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Um negócio espacial

Com clientes como a Agência Espacial Europeia ou a Airbus, o que os engenheiros da Active fazem é, por exemplo, tornar possível manter à temperatura de 20 graus um satélite na órbita do escaldante Mercúrio. Não foi mentira. A 1 de Abril de...

Um negócio espacial
06 de Maio de 2010 às 11:27
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Com clientes como a Agência Espacial Europeia ou a Airbus, o que os engenheiros da Active fazem é, por exemplo, tornar possível manter à temperatura de 20 graus um satélite na órbita do escaldante Mercúrio.

Não foi mentira. A 1 de Abril de 2004, a Active Space Technologies lançou-se no mercado oferecendo, explicam os seus promotores, "serviços de engenharia de valor acrescentado focados nos sectores espacial, aeronáutico e nuclear".

Imagine um satélite em órbita em redor de Mercúrio, planeta muito quente por estar próximo do Sol. Este satélite ora está sob a acção da radiação solar - muito quente - ora está em eclipse - muito frio. O que a Active Space Technologies consegue fazer é garantir o funcionamento do instrumento científico em condições de operação óptimas, por exemplo, numa gama de temperaturas em torno dos 20ºC.

"Garantimos esse funcionamento por modelação do instrumento em computador e análise e redesenho, num processo de optimização, de modo a atingir as condições exigidas ao bom funcionamento do satélite." E estes projectos de arquitectura térmica são apenas parte do que a Active Space Technologies concebe e vende.

Pioneiros em Portugal
Quando se lançaram neste desafio - um projecto autofinanciado com o capital inicial de 13 mil euros - Bruno Carvalho e Ricardo Patrício estavam convictos de que haveria espaço para a sua empresa. E se a auto-confiança era muita, porque alicerçada no "know-how" adquirido na formação académica e nas experiências profissionais (ver caixa), a preparação do plano de negócios deu-lhes ainda mais força.

A falta de serviços em Portugal nas áreas de actuação da empresa era evidente. O que desconheciam, então, contam hoje, era que o relacionamento inicial com as entidades bancárias seria difícil, que as medidas de apoio às empresas para investigação teriam regras difusas, encargos de gestão elevados e prazos de execução financeira demorados e, finalmente, que o mercado espacial era altamente institucionalizado e marcado pelo "lobbying".

Hoje, já interiorizaram essa realidade e, passados seis anos, o balanço faz-se debitando siglas e insígnias sonantes: ESA, JAXA, DLR (agências espaciais europeia, japonesa e alemã), Zeiss Optics, Kayser Threde, OHB, Thales Alenia Space, European Southern Observatory (integradores europeus). Todos clientes que encontram na Active produtos inovadores, resultado de uma política de investigação e desenvolvimento forte, para a qual, "desde o início, foi canalizada uma parte significativa do volume de negócios."

Em 2009, o volume de negócios representou 626 mil euros, num crescimento de cerca de 40% ao ano, desde 2005. Para 2011, e com base nas encomendas, os dois empreendedores prevêem atingir os 871 mil euros.

Descolar rumo aos EUA
A empresa, sediada em Coimbra, com um gabinete técnico em Berlim e representação comercial em Noordwijk, emprega, actualmente, 16 pessoas em Portugal e cinco na Alemanha. Sendo a facturação desta empresa, maioritariamente, baseada em exportações, vai continuar a apostar na vertente internacional do negócio.

A Active Space Technologies pretende, também, reforçar posições nos sectores aeronáutico e de fusão nuclear mas o futuro da empresa escreve-se com palavras novas: eólicas e naval, sectores onde vai iniciar actividade. A médio prazo, a empresa quer descolar rumo ao mercado aeroespacial norte-americano.




Bilhete de Identidade



Se disser "33" estará a acertar na idade dos dois empreendedores que criaram a Active Space Technologies. Os currículos de Bruno Carvalho e Ricardo Patrício passam por uma licenciatura, o primeiro em engenharia informática na Universidade Nova de Lisboa, e o segundo em engenharia mecânica na Universidade de Coimbra. Depois, Bruno Carvalho seguiu os caminhos de um mestrado, também em engenharia informática, e de duas pós-graduações: em empreendedorismo e em estudos espaciais - na International Space University, em 2005. Um ano antes, já Ricardo Patrício havia terminado uma pós-graduação em estudos espaciais, na University of South Austrália. Os dois engenheiros trabalharam na ESA entre 2002 e 2004 e, desde então, juntaram-se na Active onde Bruno é o líder executivo e Ricardo o "business developer". É a primeira experiência empresarial, passo que deram por partilharem o gosto pelo empreendedorismo, pela inovação e pelo Espaço.




Estratégia nacional precisa-se



O "cluster" aeronáutico e os investimentos da Embraer em Évora são importantes, mas os promotores da Active Space Technologies consideram que falta uma estratégia nacional estruturante. Sem ela e sem investimentos que promovam a aglutinação de competências, "nunca teremos massa crítica para competir a nível internacional." Para Bruno Carvalho, a estratégia nacional deveria passar por criar competências que permitissem competir no fornecimento de sub-sistemas integrados que se posicionem num largo espectro da cadeia de valor de modo a envolver e potenciar um grande número de fornecedores nacionais. No sector espacial, há pouca margem de manobra para o desenvolvimento de instrumentação espacial. "Isto limita a capacidade integradora da indústria nacional e a sua capacidade de fornecimento de sistemas integrados aos grandes integradores europeus." Os empreendedores defendem a solução que vem sendo defendida pela Proespaço (associação de indústrias portuguesas do espaço) e que passa pela criação de um organismo supra-ministerial, independente na forma de definir políticas e estratégias adequadas para estes sectores.














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