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Indústria têxtil pede “apoio e carinho” do Estado português
O patrão dos têxteis e do vestuário aconselhou o Governo a “apoiar a criação da riqueza antes da sua distribuição”, criticando a carga fiscal sobre as empresas, os custos da energia e a subida dos custos do trabalho.
O presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) transmitiu esta quarta-feira, 4 de dezembro, ao ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, que "esta indústria é relevante para o país, devendo ser apoiada e acarinhada", nomeadamente "através de um entorno regulamentar amigo" e com expressão em várias áreas, da fiscalidade aos custos do trabalho.
No fórum anual da indústria, marcado pelo cenário que antecipa a destruição de milhares de empresas e de empregos nos próximos cinco anos, Mário Jorge Machado exortou o Governo a "apoiar a criação da riqueza antes da sua distribuição". "Algo que o senhor ministro entende bem, mas que continua a resultar de difícil entendimento para alguns responsáveis políticos", criticou o líder da Adalberto Estampados.
Os custos da energia e o acesso ao financiamento por parte das PME continuam na agenda dos industriais, que no tradicional "Discurso de Estado do Setor" descreveu um "ambiente não ‘friendly’" [amigável] para os negócios e para o investimento. O sucessor de Paulo Melo na liderança desta associação patronal notou que esse contexto "é difícil de alcançar com a atual carga fiscal para as empresas, a burocracia e um sistema fiscal lento e pouco confiável" e acabou a reclamar que "quem produz e exporta deve ser discriminado positivamente".
No entanto, o destaque foi para "uma preocupação inesperada nos últimos anos", como se referiu aos sucessivos aumentos do salário mínimo nacional. O Governo aprovou no mês passado uma nova subida para 635 euros em 2020, sem acordo em concertação social, pretendendo atingir os 750 euros no final da legislatura, em 2023.
"As empresas sempre se preocuparam em remunerar o melhor possível os seus trabalhadores, mas os salários devem estar ligados à inflação e à produtividade, sob pena de estarmos a condenar a competitividade a prazo", frisou Mário Jorge Machado, dramatizando mesmo que esta evolução "ameaça as empresas que competem à escala global e pode condená-las ao desaparecimento".
Na resposta, em declarações à margem da conferência, onde também desvalorizou a potencial perda de milhares de empregos nesta indústria, o ministro da Economia respondeu que a subida salarial "é boa porque aspiramos a que as pessoas possam encontrar em Portugal trabalho à altura das suas qualificações e aspirações". E "ou conseguimos criar condições para fixar as novas gerações, ou não conseguiremos dar este salto de crescer em inovação e em valor".
"O processo de elevação dos salários é bom para Portugal, cria mais exigência à economia e às nossas empresas. Do ponto de vista das políticas públicas, o que temos de assegurar é que as empresas têm condições para melhorar os níveis de produtividade, reduzindo custos de contexto, criando uma fiscalidade mais amiga do investimento e assegurando o acesso ao financiamento", concluiu Pedro Siza Vieira.
Líder dos têxteis fala em "redimensionamento da cadeia de valor"
Mário Jorge Machado destacou que "a incerteza é a única coisa certa que espera [esta indústria] nos próximos anos" e que os empresários terão de "estar preparados para todos os cenários". "O que enfrentamos não é apenas conjuntural – um arrefecimento dos parceiros e consequência de conflitos internacionais, como o Brexit ou a guerra comercial entre os EUA e a China. Estamos a experienciar algo mais profundo e estrutural e que modifica profundamente os fundamentos em que assentou a indústria da moda nas últimas décadas". Dando o exemplo dos princípios da conectividade ou da sustentabilidade, o presidente da ATP frisou que esta mudança "vai obrigar a um redimensionamento de toda a cadeia de valor, sob pena de quem o ignorar ou responder a ele com soluções do passado - ou mesmo do presente - ficar fora do negócio".