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Fernando Ulrich: "É impossível voltar à privacidade do século XIX"

Para o presidente do BPI uma das vantagens da evolução tecnológica em Portugal passa por não haver resistência à mudança. Marques Mendes alerta para uma possível fuga de talentos do sector público para o privado.

Bruno Simão
25 de Novembro de 2015 às 14:11
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Fernando Ulrich, presidente do BPI, considera que um dos pontos positivos para a evolução tecnológica no país é em Portugal não haver resistência à mudança.


"Toda a minha geração, tenho 60 anos, é do tempo do fax, do telex, entre outros. Poderíamos ser resistentes à mudança, mas não somos E essa para mim foi uma transformação muito grande nas mentalidades e atitudes das pessoas", disse o gestor durante o 25º Congresso das Comunicações que está a decorrer esta quarta-feira, 25 de Novembro.


Para o CEO do BPI a maior dificuldade não é ter acesso às inovações, mas sim capacidade financeira para o investimento necessário.

"Tirando o caso das comunicações, onde tem havido reduções, a tecnologia não é mais barata. Poupar é um mito. E apesar dos esforços dos reguladores, temos um problema no domínio de tecnologia de monopólio", apontou.


"Temos de lidar com vários monopólios de facto, a maior parte deles americanos. Uma dificuldade é esta, a capacidade financeira para fazer os investimentos que gostaríamos", acrescentou.


Outra das dificuldades apontadas por Fernando Ulrich passa por integrar a tecnologia numa organização. "É uma luta diária", confessou.


O presidente do BPI sublinhou ainda que na sua opinião a tecnologia não substitui as pessoas: "Permite é que façam melhor e mais depressa. Mas não substitui as pessoas".


Quanto à questão da privacidade, o gestor sublinha que a tendência é diminuir. "Dou por adquirido que a privacidade é cada vez menor. Há cada vez mais entidades que sabem parte da nova vida. O fisco sabe um a parte, o banco outra, a Via Verde outra", exemplifica.


"Dentro de uma organização que gere essa informação há pessoas que têm acesso à mesma, claro. Mas a informação sobre cada um de nós vai ser cada vez mais. Penso é que temos que estar protegidos que a informação que vai se registada não vai ser usada contra nós", explicou.


"Agora não se vai voltar à privacidade do século XIX. Isso é impossível", concluiu.


Uma opinião partilhada também por Luís Marques Mendes, que na sua intervenção frisou ainda a importância do papel que o Estado deveria ter.


"O Estado é um actor importante na nossa economia. Fazendo um pouco de advogado do diabo: para que todo este fenómeno tenha eficácia, rentabilidade e efeitos úteis do ponto de vista da sociedade, são necessárias várias coisas. E nem sempre se verificam do lado do Estado".

Quais? "Desde já, sensibilidade. As empresas têm mais sensibilidade do que o Estado", comentou o advogado e político.

Segundo, falta também a capacidade de investimento do lado do Estado, da administração pública em geral.  

Outro dos problemas elencados por Marques Mendes passa pela possível fuga de talentos do sector público para o privado.

"44% dos líderes assume que uma das barreiras ao desenvolvimento deste processo podem ser os recursos humanos, como foi dito aqui na conferência. E este problema dentro do Estado é maior do que no sector privado. Porque o Estado paga mal, o que significa que pode haver uma transferência cada vez maior do sector público para o privado." 

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