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"Crise política não deve prejudicar turismo, mas pode atrasar investimento"
António Ramalho e Gonçalo Moura Martins desvalorizam o impacto do atual cenário de instabilidade em Portugal e no mundo no setor do turismo, mas apontam-lhe desafios para continuar a crescer. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez foi gravado ao vivo na BTL e vai para o ar esta segunda-feira.
O turismo em Portugal registou máximos históricos em 2024 e "pode continuar a crescer", assegura António Ramalho, que considera que a atual crise política em Portugal é apenas "mais uma, numa sociedade que cada vez se torna economicamente mais independente do Estado".
No 27.º episódio do podcast Partida de Xadrez, gravado ao vivo na Bolsa de Turismo de Lisboa e que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, o gestor não antecipa "nenhuma alteração da tendência de crescimento que temos vindo a manter", ainda que admita que "o investimento é sempre afetado por qualquer crise política, em qualquer país, em qualquer momento".
Em seu entender, "o turismo precisa de decisões de investimento, mas sobretudo o setor industrial não turístico para que substitua a excessiva importância que o turismo tem neste momento, quer nas exportações, quer no equilíbrio e na sustentabilidade das contas públicas e externas portuguesas".
Gonçalo Moura Martins concorda que o setor "não será afetado" pela crise provocada pela queda do Governo. "A economia portuguesa passou a ter uma independência das decisões políticas e administrativas", afirma, acrescentando que as decisões de investimento "começaram a ser tomadas com base em critérios técnicos e objetivos, não dependendo muitas vezes dos ciclos políticos".
Também sobre o aumento da incerteza global, causada designadamente pelas medidas tomadas da Administração Trump, os dois gestores não antecipam consequências no turismo em Portugal.
António Ramalho não tem dúvidas que o setor pode continuar a crescer, designadamente nas receitas, mas alerta que há constrangimentos como a falta de capacidade do aeroporto de Lisboa.
Já Moura Martins avisa que para esse crescimento há desafios "que não se devem subestimar", salientando a necessidade "de fazer um upgrade na oferta e perceção de valor, libertando um pouco do turismo massificado, de pouco valor acrescentado, de renda unitária baixa e de muita curta duração".
Além de defender uma maior distribuição geográfica e temporal, o gestor considera que a segunda dimensão desse crescimento "tem que ser subir na cadeia de valor". Também na área laboral vê desafios, alertando que esta classe setorial tem que ser estabilizada, adequadamente formada e bem remunerada".
"O turismo tem hoje um peso excessivo na economia, mas por mérito próprio e demérito dos restantes setores", aponta Moura Martins, que salienta o impacto "dramático" que teriam as contas públicas portuguesas sem turismo. "Em 2024 se não fosse o turismo a balança de pagamentos correntes era deficitária em 20 mil milhões. Ela é positiva em 6 mil milhões por causa do turismo".