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Amor tropical luso-israelita atraca em Espinho com um negócio de descontos

Rui e Ravit andaram por Nova Iorque sem nunca se cruzarem. Apaixonaram-se na Costa Rica, fizeram as malas e rumaram a Portugal. Em plena pandemia, investiram mais de 500 mil euros num negócio que promete tirar o fôlego às “margens de lucros exorbitantes” dos híperes.

30 de Janeiro de 2021 às 15:00
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Nasceram com três anos de diferença e 5.756 quilómetros de distância - Rui Adrego no Porto, em 1980; Ravit Turjeman em 1977, na cidade (costeira) de Rishon Le Zion, a quarta maior do país.  

 

Formada em Comunicação e Gestão de Negócios, e depois de cumprido o serviço militar obrigatório, Ravit mudou-se em 2001 para os Estados Unidos, onde continuou a sua formação profissional na Universidade de Nova Iorque.

 

Foi diretora do departamento de cinema e teatro no gabinete de assuntos culturais do Consulado de Israel na "cidade que nunca dorme", entre 2002 e 2005.

 

Após essa experiência, abriu a sua própria empresa de distribuição de cinema, a Dragoman Films. Em simultâneo, desempenhou funções de consultora de marketing e desenvolvimento de negócios em empresas de diferentes setores de atividade. 

 

Formado em Gestão de Empresas, Rui teve a primeira experiência profissional na Compal, do grupo Nutrinveste, em 1999.

 

Esteve na Bacardi Martini Portugal entre 2003 e 2006, tendo regressado, "por um breve período", à Nutrinveste, para ingressar no departamento comercial da Sovena. Em janeiro de 2007 assumiu o negócio em Portugal da LambWeston, uma das maiores produtoras mundiais de batata pré-frita. 

 

Embora vivesse entre Portugal e Nova Iorque, onde Ravit residia e trabalhava, foi na Costa Rica que Rui a conheceu, em 2016.

 

O português diz que "foi amor à primeira vista", enquanto a israelita, mais contida a falar destas coisas, confessa que "logo de início" lhe achou graça.

 

Ambas concordam que houve de imediato "sintonia empresarial".

 

Alterar o "status quo" do retalho alimentar em Portugal

 

Quando se proporcionou experimentarem juntos o comércio online português, perceberam que este "tinha uma grande margem para evolução" e que eles estavam" aptos" a concretizá-la.

 

Decididos "a traçar juntos um percurso pessoal e profissional", escolheram regressar à Europa, nomeadamente a Portugal, porque "as raízes" de Rui "estavam cá" e as origens culturais de Ravit "também se adequavam" às do nosso país.

 

Após um ano de viagens quinzenais entre Nova Iorque e o Porto, em 2017 decidiram fixar residência em Espinho, onde Rui vivera grande parte da sua infância e Ravit podia recordar a costa israelita.

 

A ideia e o modelo de negócio do casal já estavam formados: queriam "mudar a forma como o consumidor português compra os bens essenciais do dia-a-dia, e compartilhar com a sua comunidade uma maneira diferente e mais justa de fazer compras online".

 

Aperceberam-se, afirma Ravit, que "o mercado de bens essenciais não estava a cumprir com as exigências do consumidor atual, que, ao privilegiar a comodidade das compras na internet para ver a sua vida facilitada, esperava receber do distribuidor um serviço mais honesto, rápido e com maior consciência social e ambiental".

 

Mais eis que "os maiores operadores portugueses dispõem de uma estrutura física e logística tão pesada e complexa que isso lhes retira qualquer motivação séria para baixarem os preços, com claro prejuízo para o consumidor final e, inevitavelmente, para os próprios produtores e fabricantes, que assim se veem impedidos de escoar o stock desejado e de obter margens mais justas", considera Rui.

 

Ravit carrega nas críticas: "O atual panorama do retalho alimentar em Portugal é controlado por um pequeno grupo de mega ‘players’ com processos operacionais e logísticos complexos, e com margens de lucro exorbitantes nos produtos essenciais do dia-a-dia."

 

Ora, é precisamente esse "status quo’"que querem alterar, oferecendo preços sensatos e honestos, poupanças de quantidade e compras em grupo por valores mais vantajosos", garante a empresária israelita.

Rui Adrego e Ravit Turjeman Lançaram em novembro de 2019 o supermercado online Comuniti, que só 'começou a operar em pleno em janeiro de 2020', dois meses antes da chegada da pandemia a Portugal.
Rui Adrego e Ravit Turjeman Lançaram em novembro de 2019 o supermercado online Comuniti, que só "começou a operar em pleno em janeiro de 2020", dois meses antes da chegada da pandemia a Portugal.

 

Arrancou em janeiro e, a partir de março, enfrentou "sobressalto funcional"

 

Para o conseguir, primeiro lançaram a empresa ComuniTech, que concebia soluções de "e-commerce" e "fez sucesso" na WebSummit de 2018; depois decidiram aplicar esse "know-how" num puro supermercado online e criaram a plataforma Comuniti, "com espírito comunitário e um modelo de compras online mais inteligente e mais justo", garantem.

 

Lançaram em novembro de 2019 o supermercado online Comuniti (www.comuniti.pt), que só "começou a operar em pleno em janeiro de 2020", dois meses antes da chegada da pandemia a Portugal, num investimento inicial "superior a meio milhões de euros", que foi "integralmente financiado por capitais próprios".

 

A partir de março, após os primeiros casos de covid-19, enfrentou "vários meses de sobressalto funcional para corresponder ao inesperado acelerar de procura ditado pelo confinamento social" em período de pandemia. "Fizemos entregas à meia-noite, às duas da manhã, às três…", relembra Rui.

 

Para essa pressão "contribuiu particularmente o facto de o centro logístico e de distribuição da plataforma estar então instalado em Ovar, que foi o primeiro município do país a ficar sob cerco sanitário devido ao vírus, com tudo o que isso implicou de controlo de fronteiras e limitações à circulação de pessoas e mercadorias", lembra o casal.

 

"Superadas as dificuldades motivadas pela pandemia", a Comuniti "reajustou o seu calendário de ação" e, desde final de setembro de 2020, passou a ter sede no concelho de Santa Maria da Feira, onde dispõe de dois novos armazéns, num total de quatro mil metros quadrados, contando com "um ‘staff’ mínimo" de 16 pessoas.

 

Com "mais de 70 mil clientes e mais de 50 mil visitantes únicos por mês", garantem os promotores do Comuniti, este supermercado online faturou "1,2 milhões de euros" no seu primeiro exercício.

 

O atual panorama do retalho alimentar em Portugal é controlado por um pequeno grupo de mega ‘players’ com processos operacionais e logísticos complexos, e com margens de lucro exorbitantes nos produtos essenciais do dia-a-dia Ravit Turjeman

Supermercado online com comparador de preços e descontos por quantidade

 

Para esse resultados, consideram, "vêm contribuindo funcionalidades inovadoras no mercado português e com as quais a Comuniti já se demarca dos principais quatro ‘players’ da distribuição online, nomeadamente as marcas Continente, Auchan, Pingo Doce e Intermarché".

 

O principal desses recursos é o comparador de preços com duas atualizações diárias, que exibe para o mesmo produto o valor a que esse artigo está disponível nos principais distribuidores da concorrência.

 

Em 2020, esse mecanismo de comparação "permitiu concluir que 95% da oferta global da Comuniti esteve disponível a preços mais baratos" – e sobretudo ‘mais justos e honestos’, realçam os fundadores da empresa – do que os praticados por aqueles gigantes da Distribuição.

 

Outra funcionalidade em destaque no novo supermercado online é a compra por quantidade, que permite que determinados produtos diminuam de preço caso o cliente adquira dois, três ou mais unidades da mesma referência. "Essa poupança evolui para valores mais baixos à medida que a quantidade do artigo aumenta, até ao limite máximo estabelecido pelo fornecedor", ressalva Ravit.

 

A implementar "quando concluído o respetivo processo de registo de patente internacional" está, ainda uma terceira funcionalidade – "é a chamada ‘community buy’, ainda sem prática em Portugal por iniciativa dos consumidores e só raramente disponível em ações de caráter institucional".

 

"Em causa está, literalmente, uma ‘compra comunitária’ semelhante às que esporadicamente são promovidas pela Deco – Defesa do Consumidor, mas que, neste caso, podem desenvolver-se por iniciativa de cidadãos individuais", explica a Comuniti, em comunicado.

 

Isso significa que "qualquer produto que um cliente tenha interesse em adquirir a preço mais baixo pode ser associado a um processo público de compra em escala, ao qual se associarão – por convite redirecionado ou por iniciativa própria na visita ao site – outros consumidores com idêntico propósito", esclarece a mesma plataforma online.

 

A ficha do respetivo produto "indicará em contínuo a quantidade de interessados inscritos nessa ‘community buy’ e o preço já atingido com a ação coletiva, num estímulo constante a que mais cidadãos se associem ao grupo para continuarem a baixar o custo do artigo", conclui.

 

O que é que a israelita Ravit mais aprecia e mais detesta em Portugal?

 

O supermercado online de Rui e Ravit promete "entregas no prazo máximo de 48 horas em qualquer ponto do país", propostas semanas de "compra inteligente com descontos de 30% a 70%, sendo que "as compras superiores a 50 euros têm sempre entrega gratuita – com a vantagem adicional de 15% de desconto na primeira aquisição – e despesas de valor inferior implicam apenas 4,50 ou 5,75 euros em custos de transporte".

 

Entre as referências mais requisitadas à Comuniti "incluem-se detergentes, vinhos e cervejas, artigos de cosmética e alimentação para animais, o que vem contribuindo para compras individuais num valor médio de 75,3 euros, uma vez a cada 15 dias".

 

A residir em Portugal há mais de três anos, o que é que Ravit Turjeman mais aprecia no nosso país? "As pessoas, particularmente pela sua gentileza e hospitalidade, e pela sua atitude simples perante a vida." E "adora os vinhos portugueses".

 

E o que é que mais detesta? "A burocracia."

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