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Suspeitas de gestão danosa de Bruno Costa Carvalho na Rádio Estádio

O candidato à presidência do Benfica está sob fogo cruzado dos seus sócios na Rádio Estádio, que decidiram avançar com uma nova assembleia geral, onde vão avaliar a sua atuação quanto “a possíveis atos de abuso de confiança e gestão danosa” e a destituição do conselho de administração.

Bruno Costa Carvalho: "Todo o interesse que existe à volta deste caso é provavelmente por eu ser candidato à presidência do Benfica."
16 de Setembro de 2020 às 14:33
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Empresário ligado à fundação da NTV e do Porto Canal, Bruno Costa Carvalho é candidato à presidência do Benfica numa altura em que está a ser judicialmente contestado pelos seus sócios na tecnicamente falida RDD - Rádio Desporto, dona da Rádio Estádio, projeto por si liderado e que está agora sob suspeita de "gestão danosa".

 

Após a administração da RDD, liderada por Bruno Costa Carvalho, ter feito aprovar um plano de recuperação da RDD numa assembleia geral cuja ata foi impugnada pela maioria dos acionistas, que não estiveram presentes na reunião, os seus sócios avançaram para a realização de uma nova assembleia geral, que está marcada para 30 de setembro.

 

Uma assembleia que, entre outros pontos, vai votar um plano de recuperação da RDD alternativo ao proposto por Carvalho, assim como analisar e apreciar a "atuação dos anteriores vogais do concelho de administração quanto a possíveis atos de abuso de confiança e de gestão danosa", assim como a destituição do conselho de administração.

 

Os acionistas da RDD que representa acusam Bruno Costa Carvalho de gestão danosa? "Há fortes indícios de que assim seja", afirmou ao Negócios o advogado de João Espírito Santo e de outros sócios da RDD, que detêm, direta e indiretamente, cerca de 62% do capital da empresa.

 

"No entanto, está dependente de uma auditoria que será feita às contas da sociedade, depois de ser facultada a documentação solicitada cuja recusa ainda persiste", pelo que, "só após essa análise poderá ser deliberado pelos acionistas", ressalvou o mesmo advogado, Pedro Mendes Ferreira.

 

Espírito Santo: "Proposta enviada para os autos não se encontra sequer assinada"

 

Entretanto, o escritório de advocacia de Mendes Ferreira avançou com um requerimento ao tribunal em que João Espírito Santo, credor e acionista (30,5%) da RDD, numa decisão que é acompanhada pelos restantes elementos deste grupo de acionistas, mostra "cartão vermelho" à administração de Carvalho e junta ao processo o plano de recuperação da empresa proposto pelo empresário transmontano Vítor Fernandes, em sede de Processo Especial de Revitalização (PER) da dona da Rádio Estádio.

 

"No passado dia 7 de setembro, a devedora veio aos autos juntar nova versão do plano de recuperação, supostamente reformulado (…) contudo, a verdade é que nos presentes autos não houve qualquer negociação com os credores", porquanto, "para efetivar uma necessária aprovação unânime de um plano de recuperação conducente à revitalização do devedor, importava que a mesma se encontrasse assinada por algum dos credores, sendo que a proposta enviada para os autos não se encontra sequer assinada", acusa João Espírito Santo, no requerimento judicial.

 

Entretanto, "face à insistente recusa por parte do devedor em negociar com os credores reclamantes, persistindo em levar avante um plano real de esvaziamento da sociedade devedora, prejudicando de forma clara qualquer hipótese de revitalização e por ter tido conhecimento de uma proposta bastante mais vantajosa aos interesses universais dos credores, o credor, ora requerente, vem para o efeito apresentar uma proposta de plano de recuperação de modo a que todos os credores se possam prenunciar na fase negocial em curso", lê-se no mesmo documento.

 

E conclui: "Assim, e por considerarmos que a proposta apresentada é absolutamente vantajosa para os interesses não só da sociedade devedora como também para o universo dos credores, atendendo a que preserva os seus ativos mais valioso e pode viabilizar o futuro da sociedade no mercado das rádios nacionais convencionais, requer a junção aos autos e a sua notificação a todos os credores."

 

Grosso modo, o plano de recuperação de Vítor Fernandes, que detém quatro estações de rádio em Trás-os-Montes, passa por reembolsar os credores em 1,5 milhões de euros, com os 15 trabalhadores a verem os seus créditos pagos em 50% no prazo máximo de 24 meses, comprometendo-se o empresário a recontratar "pelo menos" cinco desses profissionais.

 

"Sem prejuízo, o investidor exercerá a sua livre e espontânea vontade, e sem que isso constitua uma obrigação geral, de remunerar até 50% do capital investido, assim como outras formas de compensação, aos acionistas que façam prova de boa-fé pela ausência de qualquer responsabilidade ao estado em que o devedor se encontra", adianta Vítor Fernandes.

 

Uma "vontade" que exclui o presidente da empresa e detentor de cerca de 30% da empresa. Sobre este, nas "observações finais" do plano de recuperação, conclui o empresário transmontano: "A gestão de Bruno Costa carvalho deve ser alvo de uma auditoria detalhada, e comunicadas as conclusões ao Ministério Público para os fins que julgar pertinentes na lei."

 

Um plano de recuperação que, ainda há quatro meses, o próprio Bruno Costa Carvalho dava como aprovado, em declarações ao Negócios, mas que posteriormente rasgou, substituindo-o por outro que propõe um perdão de 90% dos créditos dos trabalhadores, enquanto a Acácio Marinho e esposa, credores de mais de dois milhões da dívida de 2,5 milhões de euros com que a RDD aderiu ao PER, é proposta a anulação dos contratos de compra de venda das licenças de rádio, devolvendo-lhes, assim, valiosas frequências no Porto e em Lisboa.

 

Bruno Costa Carvalho: "Espírito Santo sabia de tudo, Vítor Fernandes não é credível"

 

Contactado pelo Negócios, Bruno Costa Carvalho contra-atacou João Espírito Santo e Vítor Fernandes.

 

"Esses pontos que estão na agenda [da próxima assembleia geral relativamente a possíveis atos de gestão danosa por parte da administração] são sobre um período em o doutor João Espírito Santo foi administrador da empresa o tempo todo. Era eu ele os administradores. Ele sabia de tudo o que se passava na empresa, portanto, não pode fingir agora que não sabe", alegou Bruno Costa Carvalho.

 

"Houve gestão danosa do lado dele? Não houve, pois todas as decisões foram tomadas em conjunto", acrescentou, garantindo que "a empresa tomou todas as decisões normais, corretas, dentro de uma lógica de boa gestão".

 

Recentemente, também em declarações ao Negócios, o empresário e médico João Espírito Santo - o "Sr. Doutor", rubrica de um programa da TVI - mostrou-se bastante agastado com o comportamento do presidente e mentor da Rádio Estádio. "Eu, como os demais investidores, acreditámos neste projeto, liderado e implementado por Bruno Costa Carvalho, que era rei e senhor no que aí fazia. Perdemos muito dinheiro", queixou-se.

 

Para Bruno Costa Carvalho, o problema do projeto "foi que o mercado publicitário não respondeu como o esperado, pelo que as receitas passaram para metade do que estava previsto no ‘business plan’. Eu nunca recebi o salário que estava previsto, mas sempre muitíssimo abaixo", afiançou.

 

De resto, Bruno Costa Carvalho considera que "todo o interesse que existe à volta deste caso é provavelmente por eu ser candidato à presidência do Benfica", pois não percebe que "esteja a suscitar todo este interesse uma empresa que não tem nenhum funcionário - e só teve, no máximo, 15. Todas as pessoas da Rádio Estádio estão a receber [subsídio de desemprego] do Estado, sendo que todos se demitiram por justa causa", rematou.

 

Já relativamente ao plano de salvação da empresa apresentado por Vítor Fernandes, Bruno Costa Carvalho afirmou que tem "grandes dúvidas sobre se este plano alternativo possa sequer ser aceite".

 

"Ainda por cima está toda a gente [leia-se o grupo de acionistas que representa 62% do capital da empresa] a entrar num vício de achar que o Vítor Fernandes é credível, que não é", assegurou.

 

Rádio Estádio colapsou a 6 de março com salários em atraso

 

Foi a 6 de março passado que o agora recandidato à presidência do Benfica anunciava aos 12 jornalistas e demais colaboradores da Rádio Estádio que este projeto, que tinha sido fundado apenas 10 meses antes, chegava ao fim por dificuldades financeiras, após um investimento de quase três milhões de euros.

 

Nessa altura, a emissora acumulava já três meses de salários em atraso, mais os subsídios de férias e de Natal de 2019, assim como os subsídios proporcionais de 2020, a que acrescia despesas de serviço e quotas sindicais. Os trabalhadores avançaram então para a rescisão dos contratos por justa causa.

 

Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting (que reclama créditos de 2.115 euros), e Gabriel Alves (3.190 euros), antiga glória da rádio portuguesa, eram alguns dos comentadores desta rádio.

 

A emitir em 89.0 FM (Porto) e em 96.2 FM (Lisboa), e no endereço de internet www.radioestadio.pt, a Rádio Estádio entrou então em piloto automático.

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