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Unicórnio discreto, Arco deixa bilionária a família fundadora
A Arco vale 2,4 mil milhões de dólares e está entre as cotadas com melhor desempenho do Nasdaq.
Ari de Sá Cavalcante Neto estava a passar tanto tempo longe de casa a tentar vender ações da sua empresa a investidores nos Estados Unidos que sentiu que devia uma explicação à filha de sete anos.
"Eu contava-lhe que eu estava numa competição, uma competição muito longa, e que se eu ganhasse poderia trazer para casa um unicórnio e eu ia dar-lhe esse unicórnio de presente," revelou Cavalcante, presidente da Arco Educação, a uma plateia de empreendedores no início deste ano.
Ele fez algo melhor. Não só trouxe um unicórnio de peluche, como as longas horas longe de casa ajudaram a empresa de tecnologia educacional a entrar na lista de unicórnios brasileiros. A Arco vale hoje 2,4 mil milhões de dólares, tornando bilionária a família fundadora.
Cavalcante conseguiu realizar uma oferta pública inicial de ações de 210 milhões de dólares no Nasdaq em setembro de 2018, de uma empresa brasileira pouco conhecida, que começou como uma única escola na região nordeste do país. A data da oferta também trouxe desafios, pois aconteceu apenas um mês antes das eleições presidenciais no Brasil, quando a incerteza sobre o futuro político do país agitava os mercados.
O preço da ação na oferta pública foi fixada em 17,50 dólares, o valor superior da proposta, mas estreou-se a negociar nos 24,50 dólares. Desde então, os títulos da Arco subiram cerca de 170%, o segundo melhor desempenho para um IPO no Nasdaq nos últimos 12 meses, superando nomes mais conhecidos, incluindo a Pinterest e a Uber Technologies.
"A Arco é uma empresa disruptiva no setor de educação privada do Brasil, com conteúdo de alta qualidade, um modelo de preços atraente e uma estratégia de mercado diferenciada que vai permitir que continue a ganhar participação num setor altamente fragmentado", afirmou Elisa Mazen, gestora de portefólio da ClearBridge Investments, que tem uma participação na empresa.
General Atlantic
O rali das ações tornou bilionários Ari e o seu pai, Oto de Sá Cavalcante, que juntos detêm 54% da empresa, segundo cálculos da Bloomberg usando o prospeto do IPO da empresa. Oto é o maior acionista, com cerca de 38% do capital social da empresa. A General Atlantic tornou-se acionista em 2014 e possui uma participação de 20%. A empresa de private equity não vendeu ações na oferta pública. Ari e o seu pai não quiseram dar uma entrevista.
O valor de mercado da Arco está próximo de alguns dos gigantes brasileiros da educação, incluindo a Yduqs Part, antiga Estácio, uma empresa que tem uma receita líquida sete vezes maior do que a da Arco. Enquanto a Yduqs tem como alvo o ensino superior, a Arco vende os seus produtos para o segmento de jardim-de-infância até ao ensino médio - o K-12, na sigla em inglês.
Se a competição do IPO terminou, Cavalcante enfrenta agora uma nova rodada de testes. Depois de encantar investidores, o executivo de 40 anos precisa de mostrar as suas habilidades em integrar todas as empresas que a Arco comprou nos últimos anos. Elas incluem o Sistema Positivo de Ensino, uma empresa que tem mais alunos do que a Arco. A aquisição ainda não foi aprovada pelo regulador da concorrência.
A Arco agora começará a procurar alvos para fusões e aquisições que possam adicionar novos conteúdos ao seu portefólio atual, como robótica e programação, disseram analistas do Banco Itaú BBA num relatório de 28 de junho.
Fundador da escola
Cavalcante teve a ideia de criar a Arco durante a sua passagem pelo MIT Sloan School of Management, em Cambridge, Massachusetts, revelou numa palestra em abril. O negócio da educação, porém, está na sua família há gerações: o seu avô adquiriu uma escola em 1941 em Fortaleza, a segunda maior cidade da região nordeste do Brasil. Ari frequentou a escola assim como o diretor financeiro da Arco, David Peixoto, que trabalhou durante três anos no Credit Suisse. É o conteúdo proprietário dessa escola original que serviu de base para o que a Arco vende.
O mercado de educação infantil até ao ensino médio no Brasil totaliza cerca de 180.000 escolas e 44 milhões de estudantes - com 40.000 escolas particulares somando 8 milhões de estudantes. Entre as escolas particulares, apenas cerca da metade usa um sistema de aprendizagem como o que a Arco fornece em vez dos livros didáticos tradicionais.
A Arco não é a única empresa que vê oportunidades nestes números. A Kroton Educacional, um gigante da educação que vale cerca de 4,5 mil milhões de dólares, comprou a Somos Educação no ano passado, uma empresa focada no ensino básico. A Kroton possui cerca de 1,26 milhões de estudantes na sua plataforma "core" de K-12, enquanto a Arco possui cerca de 500.000. Em maio, a Arco concordou em pagar 1,65 mil milhões de reais pelo Sistema Positivo de Ensino, um rival que tem 698.000 estudantes.
"Os principais riscos para a Arco são como a concorrência evoluirá, especialmente depois de a Kroton ter adquirido a Somos, e a integração com a Positivo, que é um grande ativo, portanto esse tipo de fusão não é trivial", disse Susana Salaru, analista do Itaú BBA, que classifica a empresa como "neutra".
(Texto original: Tech-Education Unicorn Turns Brazil Family Into Billionaires)