Notícia
Viriato espera "apoio" da Lone Star nos quartos de hotel
A venda do Novo Banco está fora da "análise de risco mais apertada" da empresa de mobiliário e decoração de hotéis, que negociou com a banca um plano de reestruturação e uma mudança de cadeiras na gestão.
A venda do Novo Banco ao fundo americano Lone Star foi acompanhada com especial atenção na freguesia de Rebordosa, no concelho de Paredes. É que o antigo BES é o maior credor da Viriato Concept Hotel, liderando o sindicato bancário que há cerca de três anos impôs um plano de reestruturação e de saneamento financeiro e nomeou também um gestor profissional para comandar a empresa de mobiliário.
O actual CEO, João Martins, disse ao Negócios que "não [vê] motivo para estar preocupado" com a operação anunciada a 31 de Março pelo Banco de Portugal. E se o governador, Carlos Costa, garantiu que é um "accionista que assume um compromisso de médio prazo com o banco", o gestor da Viriato, que passou pelo Banco Pinto & Sotto Mayor, pelo BCP e BNP Paribas antes de fundar em 2005 a consultora financeira INOFIN, resume que este "não é um dossiê que esteja neste momento nos radares de qualquer análise de risco mais apertada".
Fundada em 1952 por Viriato Rocha, que trabalhava numa pequena marcenaria, a Móveis Viriato especializou-se a partir dos anos 1980 no segmento hoteleiro, depois de mobilar uma unidade em França. Já nesta década, a quebra nas receitas, os problemas de tesouraria e a pressão da dívida obrigaram-na a negociar com os seis bancos credores um plano de reestruturação, preparado em 2014 e implementado no ano seguinte pelo substituto de António Rocha na presidência executiva – o antigo BES já tinha indicado outros quadros para a área financeira e de operações.
Consolidar os capitais permanentes, transformando dívida de curto prazo em médio prazo, e reduzir o peso da função financeira fez parte de "um processo muito importante de negociação com a banca, que permitiu a estabilização da tesouraria e a continuidade da empresa" sem avançar com um Processo Especial de Revitalização (PER).
"O plano de amortização da dívida é de dez anos e terá a sua evolução natural e o seu ‘rollover’ [extensão para lá da data de vencimento inicialmente fixada]. Esse plano está a ser cumprido, os meios que a empresa está a libertar são interessantes, o sector também tem ajudado. Estamos a cumprir com esses acordos", resumiu o CEO.
A família Rocha continua a deter a totalidade do capital da empresa de mobiliário e decoração de unidades hoteleiras, que emprega 114 pessoas e produz internamente todos os móveis, subcontratando a fabricação dos produtos metálicos, de iluminação ou têxteis. Sobre o afastamento da família da liderança executiva – Fernando Rocha é o representante na administração –, o CEO referiu que "de facto, no dia-a-dia não é feita a separação da gestão entre o que é a família ou o que não é". "Estamos a remar para o mesmo lado, é o que interessa", acrescentou.
Rentabilidade e exposição internacional
O volume de negócios, que em 2013, no ano anterior à negociação com a banca, tinha afundado 40% para 13 milhões de euros, subiu em dois anos para 21 milhões de euros. Em 2016, a facturação encolheu para 17 milhões de euros, justificada por "razões de mercado" em virtude de um negócio de fornecimento de um grande hotel não ter sido concluído até ao fecho do exercício.
Para este ano, Martins "perspectiva com muita segurança" que as vendas ficarão próximas de 25 milhões de euros, a avaliar pelos projectos em carteira, e garante que é rentável o negócio da Viriato, que tem no portefólio mais de 400 hotéis mobilados e uma capacidade de fornecimento anual de cerca de meia centena de unidades com 250 quartos cada. "Os índices de rentabilidade são crescentes. Temos um EBITDA superior a 10% das vendas. De forma consolidada e crescente, este indicador tem vindo a aumentar", resumiu.
As exportações representam 95% das receitas, tendo como clientes algumas das maiores e mais luxuosas cadeias hoteleiras, como Marriott, Sheraton, Méridien, Intercontinental, Hilton, Club Med e Mandarin. No ano passado, os projectos em África representaram 40% do total, com destaque para o Magrebe; 30% foram feitos na Europa, onde a França e os países escandinavos sãos os mais valiosos; e as restantes verbas foram realizadas na região América e Pacífico.
Abrir o capital da sociedade a investidores, algo que as últimas duas administrações tinham colocado como fasquia, "não foi matéria de conversa" até ao momento no mandato em curso (de três anos) de João Martins, que garante não estar à procura de um comprador. Nacional, estrangeiro, da indústria ou financeiro. Todas as hipóteses e perfis tinham sido admitidos há menos de dois anos pelo anterior presidente executivo.
"A empresa não está à venda, embora a gestão profissional e os accionistas sejam pessoas de mente aberta. Mediante uma oportunidade de negócio estamos abertos a propostas. Temos os capitais tranquilos, equilibrados, estamos a solver os compromissos. Se não fosse a inversão do mercado do ponto de vista dos proveitos e das receitas, talvez lhe desse outra resposta", concluiu o executivo formado na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).
Novos hotéis em Portugal com margens e dimensão pouco sedutoras
A explosão do sector hoteleiro em Portugal não chega para atrair a Viriato a apostar no mercado doméstico, que vale apenas 5% do volume de negócios anual e onde mantém alguns clientes, como o grupo Pestana para quem mobilou, por exemplo, o hotel CR7 em Lisboa. "Vemos muitos hotéis em construção, mas as margens não são grandes, estão muito apertadas. E a nossa estrutura está preparada para outro tipo de negócios, de maior dimensão", analisou João Martins, que prefere apostar nos projectos no estrangeiro e "perseguir as cadeias que já conhecem a empresa e que têm vindo a repetir" encomendas.