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Startup do Porto ganha contrato europeu para criar “airbag” de resgate de satélites em fim de vida

A Spaceo lidera consórcio internacional escolhido pela Agência Espacial Europeia (ESA) para pôr em marcha o projeto SWIFT, orçado em três milhões de euros, que preconiza o desenvolvimento da tecnologia de recolha de satélites em fim de missão e lixo espacial.

18 de Março de 2025 às 14:54
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Com o espaço a ficar cada vez mais congestionado com detritos e satélites em fim de vida, tornando perigoso para o nosso mundo o chamado lixo espacial, há uma startup incubada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC) focada em soluções para manter o espaço limpo e na remoção de satélites após o final da sua vida operacional.

Chama-se Spaceo e lidera o consórcio internacional que ganhou o contrato da Agência Espacial Europeia (ESA) para o desenvolvimento da tecnologia de recolha de satélites em fim de missão e lixo espacial.

"O projeto SWIFT (Spacecraft With Inflatable Termination), orçado em três milhões de euros, prevê o lançamento no espaço de uma vela de arrasto insuflável em 2028 para acelerar a desorbitação e garantir um ambiente espacial mais sustentável", tendo sido concebido "para se tornar o equipamento padrão a bordo de todos satélites a serem lançados no futuro", avança a Spaceo, em comunicado.

"Atualmente, os satélites completam a sua missão e permanecem na órbita terrestre durante décadas, agravando o problema dos detritos espaciais", sublinha João Pedro Loureiro, fundador da Spaceo, afiançando que a tecnologia desta startup "permitirá que, no futuro, os satélites sejam desintegrados de forma controlada - uma vez obsoletos iniciam uma trajectória descendente que os fará incandescer e desintegrar - contribuindo para reduzir o lixo espacial".

O consórcio liderado pela Spaceo integra mais três empresas europeias: a luxemburguesa GomSpace, a francesa SpaceLocker e a neerlandesa SolidFlow.

A GomSpace irá fornecer a plataforma de satélite que aloja o dispositivo de desorbitação, a SpaceLocker fará a otimização e gestão do espaço e sistemas disponíveis no satélite que transportará o SWIFT em 2028, e a SolidFlow será responsável pelo gerador de gás necessário à insuflagem do "airbag" nacional.

O sistema tem dimensões compactas, ocupa apenas 100 mm3, e quando ativado insufla uma vela de arrasto de 1,5 m2 capaz de "abraçar" satélites do tipo 12U até 24 quilogramas de peso, descreve a Spaceo.

"Embora tenha sido inicialmente concebido para pequenos satélites, o design o SWIFT é escalável e poderá ser adaptado para satélites de maior porte e até constelações de satélites",  sinaliza Pedro Miguel Carneiro, cofundador da Spaceo, que irá liderar ambas as fases do projeto SWIFT - a fase de desenvolvimento em solo e a fase de lançamento e experimentação orbital – "e está inclusivamente a recrutar engenheiros aeroespaciais para reforçar a equipa".

SWIFT: O "caçador" e desintegrador de satélites inativos

A Spaceo conta que o foguetão que transportará a tecnologia portuguesa subirá até aos 500 quilómetros de altitude.

"A partir daí serão realizados os primeiros testes em LEO (acrónimo inglês para Low Earth Orbit, ou órbita terrestre baixa), uma das regiões mais afetadas pela acumulação de detritos espaciais", salienta.

"Os testes em LEO são cruciais porque são realizados nas zonas mais ‘poluídas’ por satélites em fim de vida", explica Pedro Miguel Carneiro.

"Quando tudo estiver concluído em 2028, é muito provável que o lançamento do SWIFT seja feito nos Estados Unidos pela SpaceX", adianta João Pedro Loureiro.

A Spaceo relata que o tempo total de lançamento do SWIFT até entrada em órbita é de aproximadamente 10 minutos, aos quais se seguirão todos os ajustes e início de comissionamento do satélite.

E assegura que o SWIFT "será um dos primeiros sistemas espaciais portugueses em ação em órbita desde que a indústria nacional se estreou com o PoSAT-1 em 1993".

Entretanto, para mitigar o problema dos satélites inativos – existem cerca de 9.900 a sobrevoar a Terra -, sendo que o processo de remoção "pode demorar décadas", começam a surgir novas regulamentações, nomeadamente nos Estados Unidos onde se procura reduzir esse prazo para cinco anos.

"Se isso acontecer, é possível que o tempo total de recolha de satélites inativos tenda a reduzir bastante em todo o mundo", considera João Pedro Loureiro, defendendo que, "se a Spaceo conseguir que a sua tecnologia se torne o padrão da indústria, todos os futuros satélites poderão integrar o SWIFT, assegurando que deixam o espaço de forma segura no final da sua vida útil", conlui.

Tal como o "airbag" se tornou um elemento fundamental da indústria automóvel, a Spaceo defende que "o SWIFT poderá desempenhar um papel crucial na segurança e sustentabilidade das operações espaciais".

"O SWIFT é um excelente exemplo de como a inovação nacional pode desempenhar um papel fundamental na sustentabilidade das operações espaciais", afirma Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa".

"Projetos como este reforçam a posição de Portugal no setor aeroespacial e demonstram a nossa capacidade de contribuir para um espaço mais seguro", remata Conde.

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