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Pires de Lima diz que negócio com Airbus teve "preço de mercado" e não acredita em conluio

Há suspeitas de que a TAP terá pago um preço excessivo por aviões da Airbus, beneficiando David Neeleman. O antigo ministro da Economia diz que Portugal ficou a ganhar e não acredita em conluio para prejudicar a empresa.

Miguel A. Lopes / Lusa
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António Pires de Lima diz que continua "convencidíssimo de que o negócio que se fez [com a Airbus] foi feito a preços de mercado". Em declarações na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, o antigo ministro do Governo PSD/CDS entende que "a TAP não foi prejudicada e bem pelo contrário".

"Através destes fundos Airbus, [a TAP] foi capitalizada em 226 milhões de euros e, com isso, conseguiu iniciar um projeto de desenvolvimento e crescimento que durou até 2019", disse aos deputados.

Esta tem sido uma das polémicas mais escrutinadas durante as audições parlamentares sobre a TAP. Estão em causa suspeitas de que a empresa portuguesa terá saído prejudicada num negócio com a Airbus, que envolveu David Neeleman.

Uma auditoria pedida pela TAP no ano passado apontou nesse sentido, o que levou à abertura de um inquérito pelo Ministério Público, que ainda está em curso.

Neste negócio, a companhia aérea desistiu do contrato de leasing de 12 aeronaves A350 que tinha com a Airbus e celebrou um novo com a mesma empresa para a compra de 53 novos aviões. Está em causa a suspeita de que a TAP terá pago um preço excessivo pelos novas aeronaves — face ao valor pago pelos concorrentes — e que David Neeleman terá recebido mais de 200 milhões de euros da Airbus, usando esse dinheiro para entrar no capital da TAP.

Pires de Lima, no entanto, contesta, dizendo que "os portugueses beneficiaram" desta operação, bem como "os empregados da TAP e a economia portuguesa", porque "os aviões modernizaram" a companhia aérea, que "cresceu 65% em quatro anos". Mas reconhece que "também beneficiou os fornecedores".

O antigo ministro realça ainda o papel de David Neeleman, que descreve como "um empresário hábil", porque procurou financiamento "num fornecedor que foi muito beneficiado com a mudança do plano estratégico" da TAP.

"Seria situação muito insólita"

Pires de Lima recusa que o Estado possa ter sido vítima de um conluio. "Não acredito que uma empresa com as responsabilidades da Airbus e que empresários como Neeleman e Pedrosa estivessem em conluio para enganar o Estado português", disse aos deputados.

Se a auditoria pedida pela TAP, que Pires de Lima desvaloriza, fosse verdade, "estaria a pôr em causa a honorabilidade do senhor [David] Neeleman, do senhor [Humberto] Pedrosa, de quem os assessorou, da Airbus, do engenheiro Fernando Pinto, dos restantes membros do conselho de administração da TAP, de todos os membros — não a vulnerabilidade mas a competência ou diligência de todos os membros — que fizeram parte do conselho de administração da TAP em 2016 e 2017 e também estaria a pôr em causa os 'apraisals' [elogios] que foram feitos por três empresas independentes em 2015", referiu o antigo governante.

"Tenho muitas dúvidas de que todas as pessoas que tenham trabalhado neste dossier tenham estado enganadas ao longo dos últimos anos", acrescentou, para depois ir mais longe: "Tenho muitas dúvidas que as empresas de leasing — acho mesmo impossível — que as empresas que fizeram os leasings dos aviões aceitassem fazê-los se eles tivessem sido comprados a preços absurdos. Não vejo nenhuma empresa de leasing a financiar a compra de aviões a preços fora de mercado". Seria "uma situação muito insólita", disse Pires de Lima.

Em todo o caso, apesar de achar "altamente improvável" que os aviões tenham sido comprados acima do preço de mercado, num processo de capitalização ilegal, Pires de Lima afirma que, se esse for o caso, se todos foram levados ao engano, "tem de se tirar consequências, com certeza". E diz confiar no trabalho das instituições judiciais.

Última atualização: 18:37
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