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A Blackberry ficou sem bateria para continuar a andar sozinha
A Blackberry colocou-se à venda. Esta estratégia faz parte de um plano operado pela empresa canadiana para sobreviver no competitivo mercado dos “smartphones”. A empresa que um dia produziu o telemóvel “a ter” está agora à procura de alternativas, que passam pela venda ou por uma parceria, depois da sua nova linha de telemóveis não ter conseguido angariar mais clientes.
A Blackberry foi lenta a reagir às alterações de mercado, de acordo com os analistas. O primeiro modelo do grupo, vendido em 1999, foi um sucesso no mundo empresarial, através do foco na segurança do seu e-mail e das suas mensagens.
Mais de uma década depois, e os modelos da empresa pouco evoluíram, ao contrário dos dispositivos dos seus rivais. “Não é o fim da história, mas o modelo actual da Blackberry chegou ao fim”, afirmou Ben Wood, analista da CCS Insight. “A Blackberry não pode continuar por si só. Foi lenta a arrancar na era dos smartphones e não foi capaz de diminuir a distância para a Apple e para a Samsung cuja liderança se mostrou impossível de alcançar”.
De acordo com o “Financial Times”, os utilizadores da Blackberry caíram de 79 para 72 milhões nos últimos seis meses, e as vendas do novo modelo não indicam que a quota de mercado do grupo possa voltar a ser significativa, situando-se agora abaixo dos 3% face aos 5% do ano anterior.
O grupo vai reunir para considerar todas as opções, com a especulação no ar de que a empresa poderá formar uma parceria ou separar as suas áreas de negócio. A incerteza em torno da Blackberry é muito grande, pois embora no passado os interessados fossem muitos, desde a Lenovo, à Amazon, Microsoft e Facebook, os bancos alertaram os investidores para a perda de valor, de subscritores e também sobre a incerteza quanto à propriedade intelectual dos produtos do grupo.
Mas a maior das preocupações é mesmo política. Segundo o banco de investimento Jefferies, “a Lenovo (empresa chinesa) seria o comprador mais disponível, mas pensamos que o Governo norte americano irá bloquear essa aquisição tendo por base o argumento da segurança nacional”.
Acções perderam um terço do valor em Junho
As acções da Blackberry perderam mais de um terço do valor em Junho, mas hoje, terça-feira, estão a ganhar 5% para 11 dólares, avaliando a empresa em 5,3 mil milhões de dólares, cerca de 3,98 mil milhões de euros, quase um oitavo de uma capitalização de mercado que a empresa atingiu há apenas três anos.
Porém, esta semana, e a contrariar a tendência de mercado, os títulos da empresa canadiana estão a registar uma subida acima dos 4%, elevando os ganhos para quase 23% ao longo dos últimos 12 meses. O facto da empresa estar a ponderar uma possível venda ou uma parceria está a ser o mote para o bom desempenho das acções.
O grupo que um dia liderou o mercado dos telemóveis foi ultrapassado pela Apple e pela Samsung. As receitas e os subscritores diminuíram drasticamente. Todas as esperanças foram depositadas no novo modelo, o “Blackberry 10”, cujas vendas se têm revelado fracas.
Por outro lado, a Apple, cujas acções deslizaram 25% nos últimos 12 meses, estão a registar uma subida de mais de 2%, fruto das notícias que dão conta de que o lançamento do novo iPhone está para breve. Também recentemente, a empresa norte americana venceu a grande rival Samsung, em mais uma disputa sobre patentes.
Os analistas do Berenberg justificam que a empresa tem alguma propriedade intelectual, fruto de algumas aquisições nos últimos cinco anos, no valor de 4,5 mil milhões de dólares, mas que os especialistas acreditam terem perdido 75% do seu valor.
A decisão mais correcta
A mensagem é simples. A Blackberry acabou na sua forma independente. Resta aos investidores perguntarem-se se a decisão de vender ou criar uma parceria não deveria ter chegado mais cedo. Não necessariamente. Primeiro, as vendas do novo modelo da Blackberry estão a ser decepcionantes, levando a quota de mercado a passar dos 5% para menos de 3% em apenas um ano. Mas, por outro lado, os dados confirmam que há espaço no mercado para um terceiro sistema operativo, para além do iOS e do Android.
A Windows duplicou as remessas de telemóveis para perto de nove milhões, principalmente devido às vendas dos modelos da Nokia. Esta tracção que a Windows descobriu era exactamente aquilo que a Blackberry procurava. Com mais de 70 milhões de utilizadores e um novo modelo totalmente revisto, o grupo tentou criar uma hipótese de sobreviver. Esta foi uma razão mais que suficiente para tentar conseguir a medalha de bronze, quando teve essa hipótese.
Antes dos últimos rumores sobre as vendas do novo modelo, as acções estiveram a negociar nos 16 dólares, no início do ano, tendo posteriormente caído para os nove dólares. Ainda assim, este valor é muito superior aos seis dólares atingidos pelos títulos da Blackberry há um ano. O fluxo de caixa da empresa é de três mil milhões de dólares, cerca de seis dólares por acção, ou seja mais mil milhões que há um ano.
Expostos os factos, as coisas não correram bem para a Blackberry, mas a tentativa de tentar relançar foi sem dúvida a melhor opção a tomar, escreve esta terça-feira o "Financial Times" na coluna Lex.