Notícia
Têxteis ecológicos conquistam a Europa
A ideia nasceu para contornar a liberalização do mercado têxtil e uma década depois da criação da marca, a Naturapura está presente em mais de 20 países. Para expandir o negócio está agora a estudar a criação de um franchising da marca.
26 de Março de 2009 às 16:44
Castanho, verde e cru são as três cores que compõem a Naturapura. Chamam-lhe uma verdadeira alternativa ecológica e toda a produção é baseada em algodão biológico, um algodão que já nasce colorido em três cores, que só variam consoante a região de origem da matéria-prima. A marca é portuguesa e saiu das mãos de António Ressurreição, um engenheiro têxtil que procurava soluções para contornar a forte concorrência que viria da abertura das fronteiras aos têxteis de todo o mundo. Decidiu, então, virar-se para os ecotêxteis.
"A génese da Naturapura foi encontrar alternativas ao desenvolvimento do mercado global e ao movimento de deslocalização que muitos dos clientes seguiriam, procurando fornecedores a preços mais acessíveis", explica António Ressurreição, que na altura era já dono da SICI 93 Braga, uma empresa têxtil que trabalha com marcas como a Prada ou a Burberry, exportando 100% da sua produção.
A empresa escolheu Vigo para abrir a primeira loja fora de Portugal, em Dezembro de 2008, altura em que deu início a uma estratégia de expansão. Para isso foi fundamental o capital de risco. Em Julho de 2008, a Inovcapital passar a deter 52% da empresa, ficando os restantes 48% nas mãos da SICI 93 Braga, o que permitiu "fortalecer e expandir a marca a outra dimensão", explica António Ressurreição.
No nosso país, a estratégia foi a de abrir para já duas lojas, uma a norte, no Arrábida Shopping, e uma na capital, no centro comercial Colombo. Quanto ao futuro, António Ressurreição admite: "Já passámos dias melhores, mas há que encontrar novos caminhos e novos modelos. É preciso trabalhar muito e tentar que os parceiros acreditem nos nossos projectos." Lamenta que em Portugal a estratégia tenha sido sempre a de apoiar a indústria têxtil, quando o mais importante é controlar o negócio. "Devíamos manter o comércio e deslocalizar a produção, mas não há grandes incentivos ao comércio", lamenta.
No fundo esse é o conceito da Naturapura. A empresa importa a matéria-prima, sobretudo do Perú, Israel e Turquia, mas o fabrico dos produtos fica nas mãos dos parceiros, que neste caso são todos portugueses. A Naturapura encarrega-se então do design, do marketing e da comercialização.
O futuro vira-se agora para a criação do franchising da marca. António Ressurreição diz que já foram manifestadas intenções de possíveis franchisados, mas o processo está ainda em estudo.
Perfil
Nome: Naturapura Ibérica - Produção e Comercialização de Produtos Naturais, S.A.
Actividade: Sector Têxtil
Participação: António Ressurreição foi o mentor do negócio onde tem agora uma participação de 48%, estando mais de metade do negócio (52%) nas mãos da Inovcapital.
Números: Em 2008, a Naturapura facturou 1,25 milhões de euros, valor que representou um crescimento de 25% em relação ao ano anterior. Para 2009, o objectivo é fazer crescer o negócio em torno dos 50%.
Valores: Respeito pelo Homem e pelo ambiente. A Naturapura utiliza algodão100% biológico, não utiliza pesticidas e herbicidas e um produto da marca economiza em média 60% do consumo de água e 30% do consumo de energia. Os produtos envergam o Rótulo Ecológico Europeu e são indicados para peles patológicas e testados dermatologicamente.
Dificuldade é sinónimo de oportunidade
No dicionário de António Ressurreição, a palavra dificuldade aparece como sinónimo de oportunidade. Engenheiro têxtil de 51 anos, denomina-se "o pai da criança" quando se fala da Naturapura. Trabalhou sempre no sector até que decidiu ser ele próprio empresário. Começou por criar a SICI 93 Braga, uma empresa têxtil do ramo "pronto moda" vocacionada para a concepção e design dos produtos, o controlo de qualidade, a logística e o marketing. A produção industrial nunca foi o seu objectivo. Para produzir as peças idealizadas pela sua equipa, prefere sempre trabalhar com parceiros. É assim também na Naturapura, marca que idealizou a pensar nos valores ecológicos. Mas do seu currículo ainda faz parte uma outra marca: a Playvest. Desta vez, o objectivo foi inovar no processo de fabrico e nos materiais. Entrou, então, no negócio dos chamados smart têxteis, caso dos têxteis que se adaptam às condições climatéricas e que utilizam fibras termoreguláveis. O projecto conseguiu angariar o apoio dos fundos comunitários através do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).