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Portugal leva 76 empresas à maior feira mundial de calçado

Depois de um ano de 2023 “de forte contenção” e de um 2024 “de transição” - até junho deste ano Portugal faturou 818 milhões de euros nas exportações, o que corresponde a uma quebra homóloga de 15,2% -, o setor garante estar de “baterias apontadas” a 2025.

Tim Chong/Reuters
14 de Setembro de 2024 às 09:56
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Setenta e seis empresas portuguesas da fileira do calçado participam na próxima semana, em Milão, Itália, nos certames internacionais Micam, Mipel, Lineapelle e Simac, apostando numa retoma do consumo para inverter a quebra das exportações no primeiro semestre.

"Antevemos que a redução das taxas de juro e a inflação controlada possam funcionar como estímulos ao consumo, pelo que prevemos que o segundo semestre de 2024 seja já de alguma recuperação do setor a nível internacional", considera o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), citado num comunicado.

Quanto a 2025, Paulo Gonçalves espera que "seja já o ano regresso em força do calçado português aos mercados internacionais".

Depois de um ano de 2023 "de forte contenção" e de um 2024 "de transição" - até junho deste ano Portugal exportou 35 milhões de pares de calçado no valor de 818 milhões de euros, o que corresponde a quebras homólogas de 1,8% e de 15,2%, respetivamente -- o setor do calçado garante estar de "baterias apontadas" a 2025.

"Estamos a procurar, num contexto de grande exigência, regressar paulatinamente aos mercados internacionais", afirma o presidente da APICCAPS, Luís Onofre.

Nas feiras de calçado Micam e de acessórios de pele Mipel - que decorrem de domingo a terça-feira - a comitiva portuguesa contará com a participação de 40 empresas (39 na Micam e uma na Mipel), um crescimento de 21% face à edição anterior.

Já na feira de componentes para calçado e curtumes Lineapelle, a delegação nacional será assegurada por 30 empresas, enquanto na Simac, o certame de tecnologia para a fileira, seis empresas portuguesas apresentarão os primeiros resultados do projeto mobilizador FAIST, orçado em 60 milhões de euros e enquadrado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Estes dois certames decorrem de terça a quinta-feira.

Lembrando que, por exportar mais de 90% da sua produção, o setor português do calçado "está muito dependente da evolução dos mercados internacionais", a associação nota que 2023 foi um ano "particularmente difícil para o setor do calçado a nível mundial", devido aos efeitos colaterais da guerra e à retração do consumo.

Já este ano, refere, o primeiro semestre "continua a penalizar os principais 'players' do setor".

"A retração do consumo estende-se praticamente a todos os grandes blocos económicos, com as importações da Alemanha a recuarem 2%, da Bélgica 14%, da França 3%, do Japão 11% e do Reino Unido 5% nos primeiros cinco meses do ano", detalha a APICCAPS.

De acordo com a associação, "na grande tela internacional apenas os EUA ficam relativamente bem na fotografia, recuperando 1% nas importações, depois de uma perda na ordem dos 30% no último ano".

Neste contexto, na primeira metade do ano os principais exportadores de calçado foram afetados pela retração do consumo, sendo disso exemplo o líder mundial do setor - a China -- cujas vendas para o exterior recuaram 9% até junho.

O líder da associação italiana de calçado Assocalzaturifici, Giovanna Ceolini, refere que também as exportações italianas de calçado caíram 9% até maio, evidenciando que "a desaceleração que começou na segunda metade de 2023 continua este ano", tendo-se tornado ainda mais acentuada nos últimos meses, "com uma forte redução nas encomendas e na atividade de produção".

Tendo por base o inquérito periódico efetuado ao universo de empresas italianas de calçado, a expectativa dos empresários é que, "possivelmente, a recuperação do setor chegue apenas em 2025".

No Brasil, o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, acredita num "segundo semestre melhor", mas aponta, este ano, "além da baixa dinâmica do consumo internacional, dificuldades adicionais nos dois principais destinos do calçado brasileiro no exterior, os Estados Unidos e a Argentina".

Produção nacional de calçado recua em 2023 mas abaixo da tendência mundial

A produção mundial de calçado caiu 6% para 22.400 milhões de pares em 2023, o mínimo da década excluindo os anos pandémicos de 2020 e 2021, tendo recuado 3,6% em Portugal, cujo desempenho superou o da concorrente Itália.

Segundo dados do Word Footwear Yearbook citados pela Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), apesar do recuo de 3,6% da produção, para 81 milhões de pares, no ano passado a indústria nacional "voltou a revelar um melhor desempenho do que Itália", que perdeu 8,6% para 148 milhões de pares.

Já considerando a última década, a associação destaca que a produção portuguesa de calçado aumentou 8% (de 75 milhões de pares em 2013 para 81 milhões em 2023), enquanto Itália produziu menos 26,7% (de 202 milhões de pares em 2013 para 148 no ano passado).

Desde 2018, a produção de calçado em Portugal aumentou 1,3% para 81 milhões de pares, o que compara com um recuo de 20% (de 92 para 80 milhões) da indústria espanhola e uma quebra de 19,6% da italiana, que produziu 148 milhões de pares em 2023.

"Em termos práticos, na Europa, apenas Portugal reforçou a produção de calçado", realça a APICCAPS, salientando que "a indústria portuguesa assume, por esta altura, praticamente 20% da produção europeia".

A associação destaca que a indústria do calçado "continua fortemente concentrada na Ásia, onde são fabricados quase nove em cada 10 pares de calçado", o que se traduz numa quota de 87,1% do total mundial (87,4% no ano anterior).

Ainda assim, em 2023, a produção na Europa recuou apenas 5%, o que compara com a perda de 7% no continente asiático.

"Ainda que o ano de 2023 tenha sido particularmente difícil para o setor do calçado a nível internacional, começam a verificar-se os primeiros sinais consolidados de 'nearshoring' [encurtamento das cadeias de produção, contratando em regiões mais próximas]", sublinha o presidente da APICCAPS, citado num comunicado.

Para Luís Onofre, este é "claramente um bom sinal" para as empresas portuguesas, que, "mesmo num clima de grande exigência, continuam a investir e a procurar novas oportunidades de negócio".

"Nos últimos dois anos, o nosso país foi procurado por marcas de inegável prestígio a nível internacional, que procuram naturalmente um parceiro fiável, com uma grande qualidade produtiva, serviço de excelência e que está a apostar de forma continuada nas áreas da automação, digitalização e mesmo sustentabilidade", sublinha o dirigente associativo.

A nível global, a China continua a destacar-se como o maior produtor mundial de calçado, respondendo pelo fabrico de 12.300 milhões de pares em 2023 e respondendo por 55% da quota de mercado global.

Já a Índia reforçou a sua participação, sendo agora responsável por 11,6% do total mundial.

De acordo com o World Footwear Yearbook, a queda registada na produção mundial de calçado em 2023 está diretamente relacionada com a contração do consumo nos principais mercados mundiais: os EUA (recuo de 749 milhões de pares), a China (menos 398 milhões de pares) e a União Europeia (decréscimo de 399 milhões de pares). No conjunto, perderam praticamente 1.500 milhões de pares.

Na mesma linha, as exportações globais de calçado sofreram um "revés significativo" no ano passado, ascendendo a 14.000 milhões de pares e 168.000 milhões de dólares (cerca de 152.420 milhões de euros), o que representa uma quebra homóloga de 9,1% e 6,1%, respetivamente.

"No meio deste cenário desafiador, os países asiáticos consolidaram o seu domínio no comércio global de calçado, com a sua quota coletiva a aumentar para 84,6%, face a 83,9% em 2022. Por outro lado, a quota da Europa contraiu ligeiramente para 12,8%", detalha a APICCAPS.

Em 2023, o preço médio de exportação por par de calçado foi de 12 dólares, um aumento de 3,2% face a 2022 e de 38,8% na última década. Itália continua a liderar esta tabela, seguida de Portugal.

A Ásia domina também no que respeita ao consumo de calçado, respondendo no ano passado por mais de metade (54,7%) do total mundial, acima da quota registada no ano anterior. Seguem-se a Europa e a América do Norte, respetivamente com quotas de 13,9% e 13,4%.

Por países, a China continua a ser o principal consumidor de calçado, embora a sua participação no total mundial tenha diminuído e se situe agora em 17,1%.

O consumo nos Estados Unidos registou também uma redução significativa, que custou ao país a segunda posição alcançada no ano anterior, permitindo a sua ultrapassagem pela Índia.

Já a União Europeia, quando considerada como uma região, representa o terceiro maior mercado consumidor de calçado, com 1.948 milhões de pares consumidos em 2023.

 

 

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