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Covid-19 ameaça fechar um terço das start-ups do Porto fundadas em 90% por homens
Os fundadores atingem os 98% na área “cleantech & indústria 4.0”, enquanto as fundadoras alcançam o seu melhor nas tecnologias da saúde, onde, ainda assim, são apenas 18%, revela um estudo da ScaleUp Porto. Um terço das start-ups da região perdeu mais de 50% das vendas.
A região do Porto conta com mais de 350 projetos de start-ups e scale-ups (estatuto concedido a start-ups de crescimento acelerado), mais de 50 incubadoras e espaços de trabalho e mais de 30 comunidades tecnológicas.
Um ecossistema de inovação fundado sobretudo por homens, com a maior percentagem de fundadoras (18%) a registar-se na área das tecnologias da saúde, que é onde se aufere salários superiores aos restantes "clusters".
Entretanto, quase um terço das start-ups da região admite que corre o risco de encerrar devido à covid-19, com 17% a reportar que perdeu 80% das receitas e um terço a admitir quebras superiores a 50%.
Estas são algumas das conclusões de um estudo lançado pela ScaleUp Porto, que caracteriza o ecossistema de empreendedorismo da região e monitoriza as start-ups associadas a este universo, através de uma amostra de empresas que geraram uma faturação superior a 126 milhões de euros em 2018.
Em termos de vendas e internacionalização, o estudo refere que, entre 2015 e 2018, o volume de negócios da amostra das empresas do ecossistema apresentou uma taxa de crescimento anual próxima dos 28%, a qual "se deveu essencialmente ao aumento do número de empresas existentes".
O "cluster" de Tecnologias de Informação e Comunicação destaca-se, não só pelo volume total de vendas gerado, como também pelo número de empresas que agrega, "contribuindo com 62% do valor total do volume de negócios do ecossistema", tendo o EBITDA "praticamente duplicado" neste período, enquanto o valor das exportações registou "um crescimento anual de 26,6%", com o valor acrescentado bruto atingido em 2018 a ultrapassar os 50 milhões de euros.
A ScaleUP Porto também traçou o perfil dos fundadores das start-ups da região, tendo concluído que a idade média ronda os 31 anos, 93% têm licenciatura, mestrado ou doutoramento, e que 76% contavam com experiência prévia na área de atuação da empresa no momento da fundação.
Por outro lado, concluiu, os fundadores são na sua maioria do sexo masculino - 98% na área "cleantech & indústria 4.0", 87% na área de consumidor & web e na área de Tecnologias de Informação e Comunicação, 82% na área de dispositivos médicos & Tecnologia da Informação aplicada à Saúde).
"A maior percentagem de fundadoras verifica-se, portanto, na Saúde - ainda assim, apenas 18% dos fundadores da área são do sexo feminino", enfatiza a ScaleUp Porto.
Ainda segundo o mesmo estudo, a taxa de criação de emprego no ecossistema de start-ups do Porto "tem-se mantido acima da média nacional". Entre 2015 e 2018 apresentou "um aumento de 35% do número de colaboradores", tendo "criado 7.018 empregos líquidos", dos quais "mais de metade" (3.693) terá ocorrido entre 2017 e 2018.
No campo salarial, avança que se verificou um aumento da competitividade.
"Registou-se uma evolução expressiva de crescimento do número de empresas que paga remunerações médias mais elevadas, especialmente nos intervalos entre os 20 e os 30 mil euros anuais", destacando-se os trabalhadores da área de dispositivos médicos & Tecnologia da Informação aplicada à Saúde, que "auferem ordenados superiores aos restantes ‘clusters’, apresentando uma diferença de aproximadamente 30% quando comparados com os colaboradores da área de consumidor & web, que auferem as remunerações anuais mais reduzidas".
Falta de cultura empreendedora e aversão ao risco entrava criação de start-ups
A fase "early stage" (investimento em empresas em fase inicial) é a que atrai um maior número de investimentos. "O peso do investimento doméstico tem vindo a aumentar, representando 24% do volume total em 2019", realça, tendo verificado que, "no período entre 2015 e 2019, o investimento público correspondeu a cerca de 5,6 milhões de euros e a uma média de 27% do valor total alcançado pelas empresas da região do Grande Porto".
O estudo destaca, também, que em 2018 as sete incubadoras/aceleradoras da região do Porto analisadas pelo estudo (Amorim Cork Ventures, Bright Pixel, Founders Founders, Inovagaia, LEI IN, Sanjotec e UPTEC), registaram mais de 50,2 milhões de euros em volume de negócios, dos quais 21,3 milhões foram gerados pela UPTEC.
Quando questionados sobre desafios no ecossistema, os inquiridos identificam "a falta de cultura empreendedora e a aversão ao risco como os principais entraves à criação de start-ups".
Relativamente ao seu crescimento, apontam "o acesso a clientes como a maior barreira, seguida do acesso a talento (difícil retenção face à concorrência salarial de empresas de grande dimensão) e mão-de-obra qualificada".
"A necessidade de programas de apoio às start-ups ou o facto de os programas existentes necessitarem de reduzir a sua abrangência", são também identificados como oportunidades de melhoria.
De referir que, para a realização deste estudo, produzido pela Porto Digital em colaboração com a EY, além de análise estatística através de fontes secundárias de dados, a ScaleUp revela que foram realizados questionários e entrevista online a start-ups, assim como entrevistas e "workshops" presenciais com "stakeholders" do ecossistema.
Pandemia corta vendas a quase dois terços das start-ups
O ScaleUp Porto considerou igualmente fundamental analisar a alteração repentina de contexto que se deu com a pandemia, através de uma avaliação preliminar do impacto da covoid-19 nestas empresas, com base num questionário a 41 CEO e fundadores de start-ups da região, efetuado entre 27 de abril e 6 de maio.
Entre os principais números do relatório "Impacto da Covid19 nas Startups do Porto" - produzido pela Porto Digital em colaboração com a FES Agency e com a Aliados Consulting -, destaca-se o facto de 31,7% das start-ups reportarem que têm apenas até três meses de capital disponível, "o que significa que três em cada 10 destas empresas corre o risco de encerrar caso o contexto não se altere", alerta-se neste estudo.
"É ainda de notar que 61% refere impacto negativo nas vendas (face a 14,6% que estão a ter impacto positivo), sendo que um em cada quatro tem uma redução de até 20% nas vendas, um terço das start-ups sofreu quebras de mais de 50% e 16,7% das inquiridas refere impacto de mais de 80%", realça.
Quase dois terços (63%) das empresas inquiridas não estão a levantar capital de risco e 68,3% recorreram ou estão à procura de fontes de financiamento alternativas.
Mais: 70,3% teve de reduzir custos, sobretudo na contratação de serviços externos, e 39% mostra preocupação com o potencial encerramento da sua start-up.
Como pontos mais otimistas, a ScaleUP sublinha que 95% das empresas do ecossistema de empreendedorismo do Porto não efetuaram despedimentos e 97,6% não tenciona fazê-los nos próximos três meses, sendo que 36,6% pretende até contratar.
Relativamente às medidas anunciadas pelo Governo, 44% das start-ups da região do Porto admite que recorreu às medidas excecionais e temporárias de apoio às PME e microempresas, e 49% pretende usufruir das medidas específicas de apoio às start-ups, sobretudo da medida "StartupRH Covid19".