar os serviços de entregas do hotel para transportar bens pessoais dos clientes.
De forma semelhante, o certificado lançado recentemente pelas Bermudas, o Work From Bermuda, encoraja os nómadas digitais a mudarem-se para o país por 263 dólares. Sascha Hemmann, o diretor do Rosewood Bermuda, diz estar preparado para "negociar uma tarifa competitiva" para estadias alargadas.
O primeiro acordo que ele assinou incluía seis semanas no quarto King com vista para o mar, com um grande desconto no spa e nos serviços de lavandaria, assim como um carro de golfe privado para se deslocar pela ilha. O preço não foi revelado.
O mesmo está a acontecer nos hotéis urbanos. Mesmo com 30% de desconto, uma estadia reservada recentemente no Rosewood Miramar Beach, numa residência de dois quartos na Califórnia, custa cerca de 1,1 milhões de dólares. E tanto no Beverly Hills Hotel como no Hotel Bel-Air em Los Angeles se tem assistido a um pico nas reservas de 90 dias desde o advento da covid-19 – sobretudo no que diz respeito a nativos de Los Angeles.
"Estes hóspedes não se sentem seguros nas suas próprias casas com membros do staff a saírem e a entrarem, sem protocolos em vigor", explica Ed Mady, o diretor regional da Dorchester Collection. Por outro lado, os hotéis geridos por Mady possuem serviços de enfermaria, assim como um diretor dedicado de gestão de risco para assegurar o cumprimento com as linhas guias das autoridades de saúde.
Danziger está a verificar pedidos cada vez mais prolongados de estadias também em Nova Iorque, incluindo uma reserva de três meses no Mark e outra de dois meses no Carlyle, feitas por clientes residentes em Nova Iorque.