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Dona chinesa põe à venda duas fábricas da Cifial em Portugal

Quase quatro anos depois de ter adquirido à ECS Capital a fabricante de torneiras e cerâmica que foi de Ludgero Marques, antigo presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), a Kinlong anuncia que a Cifial vai "relocalizar todas as suas operações num único polo industrial".

18 de Julho de 2023 às 11:47
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Em 1944, José Marques, filho de um carpinteiro e que não completou a escola primária, adquiriu o CIF – Centro Industrial de Ferragens ao então Banco Borges & Irmão, que tinha ficado com a empresa fundada, 40 anos antes, em Santa Maria da Feira, por Alberto da Costa Reis, conhecido como "o Biscatão", num processo de falência determinado por problemas financeiros registados no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.

Nessa altura, a fábrica produzia fechos, fechaduras, dobradiças, cofres e mais um sem número de artefactos metálicos, utilizando ferramentas rudimentares.

 

O nome "Yale" era sinónimo de segurança quando se falava em fechaduras. A CIF optou então por criar uma associação fonética, que permitisse identificar as fechaduras portuguesas. Assim nasceu o nome Cifial.

 

Sobreviveu a duas guerras mundiais e até ao 25 de abril de 1974, que colocou a fábrica em grandes dificuldades, com a perda das ex-colónias, a diminuição acentuada no mercado doméstico e a instabilidade social.

 

Partiu então em busca de novos e mais exigentes mercados, estabelecendo uma forte relação com os Estados Unidos, tendo nos anos 80 surgido na lista de fornecedores de torneiras da Casa Branca, a residência oficial do presidente norte-americano.

 

Os gloriosos anos 90 da Cifial foram recheados de reforços em diferentes áreas, que se somou à abertura de filiais em vários países.

Foi comprada pela ECS em2012 e passou para mãos chinesas às portas da pandemia

 

Entretanto, em 2008, com a crise do "subprime" no seu principal mercado, a Cifial começa a definhar. A crise torna-se mundial, o setor imobiliário contrai-se e a concorrência chinesa ameaça a continuidade da empresa portuguesa.

 

Em 2009, no ano seguinte à sua saída da liderança da Associação Empresarial de Portugal (AEP), Ludgero Marques, filho de José, cede o cargo de CEO à sua filha, Luísa Marques.

 

Apesar da nova liderança, a Cifial continuou em agonia.

 

A empresa, que chegou a faturar 50 milhões de euros e dar emprego a cerca de mil pessoas, ficou-se em 2011 pelos 13 milhões de euros, quando tinha cerca de 450 trabalhadores nas suas fábricas de Santa Maria da Feira, onde produz torneiras e acessórios de casa-de-banho, e de Santa Comba Dão, onde fabrica louça cerâmica sanitária.

 

No ano seguinte, após um longo período de sufoco financeiro, tendo recorrido ao "layoff" e pago com atraso os salários, a família Marques vendeu 90% do capital do grupo à "private equity" ECS Capital, que viria a vender a Cifial em Outubro de 2019 à chinesa Kinlong Hardware Products.

Cifial despediu 41 dos 300 trabalhadores no início de 2022

 

A 14 de janeiro do ano passado, o grupo sediado na Feira anunciava que iria avançar com "um processo de restruturação industrial da Cifial Indústria Cerâmica S.A., em consequência do exponencial aumento dos custos do gás natural na ordem dos 400%", que "afeta 41 dos 300 colaboradores do grupo".

 

18 de Julho de 2023: "A Cushman & Wakefield, consultora líder global em serviços imobiliários, e a Savills, um dos principais líderes mundiais em consultoria imobiliária, estão, em regime de co-exclusividade, responsáveis pela venda de duas fábricas da Cifial, situadas em Santa Maria da Feira e em Viseu", anunciam as duas consultoras imobiliárias, em comunicado.

No Polo do Bodo, na Feira, a propriedade está implantada num terreno com 58.409 metros quadrados e com uma área de construção de 24.403 metros quadrados, enquanto o polo de Santa Comba Dão está inserido num terreno com 69.190 metros quadrados e com uma área de construção de 17.373.

"Os edifícios incluem espaços para indústria e armazenagem, tendo sido utilizados para a produção e armazenagem de torneiras e louças sanitárias", referem as mesmas imobiliárias.

"Portugal afirma-se como um destino atrativo para indústria"

 

Relativamente à continuidade produtiva da Cifial, "estrategicamente, a empresa irá relocalizar todas as suas operações num único polo industrial, onde está a investir em novos equipamentos, na eficiência de processos e em novos produtos, sem esquecer a redução da sua pegada carbónica, tendo iniciado, a 21 de março, a produção de energia solar através de 1.221 painéis solares", garantem a  Cushman & Wakefield e a Savills.

Em causa está a concentração da atividade da Cifial no polo feirense da Abelheira, sabe o Negócios.  

"É com grande satisfação que anunciamos a promoção das duas propriedades da conceituada Cifial. Com base na nossa vasta experiência de mercado e considerando o aumento da procura por unidades industriais e logísticas no nosso país, acreditamos que este é o momento ideal para abraçar este projeto", afirma Sérgio Nunes, head of industrial & logística da Cushman & Wakefield.

"É com muito agrado que trazemos os ativos da Cifial ao mercado num momento em que a tendência de ‘nearshoring’ é clara e Portugal se afirma como um destino atrativo para indústria", realça, por sua vez, Pedro Figueiras, head of I&L da Savills Portugal.

 

"Assim, ambos os polos em comercialização permitirão às empresas que têm o nosso país no radar, implementar uma unidade produtiva num muito curto espaço de tempo. Por outro lado, as localizações onde estes ativos estão inseridos, têm um ‘heritage’ industrial que oferece aos futuros ocupantes um acesso a mão de obra dotada de um elevado ‘know-how’ e qualificação", considera o mesmo responsável.



(Notícia atualizada às 12:12)

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