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Capital do Móvel acorda renegociação da dívida com a Caixa

A Associação Empresarial de Paços de Ferreira esteve quase um ano à espera que o banco público tivesse administração para assinar o entendimento. O diferendo de meio milhão de euros com a Câmara vai ser resolvido com subsídios.

Paulo Duarte/Negócios
21 de Março de 2017 às 14:34
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A Associação Empresarial de Paços de Ferreira (AEPF) vai assinar esta quarta-feira, 22 de Março, um acordo de renegociação de dívida com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), que implica a redução da mensalidade a pagar de 25 mil para oito mil euros durante os dois próximos anos.

 

Segundo adiantou Rui Carneiro, presidente da AEPF, o entendimento vai ser passado para o papel ao início da tarde, no Porto, com representantes da administração agora liderada por Paulo Macedo. A agitação dos últimos meses no banco público, que incluiu o processo de recapitalização e a polémica passagem de António Domingues pela administração, atrasou a concretização deste acordo, que já estava alinhavado antes do Verão passado.

 

A dívida à banca desta associação que detém a marca Capital do Móvel ascende a 1,6 milhões de euros. Cerca de 90% do valor é devido à Caixa, sobretudo pelo financiamento para a compra e obras de requalificação do pavilhão de feiras e exposições do concelho. O dirigente frisou ao Negócios que o acordo não contempla perdão de dívida e que as novas condições são válidas durante dois anos. No final desse período, que coincide com o mandato de Rui Carneiro, será feita uma reavaliação.

 

Durante um encontro com a imprensa, realizado esta manhã num hotel do Porto, Rui Carneiro revelou também que já está resolvido o diferendo com a Câmara de Paços de Ferreira, a quem reclamava a regularização de uma dívida de 455 mil euros que estava a causar dificuldades de tesouraria e atrasos no pagamento a fornecedores e aos bancos.

 

"A Câmara vai-nos dar um subsídio anual de cem mil euros, durante cinco anos, para recuperar esse valor", detalhou o líder da AEPF. Em causa está um contrato de arrendamento do parque de exposições, firmado há quase nove anos com a autarquia então liderada pelo social-democrata Pedro Pinto, que pressupunha o pagamento de um valor mensal mas que nunca chegou a ser executado.

 

A AEPF tinha ameaçado avançar para os tribunais contra o Executivo pacense, actualmente presidido por Humberto Brito, eleito pelo PS. Em Agosto, fonte oficial da Câmara disse ao Negócios que a auditoria externa às contas não encontrara os movimentos reclamados na contabilidade do município, nem havia "quaisquer documentos que suportem ou titulem dívida". Sem "um mecanismo ao seu dispor para cumprir", a questão chegou a ser reencaminhada para o Ministério Público, para que fosse investigada a origem da dívida e fosse apurada "toda a verdade".

 

Questionado sobre a actual situação financeira da associação empresarial, que tem um orçamento anual de 1,7 milhões de euros, Rui Carneiro admitiu que, apesar destes balões de oxigénio, "todas as associações vivem um momento difícil". É que as quotas das perto de 400 associadas, que empregam 4.500 pessoas, só representam 2% das receitas e há neste momento "muitos atrasos" nos projectos de formação profissional, que são uma das principais fontes de rendimento.

 

Esta demora na abertura de cursos, realizados com financiamento comunitário e que têm uma taxa média de empregabilidade de 75%, acontece numa altura em que as indústrias de vários sectores se queixam de "não [ter] gente para trabalhar", sobretudo mão-de-obra jovem. Carneiro deu o exemplo da carência de 200 costureiras e estofadores no concelho, quer para a área da confecção, quer para as empresas especializadas em sofás (um segmento em crescimento), mesmo com ofertas salariais de 800 a 900 euros para estes perfis.

 

Turismo industrial e compradores estrangeiros

 

A AEPF é a organizadora da tradicional feira Capital do Móvel, que se realiza duas vezes por ano – a próxima arranca a 1 de Abril –, onde marcam presença entre 75 a 100 expositores e que atrai perto de 20 mil pessoas, incluindo alguns espanhóis e franceses. Face à quebra no fluxo de visitantes nos últimos anos, admite vir a realizá-la também noutras cidades portuguesas e no estrangeiro. Até já tentou fazê-lo na Galiza, onde enfrenta a concorrência de produtores locais, mas a iniciativa acabou por ser bloqueada pelo governo regional.



Uma das estratégias dos empresários deste concelho, que vale 13% das exportações portuguesas de mobiliário e colchoaria portuguesas – em 2016 ascenderam a 1.700 milhões de euros –, passa pela exploração do modelo de turismo industrial. A intenção da associação, que já encetou contactos com o Turismo do Porto e Norte de Portugal, é "aproveitar os turistas que vêm ao Porto e levá-los a Paços de Ferreira", onde as empresas do sector têm mais de um milhão de metros quadrados de área de exposição em permanência.

 

No plano da promoção externa, a AEPF estará envolvida numa missão com a AICEP ao Irão, agendada para Setembro ou Outubro deste ano. Antes disso, já daqui por um mês, está programada a visita de quase uma dezena de clientes alemães, entre lojas de relevo e centrais de compras, às empresas de mobiliário do concelho. Em Julho fará uma acção idêntica com compradores britânicos, sendo estes "dois mercados em grande crescimento e onde geralmente não [fazem] feiras".

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