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Morreu Joaquim, o mais novo e livre do clã Amorim. Chegou a ter 25% da Corticeira

Capitalizava o conhecimento que tinha de outras línguas, sendo capaz de “estar com um cliente a vender um produto até o cansar por exaustão”. E viajou tanto. “Se conhecermos o mundo e soubermos adaptar-nos ao mundo, teremos sucesso. Eu tive essa felicidade de me adaptar ao mundo.”

21 de Setembro de 2023 às 11:11
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Morreu Joaquim Ferreira de Amorim, o mais novo dos quatro irmãos que, a partir de 1960, assumiram o comando do grupo que viria a transformar-se na líder mundial Corticeira Amorim. Tinha 87 anos.

 

Após a morte de Américo Amorim, em Julho de 2017, e de José Ferreira Amorim, em janeiro do ano passado, António Ferreira de Amorim, de 95 anos, é o único dos quatro irmãos (de um total de oito) ainda vivo.

 

Com 95 anos, António Ferreira de Amorim tem o seu filho na liderança da Corticeira Amorim, há mais de duas décadas, controlando o grupo a meias com a sua cunhada Maria Fernanda, e as sobrinhas Paula, Luísa e Marta, filhas de Américo.

 

Em setembro de 1987, em discordância com o irmão Américo, que decidiu levar a Corticeira Amorim para o mercado de capitais, José Ferreira Amorim abandonava os negócios da família.

 

Em 2005, houve uma nova cisão no clã, com a partilha de negócios entre irmãos, tendo em 2013 Joaquim Ferreira de Amorim vendido os seus 25% na Corticeira Amorim ao irmão António, que ficou assim com uma participação similar à de Américo.

 

A venda dos 25% que detinha na Corticeira Amorim surgiu na sequência da adesão de Joaquim Ferreira de Amorim ao Processo Especial de Revitalização PER), em 2012, parar evitar a falência pessoal e da Evalesco, nome do seu grupo familiar, controlado por si e pelos seus filhos André e Carla.

 

Na altura, os créditos da Evalesco totalizavam 84 milhões de euros e estavam nas mãos de uma dezena de bancos, entre os quais o BCP (mais de 20% do total), o então Banif (14%) e o Montepio (13%).

Joaquim Ferreira de Amorim morreu esta quarta-feira, 20 de Setembro de 2023. As cerimónias fúnebres decorreram esta quinta-feira, com missa de corpo presente realizada no Mosteiro de S. Salvador de Grijó, em Gaia, pelas 12h. O corpo seguiu para crematório.

"O líder desses quatro irmãos era o meu irmão Américo, que dizia ‘faz-se’"

"O Sr. Joaquim, comercial por excelência, tinha por função trabalhar mercados", contou um dos funcionários do grupo na tese "Expansão do Grupo Amorim, de Carla Sofia da Silva Coelho. "Era capaz de estar com um cliente a vender um produto até o cansar por exaustão."

 

Sempre foi o mais livre dos irmãos Amorim. Anos 60 do século passado. "Depois de passar por França e Inglaterra, rumou ao Brasil para gerir os negócios do grupo, e aí ficou até 1966. De regresso a Portugal, motivado por uma curiosidade intrínseca e alegria de viver, continuou a viajar pelo mundo, numa aprendizagem constante de que muito se orgulha. Um testemunho vivo, e emotivo, dos últimos 60 anos da história do grupo", conta a Corticeira Amorim, numa publicação interna, em maio de 2020.

 

"Eu, Joaquim Amorim, fiz parte de um grupo de quatro irmãos, que, com o apoio de toda a gente, da família, dos amigos, da equipa comercial e industrial, conseguimos levar as coisas onde estão hoje" recordava Joaquim.

 

"Logicamente, o líder desses quatro irmãos era o meu irmão Américo, que dizia ‘faz-se’. Se ninguém fizesse ele fazia, e era sempre em benefício de todos", reconhecia.

 

"Andei na escola primária de Mozelos, daí passei para a Escola Comercial do Porto, onde fiz o curso durante quatro anos. Até lembro das disciplinas: português, francês, inglês, geografia, caligrafia, estenografia, matemática, álgebra e comércio mundial. Em 1954, quando terminei o curso, um senhor francês, da Charles Duvicq et Fils, cliente da Amorim & Irmãos, convidou-me para ir para França, onde tinha fábricas de cortiça, perto de Bayonne. Como eu era o mais novo dos irmãos, fui. Fui a 14 de julho, o dia da tomada da Bastilha, e fiquei até dezembro. Foi um grande estágio. Tinha total liberdade para circular pela fábrica, pelos escritórios, e aprendi muito. Acompanhava-o nas visitas a clientes, enquanto ele negociava. Aprendi muito sobre a cultura francesa, sobre a rolha", afirmava, na mesma publicação da Corticeira Amorim.

"Porto - Londres, Londres - Dubai, Dubai - Nova Deli, e Nova Deli –Tóquio"

Entretanto, em janeiro de 1955, regressou por instantes a Portugal, tendo logo a seguir rumado a Inglaterra para aprender a língua e fazer um curso comercial em Cambridge, ficando a viver em Guildford, a sul de Londres: "Nessa escola onde estive havia pessoas de todas as partes da Europa - franceses, Italianos, espanhóis. Havia aulas para todas as línguas, e como eu já sabia francês, até o chamado ‘patois’ (vernáculo), fiquei no grupo dos franceses, e foi com eles que convivi nesse tempo, apesar de estar em Inglaterra."

 

 

Em 1960, foi tomar conta dos negócios da família no Brasil. Ficou em São Paulo meia dúzia de anos, "estabelecendo fortes laços comerciais e de amizade, que ainda hoje, passados 50 anos, se mantêm vivos, como, por exemplo, com os fundadores da firma Cereser, líder de mercado de cidras e espumantes no Brasil", enfatizava a Corticeira Amorim há três anos.

 

Joaquim regressou a Portugal na véspera do Natal de 1966,mergulhando no imenso universo global Corticeira Amorim, tomando conhecimento profundo da origem da cortiça - o montado – e das fábricas do grupo.

 

"A partir de 1970, acompanhando a internacionalização do grupo, o caminho que trilha no seio da empresa assume uma vertente mais comercial. Joaquim Amorim capitaliza o conhecimento que tem de outras línguas e acompanha as equipas comerciais em visita a clientes no estrangeiro. Estes périplos levam-no aos quatro cantos do mundo, Japão, Austrália e China, por exemplo, onde acompanha a delegação de Mário Soares numa visita a Macau", destaca a Corticeira Amorim.

 

Joaquim Amorim recordava-se, em especial, de uma viagem ao Japão que durou quase 24 horas - "Porto - Londres, Londres - Dubai, Dubai - Nova Deli, e Nova Deli –Tóquio."

Reconhecido por todas pela sua jovialidade, e sempre sorridente, viajou também pela Ásia Central, América Central e do Sul e América do Norte.

 

"Eu era o mais livre"

E aprendeu muito em todos os lugares. "Lembro sempre das palavras de um escritor brasileiro: ‘No país onde fores, adapta-te ou morres!’, e estou completamente de acordo. No Brasil sê brasileiro, em Marrocos, marroquino, na Rússia tenho de ser russo, e acabou-se o problema."

 

E confidenciava: "Dos quatro irmãos eu era o mais pequeno, e como os outros estavam já dentro do grupo, eu era o mais livre."

 

"Quando me pergunto o que fiz nestes 60 anos, lembro-me sempre do que dizia o meu irmão Américo - a primeira escola que temos é viajar e conhecer o mundo. E se conhecermos o mundo e soubermos adaptar-nos ao mundo, teremos sucesso. Eu tive essa felicidade de me adaptar ao mundo", rematava.

 

Desafiado a fazer um balanço dos 150 anos da empresa, comemorados em 2020, Joaquim Ferreira de Amorim lembrava os valores que desde sempre, afiançava, vê espelhados na empresa: "Bom-senso, lealdade, honestidade, gratidão. O sucesso deste grupo resulta de tudo isso. Quando penso na história dos meus avós, como começaram, como foram por aqui, por acolá, penso que lhes devemos uma enorme gratidão. Deram-nos essa educação: trabalho, trabalho, trabalho, e a gente não sabe fazer mais nada", concluía.

 


(Notícia atualizada às 12:12)

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