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Famel prepara regresso à estrada em modo elétrico com "empurrão" de 2,5 milhões

Marca histórica de motociclos em Portugal relança-se com capital da Magnify Capital Partners e do Banco de Fomento. Novo modelo elétrico recupera traços da icónica XF-17 conta uma centena de reservas. Primeiras entregas previstas para a primavera.

Sérgio Lemos
10 de Setembro de 2024 às 14:04
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A Famel abriu uma ronda de financiamento para revitalizar a histórica marca de motociclos em Portugal e voltar à estrada com um modelo elétrico, inspirado na emblemática XF-17, que espera começar a entregar na primavera do próximo ano, contando já com um "empurrão" de 2,45 milhões de euros.

Esse "empurrão" resulta de um investimento já garantido pelo Fundo Novus, gerido pela Magnify Capital Partners, em parceria com o Banco Português de Fomento, estando a ronda aberta a pequenos investidores até ao final do próximo mês, pelo capital mínimo de 10 mil euros.

A Famel reaparece com duas versões (Café Racer e Clássica), que "reavivam" os traços originais da icónica XF-17, renascendo alinhada com o atual contexto da crescente procura por soluções de mobilidade ecológica, afirmou o CEO e 're-founder' da Famel, Joel Sousa, em conferência de imprensa, indicando que soma quase 100 pré-reservas.

"Há dez anos tive o sonho de pegar nesta marca histórica portuguesa e recuperá-la. É uma marca que está no coração dos portugueses, com um legado incrível e que estava ligada às vilas, mas hoje, com estes dois modelos [Clássica e Café Racer] pretendemos trazê-la para as cidades e torná-la numa referência na mobilidade sustentável urbana", sublinhou o mesmo responsável.

Contudo, com o desenrolar do processo, que "demorou algum tempo", ficou claro de que a Famel precisava de uma injeção de capital maior do que o inicialmente previsto para arrancar. "Fomo-nos apercebendo de que o capital necessário era bastante superior ao que tínhamos no início e fomos à procura. E abrimos esta ronda a investidores privados porque sentimos que outros estariam interessados em participar no projeto. Foi isso que nos levou a abrir esta ronda extra", contextualizou Joel Sousa.

O CEO da Famel adiantou que, até ao momento, contam com sensivelmente 100 encomendas, sendo o objetivo entregar as primeiras motos "na primavera do próximo ano". E ir crescendo paulatinamente, até chegar a 2029 com uma produção na ordem das "2.000 unidades ao ano" e um acumulado de vendas entre "7.000 e 8.000".

A Europa figura como o mercado, com Joel Sousa a dar conta de que tem encomendas de emigrantes em países como França. E aproveitar esse interesse à boleia da nostalgia pode ser um bom ponto de partida para galgar fronteiras. "O primeiro foco serão estes mercados onde há memória das pessoas, mas também temos pedidos de outros países", complementou.

A produção das motos vai ser feita em Anadia, zona com ampla capacidade industrial instalada, conhecida desde logo por ser o maior produtor de bicicletas da Europa, onde a Famel encontrou um parceiro com 25 anos de experiência, segundo detalhou o mesmo responsável.

Além do facto de ser elétrica, Joel Sousa destacou o "esforço grande" que será feito para "80% dos componentes que incorpora sejam europeus e 50% feitos em Portugal", assim como a vertente de personalização e conetividade, com recurso a inteligência artificial.

"A tecnologia e a sustentabilidade foi o que nos abriu as portas na parte do investimento", realçou.

Pedro Ortigão Correia, sócio da Magnify Capital Partners, gestora do recém-criado Fundo Novus, que investe em empresas em fase de arranque ou de crescimento ou expansão, subscreveu: "Quando este projeto apareceu houve uma reação apaixonada, porque as motos fazem parte da nossa juventude, mas temos de olhar além da lógica emocional e há muito trabalho por trás antes da decisão".

E, nesse sentido, é "crítico" que exista capacidade de a marca se expandir fora de portas, afirmou, pondo ainda a tónica no interesse despertado pela abordagem à sustentabilidade, uma componente que "veio para ficar". "Nós procuramos projetos sustentáveis que apresentam potencial de crescimento", frisou.

O Banco de Fomento entra como parceiro, com 63% do recém-criado Fundo Novus, que atualmente tem sete investimentos contratualizados, de um total esperado de dez, sendo a Famel um deles, explicou Pedro Ortigão Correia, realçando que ter o Banco de Fomento a bordo traz também "mais responsabilidade" e "escrutínio".

As reservas até ao momento são apenas dos modelos equivalentes a 125cc, que têm uma autonomia de 120 quilómetros em circuito citadino, graças a duas baterias amovíveis, estando a Famel a apontar para um preço de 6.500 euros, mas ainda a "ajustar", já que falta fechar a parte da conetividade.

"Estamos a ver se conseguimos manter porque também não podemos esticar muito para mostrar que realmente compensa", frisou Joel Sousa.

Este não é, contudo, a primeira moto elétrica da história da Famel, já que esse título cabe à "scooter" Electron, desenvolvida em parceria com a Efacec, que foi lançada em 1997.

Fundada em 1949, como uma fábrica de aros metálicos, em Águeda, a Famel começou a produzir em 1950.

Sensivelmente uma década depois, inicia uma parceria com a alemã Zundapp para o fornecimento de motores e, em 1975, é lançada a XF-17, que viria a tornar-se a motorizada mais vendida em Portugal, com a procura a perdurar até meados dos anos 1990.

A entrada de Portugal na então Comunidade Económica Europeia, em 1986, aliada à concorrência de marcas internacionais, figuram entre os fatores que colocaram a empresa numa trajetória descendente levando-a a declarar falência em 2002.

Seria preciso esperar por 2014 para se voltar a ouvir falar da Famel com o anúncio de um projeto de revitalização da marca e desenvolvimento de um protótipo. Em 2022, a moto elétrica E-XF é apresentada e, este ano, arranca então para a etapa da fabricação dos dois modelos (a Clássica e a Café Racer).

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