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Rui Costa aposta em Joana Vasconcelos

Essa mania que as pessoas têm de pensar que a única vida de um futebolista é dar pontapés na bola... (desabafo). Não é bem assim. Rui Costa pode não ser um frequentador assíduo de exposições, mas os sete anos que viveu em Florença deixaram-lhe o gosto pel

30 de Novembro de 2007 às 18:32
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Fala com conhecimento de “A Noiva”, o famoso lustre com 4,7 metros construído com 25 mil tampões. “É uma  obra fantástica”, diz.

Ontem, o “maestro” benfiquista e a artista plástica juntaram-se pela primeira vez. Rui Costa escolheu Joana Vasconcelos, mas não quis chamar-lhe “promessa”. Elegeu-a “fascinado pela diferença” que vê nas suas obras. “A Joana é já uma realidade, não uma promessa. Acho que podemos ter nomes que se destaquem internacionalmente no campo das artes pelo que acredito que, daqui a 10 anos, a Joana seja o símbolo do País pelas obras que a distinguem. É isso que lhe desejo”, explicou numa tirada só. 

O encontro foi marcado no Espaço 10, o recém-inaugurado restaurante de Rui Costa, em Lisboa. Ainda não tinham passado 24 horas desde que o Benfica fora eliminado da Liga dos Campeões, após o empate com os italianos do AC Milan, com os quais  o benfiquista jogou durante cinco anos. Lado a lado, sentaram-se um jogador “muito cansado” e uma artista “orgulhosa pela escolha” que ainda não se conheciam. Mas ninguém o diria e a conversa prometia durar horas, não vivêssemos num mundo demasiado cronometrado por reuniões. “Explique-me lá como é que se faz um sapato tão grande!”, estreia-se Rui Costa, referindo-se à “Cinderela”, a peça de cinco metros feita de panelas portuguesas que esteve em exposição, até ao passado fim de semana, nos jardins do Palácio de Belém.

Da “Cinderela” ao “Luso Nike e passando pelo “Ópio” – uma instalação feita com uma baliza gigante – Rui Costa mostra o que sabe e, do trabalho de Joana que já conhece, elege as peças “Vigoroso” e “Poderoso”. Um verdadeiro acto de “fair play”. “Os leões são uma das suas obras que acho mais bonitas”, confessa, rindo. Juntos, folheiam o portfolio de Joana, em livro encadernado que, depois de feita a dedicatória, Joana lhe viria a oferecer.

Em comum, começavam a descobrir pontos que os uniam. Para já, a idade: ele com 35, ela um ano mais velha. Depois, a exigência de aliar o treino à imaginação e a mestria de conseguir a dose certa entre os dois. “Em campo, só consigo trabalhar bem quando ponho a imaginação em acção e foi essa capacidade de imaginação que me fascinou no trabalho da Joana”, explica o jogador. A artista, que foi atleta de alta competição durante 20 anos, garante que só com treino, disciplina e concentração é que consegue dar corpo às obras que cria. “Apliquei às artes plásticas tudo o que aprendi na alta competição”, diz.

Afinal, o que prevalece, a técnica ou a criatividade? “A técnica é essencial, mas quem for mais criativo é que conseguirá fazer a diferença”. É Rui Costa quem argumenta. Joana, “benfiquista por uma questão cromática, se é que tal se pode dizer”, subscreve. Na verdade, teve até um avô que foi presidente do Sporting em Moçambique. O outro morreu com um ataque cardíaco depois de um jogo do Benfica. Mas Joana mantém a versão cromática. “O verde não é a minha cor”, garante. 

Por esta altura, trocam cartões e combinam uma visita de Rui Costa ao atelier, na Fundição de Oeiras. “É bem provável”, diz o futebolista, que Joana venha aqui a arranjar um comprador. “Mais importante do que isso é fazer um amigo”, contesta Joana. E, de preferência, de longa data, para que, daqui a uma década, possam em conjunto ver se os seus desejos foram realizados.

O de Rui Costa é que, “primeiro nós portugueses, e depois quem vem de fora, possa olhar para o País e dizer que ele está fantástico”. “Lisboa está linda”, disseram-lhe, na quarta-feira, os colegas do Milão. “Foi um dos maiores prazeres que me deram”. Joana pede maior equilíbrio social, um interior mais desenvolvido e menos distante. “É preciso rever a condição social das pessoas e dar mais qualidade de vida aos mais desfavorecidos”, diz.

E Rui Costa, onde estará daqui a 10? “Não sei. Eu estive até para me nomear como ‘promessa’ mas como não sei onde vou estar...”. E depois do humor, a confissão: “Esta temporada deverá ser a minha última como jogador, mas só vou decidir no final da época. Se o fim fosse hoje, eu diria que esta é a última. O futebol está-me no sangue mas só tenho condições para continuar quando sinto que faço bem o meu trabalho”, remata.

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