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China: Resíduos industriais vão ser banquete para superbactérias

Num laboratório de Hong Kong, investigadores de uma empresa têxtil procuram um ingrediente especial para melhorar o seu processo de produção: bactérias.

Bruno Simão/Negócios
16 de Dezembro de 2017 às 19:00
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A TAL Apparel, com fábricas na China continental e no Sudeste Asiático, juntou-se à City University para tentar identificar bactérias capazes de limpar grandes quantidades de águas residuais com mais eficiência. Esta é uma das centenas de iniciativas de empresas privadas e estatais da China para corrigir um problema, que pode acabar por reescrever o manual da indústria global da moda.

Após décadas de crescimento industrial quase desenfreado que deixou a China com um legado de poluição sem controle, aquíferos menores e água a preços crescentes, o governo está a punir grandes indústrias - e a têxtil está na linha da frente. O fabrico de tecidos ocupa o terceiro lugar na China no que respeita à quantidade de águas residuais produzidas - 3 mil milhões de toneladas por ano -, a seguir aos sectores de químicos e papel, segundo um relatório de 2015 do Natural Resources Defense Council, uma organização sem fins lucrativos com sede em Nova Iorque, que tem um escritório em Pequim.

O preço para garantir o abastecimento sustentável de água na China é mais uma despesa para as fábricas, já pressionadas por maiores custos dos terrenos e da mão-de-obra. E apesar de a automação e a produção internacional proporcionarem algum alívio, as empresas chinesas estão a recorrer a outras tecnologias para salvaguardar margens operacionais que, mesmo para grandes players como a Crystal International Group, podem ser inferiores a 10 por cento.

A TAL, que abriu sua primeira fábrica na China continental em 1994, comprava bactérias a outros laboratórios para tratar a água usada para lavar tecidos. O uso de bactérias em vez de produtos químicos para digerir compostos orgânicos pode reduzir a quantidade de sedimentos residuais gerados até 80% e permitir que 100% da água seja reciclada na fábrica.

Mas, durante a interrupção da produção durante uma semana (para o Ano Novo chinês de 2017), as bactérias usadas no sistema da empresa morreram. Por essa razão, a TAL criou uma equipa de investigação que está a usar sequenciamento de ADN para encontrar uma "superbactéria" mais económica e eficiente, disse o presidente do conselho da TAL, Harry Lee.

Contudo, pesquisar e actualizar tecnologias é caro. Muitos fornecedores, com margens reduzidas, não têm dinheiro para isso. Numa sondagem realizada em Junho e Julho pela China Water Risk, junto de 85 fabricantes de têxteis chineses, mais da metade dos entrevistados afirmaram que investiram pelo menos 2 milhões de yuans (cerca de 256 mil euros à cotação actual) em actualização de fábricas - o equivalente a quase 40 por cento do lucro anual médio de uma pequena empresa têxtil em 2012. Mais de um quarto dos fornecedores afirmou que o esforço tinha aumentado os custos operacionais entre 20 e 40%. Catorze por cento sentiram que podem ficar em risco de fechar.

No laboratório da TAL, os cientistas esperam desenvolver a sua superbactéria dentro de dois anos. Se tiverem sucesso, a TAL partilhará os resultados com outras fabricantes, disse Lee. "Espero que mais fábricas estejam dispostas a usá-la", afirmou, "mas é um processo muito lento".
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