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Neeleman garante que Passos Coelho e António Costa sabiam do negócio Airbus

Num artigo de opinião publicado no Expresso, o gestor critica ainda a decisão "ideológica" da reversão da privatização e deixa o recado que o empréstimo feito pela Azul “ainda não foi reembolsado”.

Sara Matos
10 de Março de 2023 às 12:42
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O empresário norte-americano David Neeleman quebrou o silêncio e veio defender-se face às notícias sobre o contrato de renovação da frota de aviões da Airbus que terá lesado a TAP em 400 milhões de euros. Num artigo de opinião publicado esta sexta-feira no semanário Expresso, o antigo acionista da TAP - que ganhou a privatização da companhia em 2015 com o consórcio Atlantic Gateway - refuta que tenha prejudicado a empresa e assegura que quer o Governo PSD quer PS conheciam os termos do negócio.


"No início de 2015, fui contactado pelo Governo português para me convidar a concorrer à privatização. Eu não conhecia Portugal e depois de uma análise à TAP rapidamente concluímos que se encontrava numa situação financeira de absoluta emergência: era uma empresa falida, completamente descapitalizada, sem tesouraria e em risco de não conseguir pagar salários", começa por explicar o empresário no artigo intitulado "Comprar como pelo do cão quando a TAP não tinha pelo?".


Apesar deste cenário, para demonstrar o "compromisso" com o processo de privatização, o gestor e seu sócio, Humberto Pedrosa, através da Atlantic Gateway, "aceitaram pagar, com fundos próprios, o preço de 10 milhões de euros por 61% do capital social da TAP". "Além disso, ambos contribuímos com prestações acessórias no montante de 15 milhões de euros para a TAP", defende.

O gestor garante que todos os envolvidos sabiam do negócio. "O Projeto Estratégico proposto pelo consórcio Gateway, incluindo a parte da capitalização com os fundos Airbus e a renovação da frota, foi detalhadamente apresentado, explicado, discutido e aprovado por todos os intervenientes no processo de privatização, tanto na fase de negociações da venda, como mais tarde, aquando da reversão parcial da privatização levada a cabo pelo Governo socialista, que aceitou vincular-se ao nosso Plano Estratégico, enquanto acionista".

Neeleman aproveita o artigo para deixar ainda um recado ao Executivo: "A somar a tudo isso, conseguimos garantir um empréstimo da Azul em condições muito favoráveis para a TAP, no montante de 90 milhões de euros, com amortização e juros a vencer apenas no final da maturidade. Recordo que este empréstimo ainda não foi reembolsado e que uma das condições exigidas, pelo Governo, para a minha saída da TAP foi que tal empréstimo deixasse de poder ser convertido em capital, o que a Azul aceitou".

"Em 2015, TAP valia zero euros"

Voltando ao negócio da renovação da frota dos aviões, defende que "é totalmente absurdo dizer-se que as ações da TAP foram compradas com os fundos Airbus ou com cash flows futuros da TAP". isto porque, segundo a sua posição, "em 2015, a TAP valia 0 (zero) euros ou, para ser mais claro, tinha um valor negativo, até menos quatrocentos milhões de euros, como atestam algumas avaliações feitas à empresa, na preparação da privatização, por auditores internacionais (Deloitte e PWC) a pedido do Governo".

Como foi noticiado, a compra de 61% da TAP pela Atlantic Gateway, na privatização de 2015, envolveu a capitalização da companhia com 226,75 milhões de euros. Dinheiro que a empresa de David Neeleman e Humberto Pedrosa recebeu diretamente da Airbus e terá sido entregue em contrapartida de um negócio de leasing de 53 aviões pelo fabricante europeu, e que segundo os advogados pôs a companhia aérea a pagar a sua própria capitalização, violando o Código das Sociedades Comerciais. De acordo com uma análise da consultora irlandesa Airborne, pedida pela TAP e entregue a 10 de agosto de 2022 e noticiada pelo ECO, o custo cobrado à transportadora portuguesa pelas aeronaves supera em 254 milhões o valor pago pelas concorrentes para os mesmos modelos.

Ora, segundo David Neeleman "a negociação com a Airbus foi complexa, mas bem sucedida, devido aos meus conhecimentos no sector da aviação e à confiança que depositava no nosso Projeto Estratégico, na nossa equipa de gestão e no meu track record empresarial". E foi  neste contexto que "avançaram com a proposta de aquisição de 53 novas aeronaves Airbus NEO (de nova geração e em que conseguimos que a TAP fosse a primeira companhia aérea do mundo a receber estes aviões), que permitiriam — e permitiram — à TAP uma maior eficiência energética, expandir-se para novos mercados e ser competitiva". 

"Fomos muito claros no sentido de que a anterior encomenda da TAP à Airbus — relativa aos 12 Airbus A350 — não seria compatível com o Projeto Estratégico apresentado, por serem aviões maiores, menos eficientes e em pouca quantidade para as necessidades de uma nova TAP", detalha no mesmo artigo.

Por fim, o gestor aproveita para criticar a decisão do Governo de António Costa em reverter a privatização da empresa. Uma decisão que diz ter sido tomada por "motivações ideológicas". "O Estado português, perante os impactos sem precedentes da pandemia, decidiu sujeitar a TAP a um plano duríssimo de resgate e reestruturação. E digo decidiu, porque havia alternativas a esse plano, que foram afastadas por decisões políticas".

"Depois da enorme capitalização pelo Estado português e da redução significativa dos salários que ainda penalizam os trabalhadores da TAP, espero que a companhia consiga definitivamente ser privatizada. Até porque, agora sim, a TAP tem pelo, à custa dos contribuintes e dos seus trabalhadores", conclui.
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