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Um voo da TAP até ao passado com escala em Toronto e cores de 1970

A TAP levou até Toronto o seu avião com pintura "retro" dos anos 1970, mas o passado não ficou só nas cores da fuselagem. Toda a experiência a bordo foi uma viagem no tempo, desde as fardas da tripulação até aos menus, passando pela oferta de pasta dentífrica Couto.

16 de Julho de 2017 às 15:15
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Estamos a bordo de um avião da TAP na década de 1970. As fardas das assistentes de bordo são desenhadas pelo consagrado estilista francês Louis Féraud. Na cauda, surge o icónico logótipo verde com o T e o P a caírem sobre o A. Os passageiros participam no jogo dos furos dos chocolates Regina e comem terrinas de faisão, utilizam pasta dentífrica Couto, brincam com o jogo Sabichão, aplicam colónia de lavanda e creme de mãos Benamôr.

 

Estamos só a imaginar, mas todos estes elementos da memória nacional estiveram presentes no voo 259 que a TAP fez para Toronto na passada sexta-feira, 14 de Julho, e que se transformou numa verdadeira viagem ao passado. A viagem recriou a experiência de voar nos anos 1970 com destino a uma das novas rotas que a companhia começou a operar este Verão com um toque "vintage" conjugado com a sofisticação da era contemporânea.

 

Chegando ao aeroporto, duas assistentes de bordo fardavam peças azul-marinho e amarelo, precisamente as que eram utilizadas naquela década, junto aos balcões de check-in. A viagem foi feita no Airbus A330-300 que a TAP pintou com a sua imagem corporativa dos anos 1960 e 1970, que então "vestia" a frota de aviões a jacto e a hélices da transportadora aérea portuguesa, fundada um par de décadas antes, em 1945.

 

As viagens eram diferentes, naquele tempo. Viajar de avião era um privilégio ao alcance de poucos. Os aeroportos não eram a confusão que são hoje, os passageiros não eram sujeitos aos apertados controlos de segurança da actualidade – nem tinham de limitar os líquidos na mala de cabine a 100 mililitros. A bordo não iam uns em cima dos outros – longe disso. Podia-se fumar e era comum ir ao cockpit conversar com os pilotos.

 

"Tenho algumas saudades desse tempo", conta Cristina Melo, assistente de bordo da TAP desde 1974, que desempenhou o cargo de chefe de cabine nesta viagem. "Eram mais dias fora, havia menos passageiros nas viagens. Tenho saudades das estadias em viagem", recorda. Porém, tudo muda e, agora, valoriza as inúmeras rotas que a TAP está a operar. Lembra-se da primeira viagem que fez como hospedeira? "Lembro pois. Foi uma viagem Lisboa-Amesterdão-Copenhaga". Mas essa "não teve estadia, foi ir e vir".

 

Apesar de ter recriado com minúcia vários pormenores das viagens aéreas dos anos 1970, este voo não descolou de 2017 nos aspectos de segurança. Ir ao cockpit nem pensar (as autoridades aéreas canadianas são irredutíveis em proibir essas visitas); fumar, muito menos. Espaço nos bancos, só para quem ia em executiva – o que foi o caso do Negócios.

 

A homenagem à "época extraordinária" da TAP

 

Além de bolsas especiais para os cartões de embarque – hoje em dia praticamente em vias de extinção – e etiquetas para a mala com a imagem retro, os passageiros que fizeram esta viagem receberam, na porta de embarque, um "Diploma de Viajante no Tempo", assinado por Fernando Pinto, presidente da TAP e com a imagem da aeronave que iria voar pouco depois. "Certificamos que viajou no tempo, aos anos 70, a bordo de um avião da TAP em 2017". Caso ainda houvesse dúvidas.

 

O autocarro que transportou alguns dos passageiros para a aeronave também ostentava o mesmo logótipo que surge no estabilizador vertical – vulgo cauda – do avião "retrojet". Antes de subir a bordo, a tripulação desceu toda para a fotografia da praxe, em frente ao avião. Para operar esta viagem viajaram a piloto Rita Barbas (identificável pelas quatro faixas na manga do casaco) e o co-piloto (com três faixas), oito hospedeiras e um comissário de bordo. Três fardavam amarelo, duas azul-marinho, três vermelho e o comissário de bordo vestia um blazer bordô. E todas traziam um chapéu.

 

Rita Barbas lembra-se do Boeing 747 em que viajou quando abandonou Luanda, onde nasceu, na altura da ponte aérea (não a que hoje liga Porto a Lisboa, mas a que foi buscar os retornados às colónias após o 25 de Abril). Filha de um militar da Força Aérea, Rita Barbas é uma das oito comandantes do sexo feminino na TAP. "Nasci numa base aérea, estava habituada a aviões. Lembro-me de, nessa viagem, ter ido ao ‘upper deck’ (piso superior) do 747, de ir ao cockpit e ver muitas luzes. Talvez se tenha feito aí o clique", admite. Rita está há 29 anos na TAP – sete como assistente de bordo, nove como co-piloto e 13 como comandante.

 

Quanto à imagem escolhida pela companhia para pintar este Airbus A330 – modelo que está a pilotar há apenas dois meses – ela não podia ser mais acertada. "Esta é uma pintura vintage que está na memória de muitos portugueses, especialmente dos que nasceram em África, como eu". Abílio Martins, vice-presidente da companhia, classificou esta imagem como a que faz "homenagem à época extraordinária da TAP".

 

Ganhar chocolates a furar uma caixa e beber Porto de 1972

Para que nada fugisse à década em que Portugal voltou a viver em democracia, a TAP foi ao baú (vulgo museu) buscar os menus da época e construiu duas opções com raiz portuguesa e alguma inspiração do estrangeiro: para entrada salada de camarão ou terrina de faisão; o prato principal era bacalhau à Zé do Pipo ou bife do lombo à portuguesa. Tudo com toque do chef com estrela Michelin Miguel Laffan, do L’And Vineyards.

 

No entretenimento a bordo (algo que seria uma absoluta novidade nos anos 1970) havia filmes da época e uma playlist com as músicas que então viajavam nas ondas da telefonia.

 

À sobremesa, foi servido vinho do Porto Graham’s de 1972. E pouco depois de terminada a refeição, a tripulação foi buscar o famoso jogo dos furos dos chocolates Regina. Cada passageiro podia furar a caixa; cada vez que algum o fazia, caía uma bola colorida que determinava qual o chocolate que tinha ganho. Este jogo já tem alguns anos. Tantos anos que os dois tripulantes que estiveram a apresentá-lo aos passageiros – os dois na casa dos 30 anos – tiveram que pedir ajuda à supervisora Cristina Melo para perceber exactamente como podiam recolher a bola.

 

Um deles, o comissário de bordo Tiago Garrido, de 32 anos, teve "desde sempre" contacto com o mundo da aviação. A mãe trabalhava na brasileira Varig, que entretanto desapareceu, e Tiago está há 10 anos na companhia de bandeira portuguesa. Lembra-se do primeiro voo que fez. Tinha 14 anos e foi, precisamente, na TAP, para Natal. E garante que vai guardar a farda especial que recebeu para este voo. "Daqui a 10 anos vai valer muito dinheiro", diz entre risos.

 

À chegada a Toronto, o Airbus A330 foi recebido na placa por um verdadeiro batalhão de repórteres e de entusiastas da aviação, que fotografaram e filmaram todos os detalhes deste voo inédito. O avião regressou pouco depois a Portugal mas esta não foi a única viagem ao passado organizada pela TAP. A próxima terá como destino São Paulo, a 2 de Agosto, estando ainda programadas viagens a Miami (11 de Agosto), Rio de Janeiro (6 de Setembro) e Luanda (29 de Setembro).

* Jornalista viajou a convite da TAP

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